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Diagnóstico de artrite reumatoide pode demorar mais de cinco anos no Brasil

Detecção tardia da doença causa dano na qualidade de vida do paciente, levando à invalidez e até à perda de memória

Rastro101
Com informações do site O Tempo

20/10/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoO diagnóstico e o início do tratamento adequado da artrite reumatoide no Brasil acontecem de forma tardia para mais da metade dos pacientes. Antes de descobrir que possui a doença, uma pessoa pode passar por até quatro médicos e levar, em alguns casos, mais de cinco anos. Os dados são de uma pesquisa realizada pela farmacêutica Janssen publicada nesta terça-feira (19). O levantamento ouviu 144 pessoas entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, sendo que uma em cada seis tinha diagnóstico confirmado da doença. 

O reumatologista da Santa Casa de São Paulo Dawton Torigoe explica que a enfermidade pode se agravar rapidamente, acometendo, além das articulações, órgãos como o cérebro. São doenças que se manifestam principalmente nas articulações, como mãos, pés, joelhos e quadris. Mas ,mais importante que isso, é que existe uma série de comprometimento de outros órgãos. Os pacientes com artrite reumatoide, especialmente aqueles mais graves, evoluem com uma perda cognitiva muito importante. Eles têm um quadro de déficit cognitivo progressivo e extremamente significativo, diz.

O especialista ressalta que a detecção e o tratamento da doença no início dos sintomas é fundamental para dar ao indivíduo uma vida saudável. Um paciente que nos procurar precocemente e for tratado adequadamente poderá ter uma evolução normal como qualquer um de nós, explica. 

A agilidade no diagnóstico e no tratamento encontra barreiras no país, aponta Dawton. Não há tanto reumatologista na rede pública, então a gente imagina que há uma grande quantidade de pacientes que não estejam sendo acompanhados por um reumatologista, e uma quantidade enorme de pacientes não é acompanhada por médico algum. Dawton explica que o acesso ao especialista é fundamental, uma vez que o tratamento é feito com remédios específicos. São utilizados imunossupressores, imunobiológicos. É preciso ter uma expertise na área.

Sintomas. 

Os primeiros sinais da artrite reumatoide surgem em forma de dores, principalmente nas mãos e no punho, o que leva a maior parte das pessoas a procurar o ortopedista ou o pronto-atendimento em um primeiro momento. O ortopedista do hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, Pedro Pires explica que o paciente costuma relacionar a o desconforto a uma pancada ou ao uso repetitivo do membro dolorido. 

Geralmente ela começa pela articulação dos punhos ou das mãos, nos pés também pode acontecer. Grandes articulações como os joelhos podem ser acometidas, mas é mais raro. Normalmente a pessoa trata com antinflamatórios. O que chama a atenção no caso da artrite é que ela não cede a um tratamento comum. Se, com o passar do tempo a inflamação e o inchaço não regredirem é sinal de que pode ser uma coisa mais profunda, explica. 

Além das dores, outros sintomas podem ser observados. Tem uma coisa que se chama rigidez matinal. A pessoa acorda pela manhã e tem a sensação das articulações endurecidas. Com o passar do tempo, a pessoa vai movimentando, e isso vai cedendo um pouco, diz. Para o ortopedista, o tratamento deve ser feito com uma equipe multidisciplinar, envolvendo vários profissionais. 

Diagnóstico. 

O desconhecimento da doença por parte da população e até de parte dos médicos é um fator que contribui para o atraso no diagnóstico, na avaliação da presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia (SMR), Mariana Peixoto. 

Quando este paciente chega ao reumatologista, a doença está instalada, com sequelas muitas vezes, e a gente precisa correr atrás do prejuízo. O ideal é que o diagnóstico seja feito no início da doença. Controlando a doença nesse princípio, ela pode ser controlada, e o tratamento é feito com menos medicamentos em relação àqueles com a doença avançada. 

A reumatologista ressalta que a conclusão do diagnóstico no caso das doenças reumáticas é complexo e depende de vários exames, além de uma análise clínica. 
A gente precisa de um exame físico bem feito. Não é um único sintoma ou um a única artrite. Isso aliado a uma composição de exames laboratorias e de imagem. Não é um único exame laboratorial que fecha o diagnóstico de doença, diz Mariana. 

A presidente da SMR entende que devem ser feitas ações de divulgação sobre a gravidade da doença para que a população procure um especialista de maneira mais precoce. É claro que em cidades menores, a oferta de reumatologistas é reduzida, mas em cidades de grande e médio porte existe uma quantidade bem tranquila desses especialistas. Então, nós estamos trabalhando na divulgação dessas informações para a população e a comunidade médica. 

Após oito anos de consultas e tratamentos que não solucionaram suas dores, a técnica em enfermagem Dulce Amorim, 54, de São Paulo, foi diagnosticada com a doença em 2011. O médico falava que era fibromialgia, nervosismo, mas nunca artrite, mesmo eu falando que minha mãe tinha artrite reumatoide. Em 2011, a Dra. Marcela da Unimed de Ribeirão Preto, fechou o diagnóstico de reumatoide com exames, diz. 

A perda do convênio e a pandemia de Covid-19 atrapalharam o tratamento da doença, e agora ela encontra dificuldade para se consultar com um reumatologista. Não tinha como ficar fazendo exames e consultas. Agora as dores voltaram muito fortes. Está começando a dar deformidade nos dedos das mãos. Agora tento novamente a consulta com o reumato, mas ultimamente estou sem tratamento. 

Números. 

Segundo o site BlogAR, dedicado à informações sobre a artrite reumatoide, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,5% da população de cada país tenha a doença. Um levantamento feito pelo blog com base em dados do Ministério da Saúde (MS) revela que no Brasil 2 milhões de pessoas convivam com a enfermidade. 
A pesquisa realizada pela Janssen mostra que 92% dos pacientes são mulheres e 50% tinham entre 31 a 49 anos. Desses, 54% dos pacientes passaram em até quatro médicos antes de chegar ao reumatologista.
 

ARTRITE REUMATOIDE NO BRASIL

PERFIL DOS PACIENTES

19 a 30 ANOS - 12%

31 a 49 anos - 50%

50 a 65 anos - 38%

Homens: 8%

Mulheres: 82%

54% passaram por quatro médicos antes do diagnóstico

PREVALÊNCIA DE SINTOMAS ENTRE PACIENTES

Dores no corpo - 63%

Dor/inchaço na articulação das mãos - 50%

Dor/inchaço na articulação dos pés - 33%

Febre - 21%

Fraqueza e cansaço - 13%

Enrijecimento muscular - 13%

Anemia - 8%

Rigidez matinal - 8%

Manchas e erupções na pele - 4%

Dor e vermelhidão nos olhos - 4%

Inchaço/inflamação no corpo - 25%

CONSEQUÊNCIAS NA VIDA DOS PACIENTES

Dificuldade de locomoção - 75%

Perda de autonomia no dia a dia - 50%

Parou de sair de casa - 38%

Parou de praticar atividade física - 29%

Impacto no trabalho - 29%

Parou de trabalhar - 21%

Depressão ou outro dano psicológico - 13%

FATORES DE RISCO

Obesidade

Tabagismo

Hereditariedade

Fonte: Janssen / Dr. Dawton Torigoe, reumatologista da Santa Casa de São Paulo

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