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Espécie de papa-lagarta é registrada pela 2º vez no Brasil

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

08/11/2023 por Redação

Observada em área de preservação em Campo Grande (RJ), ave é migratória e provavelmente se perdeu durante a rota. Primeiro registro da espécie feito no país foi no estado do Acre, em 1992. Indivíduo jovem de papa-lagarta-de-bico-preto é registrado pela 2º vez no país
Guilherme Serpa
Há 17 anos, Guilherme Serpa se dedica a uma grande paixão: observar aves livres na natureza. O que poderia ser apenas um hobby ou estilo de vida é também a profissão dele.
Ornitólogo de carreira, ele divide a rotina de trabalho como biólogo especializado em aves, atuando na área da consultoria ambiental e também como guia de birdwatching. Mas mesmo quando não está em horário de trabalho, os olhos estão sempre voltados para o alto, a procura de espécies da avifauna.
No último final de semana, durante uma saída para observação de aves na ARIE da Floresta da Posse, em Campo Grande (RJ), Serpa viveu um dos dias mais emocionantes até hoje. Ele observou e registrou o papa-lagarta-de-bico-preto, espécie incomum em nosso território. Esse encontro inesperado surgiu quase no fim do passeio.
“Eu já estava fazendo o caminho de volta com outros dois participantes quando vi uma ave que lembrava o formato do saci (Tapera naevia) voar de uma árvore, do outro lado da rua, para beira da mata. Ela ficou pousada alguns instantes atrás dos galhos, permitindo só alguns cliques”, comenta.
Em um primeiro momento, ele não imaginava que se tratava dessa ave. Depois, ao pesquisar e compartilhar o registro com os amigos, eles concluíram que o indivíduo observado era de fato um jovem de papa-lagarta-de-bico-preto (Coccyzus erythropthalmus), e aquele seria o segundo registro fotográfico dessa ave no Brasil, sendo o primeiro feito em 1992 no Acre.
“Eu pensei que seria um dos outros dois papa-lagartas semelhantes que já tem ocorrência no Rio de Janeiro: o de papa-lagarta-de-asa-vermelha (Coccyzus americanos) ou papa-lagarta-de-euler (Coccyzus eulerii). Só cheguei à conclusão dessa identificação analisando fotos e guias de identificação, ao chegar em casa, no computador e pedindo ajuda a alguns colegas”, lembra Serpa.
Junto com fotos do suiriri-valente (Tyrannus tyrannus) e mergulhão-grande (Podicephorus major), essa vai ficar guardada com carinho no acervo pessoal dos primeiros registros que ele garantiu para o estado do Rio de Janeiro.
Papa-lagarta-de-bico-preto
O papa-lagarta-de-bico-preto pertence à família Cuculidae, a mesma de espécies como alma-de-gato, saci, anu-branco e peixe-frito, por exemplo. Assim como outros representantes desse grupo, essa ave se alimenta de lagartas e taturanas. Geralmente aparecem em bordas de mata e florestas secundárias.
A espécie originária da América do Norte é migrante, porém não tem o Brasil como rota da jornada que realiza. Há ocorrência da espécie em países como Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Paraguai. O primeiro registro feito em nosso território, na região amazônica, provavelmente se referia a um indivíduo que se perdeu nessa viagem. E o mesmo deve ter ocorrido com o jovem avistado no RJ.
Papa-lagarta-de-bico-preto é comum na América do Norte
Matthew Thompson / iNaturalist
“Esse papa-lagarta deve ter se perdido ou extrapolado a rota migratória tradicional dessa espécie na América do Sul, que é pelo oeste do continente. Eu nunca cogitei encontrá-lo por aqui, pois era praticamente desconhecido pra mim. Esse é, com certeza, um exemplo de que sempre vale a pena ir a campo e ficar atento às novidades que a natureza proporciona”, acrescenta o ornitólogo.
Guilherme classifica o registro como um dos mais importantes que já fez na vida. Além de ser um feito pessoal, acredita que a conquista é conjunta e serve para agregar valor a área em que ele foi feito.
“A sensação é muito boa, não só pela importância do registro para a ornitologia do Brasil e do Rio de Janeiro, mas também para atrair a atenção para o movimento de preservação da Floresta da Posse. Essa foi à segunda vez que visitei esse espaço”, finaliza.
O registro feito pelo Guilherme foi o único naquela ocasião. Posteriormente, o fundador e diretor da ONG Instituto Nosso Bosque - que administra a Floresta da Posse - Thiago Silva Neves afirma que o encontro foi de extrema importância para a região.
A descoberta de uma espécie até então desconhecida em nossa região representa uma vitória e só vem para reforçar o compromisso inabalável com a preservação deste espaço que amamos. Há poucos anos, essa área era dominada por capim-colonião, e muitos duvidavam de sua capacidade de se transformar em um refúgio para a vida silvestre, comenta Thiago.
A identificação do papa-lagarta-de-bico-preto destaca o acerto da criação da unidade de conservação e ressalta a necessidade imediata da adoção de novos mecanismos de proteção, completa.
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