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Caso Ana Caroline: vídeo mostra jovem lésbica momentos antes de ser assassinada

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

19/01/2024 por Redação

Vítima havia se mudado para Maranhãozinho (MA) para morar com namorada e foi morta pouco depois. Pele do rosto, olhos e couro cabeludo foram arrancados. Crime gerou revolta e reação do movimento lésbico. Ministra da Mulher fala em lesbofobia. Ninguém foi preso. Vídeo mostra jovem lésbica antes de ser assassinada
Imagens de câmera de segurança obtidas pelo g1 registraram os momentos anteriores à morte de Ana Caroline Sousa Campêlo, de 21 anos, na cidade de Maranhãozinho, a 232 km da capital São Luís (veja acima).
Assassinada em 10 de dezembro logo após sair do trabalho, a jovem lésbica teve a pele do rosto, o couro cabeludo, os olhos e as orelhas arrancados. Ela havia se mudado para a cidade havia poucos meses, para morar com a namorada.
A morte causou protestos de ativistas – com atos em diversas cidades do país – e reação da ministra da Mulher, Cida Gonçalves, que classificou a morte como lesbofobia e crime de ódio contra as mulheres (leia mais abaixo).
A polícia do Maranhão diz ainda não ter como indicar a motivação.
Não existe suspeito identificado. Sem suspeito não há possibilidade de indicar motivação, declarou Lúcio Reis, delegado-geral adjunto operacional do Maranhão, em 17 de dezembro.
Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso.
Vídeo mostra homem semelhante a descrito por testemunha
Uma vizinha de Ana Caroline contou à polícia que, pouco antes de desaparecer, viu a jovem com um homem de camiseta branca em uma moto.
A testemunha disse ter visto quando esse homem colocou Ana Caroline no veículo e partiu em direção a uma estrada vicinal que dá acesso ao povoado Cachimbós – onde o corpo foi posteriormente encontrado.
O vídeo obtido pelo g1 mostra quando Ana Caroline passa de bicicleta pela Rua Nova Um, via que dá acesso à estrada para Cachimbós. Ao terminar a rua, a jovem lésbica vira à direita. O relógio registra 1h59 da madrugada.
Segundos depois, surge na gravação um homem de camiseta branca em uma moto e faz o mesmo trajeto do que a jovem lésbica.
O corpo de Ana Caroline foi encontrado por familiares próximo à Rua Getúlio Vargas, a cerca de 300 metros da rua onde ela teria virado com sua bicicleta. Os parentes encontraram primeiro sua bicicleta antes de achar seu corpo.
O g1 questionou a Secretaria de Segurança Pública sobre o vídeo. Em nota, a pasta disse que trabalha para elucidar o caso.
Corpo foi exumado
Na terça-feira (16), a Perícia Oficial do Maranhão exumou o corpo de Ana Caroline, após decisão da Justiça. Autora do pedido, a Polícia Civil alegou que o corpo foi enterrado sem nenhum exame criminalístico.
O corpo da jovem lésbica estava enterrado em Centro do Guilherme (MA), cidade natal da vítima e, com a decisão, os restos mortais foram levados para perícia em São Luís.
Ana Caroline Sousa Campêlo, de 21 anos, foi encontrada morta com requintes de crueldade no Maranhão
Arquivo pessoal/Polícia Civil
Protestos e debate sobre lesbofobia e lesbocídio
Os protestos em razão da morte de Ana Caroline ocorreram em 10 de janeiro. Nos atos, as manifestantes cobraram respostas da Polícia Civil do Maranhão e mudanças legislativas que protejam lésbicas. Um dos questionamentos ligados à apuração do assassinato é se foi feita perícia na bolsa de Ana Caroline, supostamente usada para enforcá-la.
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Entre as ações previstas está a ampliação da Lei Luana Barbosa, aprovada em Niterói (RJ), e que define 13 de abril como dia de enfrentamento ao lesbocídio. A data remete à morte de Luana Barbosa, mulher lésbica e negra em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, em 2016.
No Instagram, a página Levante Contra o Lesbocídio (veja acima) articula as cobranças pela solução do homicídio, imagens das manifestações e debate o uso do termo lesbocídio como uma forma de tipificação dentro do feminicídio.
O Levante Nacional Contra o Lesbocídio é uma resposta das lésbicas em defesa das nossas próprias vidas e da nossa memória. Estão tirando nosso direito de viver e de contar nossas histórias depois que tiram nossas vidas de nós. O que aconteceu com Ana Caroline? Nós queremos saber e não aceitaremos caladas, afirma Natalia Kleinsorgen, integrante do Levante Nacional Contra o Lesbocídio.
Uma das ações é a articulação política para a ampliar o dia Dia Nacional de Enfrentamento ao Lesbocídio no Brasil, comemorado em 14 de abril e aprovado em alguns municípios – como Niterói (RJ) – sob o nome Lei Luana Barbosa.
O texto homenageia Luana Barbosa dos Reis, mulher negra e lésbica morta após ser abordada por policiais militares de São Paulo em 2016 na cidade de Ribeirão Preto, interior do estado. A Justiça condenou o estado de SP a a pagar indenização ao filho e à mãe de Luana.
Pesquisa mapeia crimes com indício de lesbocídio
As pesquisadoras Suane Felippe Soares, Milena Cristina Carneiro Peres e a professora doutora Maria Clara Marques Dias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fizeram um estudo para mapear crimes com potencial de serem enquadrados como lesbocídio.
Divulgado em 2018, o material coletou informações por redes sociais, sites, jornais e outros meios de comunicação de crimes com sobre os casos que ocorreram entre os anos de 2014 e 2017.
Percentual de lésbicas mortas em 2017 por método de execução
Dossiê Lesbocídio/Reprodução
Segundo o levantamento, o número de mortes subiu de 16 mortes em 2014 para 54 em 2017, aumento de 237%. Entre os métodos de execução, armas de fogo lideram, com 55% dos casos, seguido de faca, com 23% (veja acima).
Isso é uma pena de morte aceita no Brasil e não estamos prestando atenção nisso. É como se lésbicas não morressem o tempo todo por serem lésbicas. Vemos trans, vemos mulheres num geral, mas não vemos dados de lésbicas e essa dupla vulnerabilidade: feminicídio e lesbocídio, afirma Beatriz Santos, psicóloga comportamental focada em atendimento para mulheres lésbicas e ativista do movimento lésbico.
*Colaboraram: Rafael Cardoso, Rafaelle Fróes e Liliane Cutrim

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