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Com 273 kg, morador de Franca, SP, aguarda por cirurgia bariátrica há 10 anos

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

22/04/2023 por Redação

Apesar de Índice de Massa Corpórea de Raphael Nóbrega indicar obesidade mórbida, pedidos são negados, pois, segundo ele, resultados dos exames não indicam comorbidades. Raphael Nóbrega, de Franca (SP), espera há 10 anos por cirurgia bariátrica
Reprodução/EPTV
Há, pelo menos, dez anos, o microempreendedor Raphael Nóbrega Nilo Luciano de Oliveira, de 40 anos, de Franca (SP), tenta entrar na fila para realização de uma cirurgia bariátrica no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo ele, os pedidos são negados, pois os resultados dos exames não indicam comorbidades. Oliveira pesa 273 kg e tem 1,80m de altura.
Nunca consegui fazer. Sempre tentei. Faço todos os exames e o que acontece? Não dá nenhum problema, a minha pressão é 13/8. Não dá nenhuma comorbidade. O médico diz que eu sou um gordo saudável.
Pelo cálculo de Índice de Massa Corpórea (IMC), Oliveira tem 84.3, que já é considerado Obesidade Grau III ou Mórbida.
Das 24 horas que tem um dia, 20 o microempreendedor passa deitado ou sentado. Ele conta que não consegue ficar em pé por mais de dez minutos e precisa de ajuda para as atividades mais básicas do dia.
São 20 horas na cama. Andar, eu ando. Mas machuca muito, judia muito. Como trabalho com churrasco [ele é dono de um buffet de eventos], faço sentado e levo minha mãe e meu irmão para me ajudar, um pica e o outro serve. É a única forma que ainda saio de casa.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), são passíveis de tratamento cirúrgico da obesidade pessoas com mais de 18 anos que tenham passado por tratamento clínico por, pelo menos, dois anos e que tenham IMC superior a 40 kg/m2, independentemente de comorbidades, ou superior a 35 kg/m2 com comorbidades (diabetes, hipertensão e apneia do sono, por exemplo).
Atualmente, 116 pessoas aguardam no HC de Ribeirão para passar pelo procedimento, segundo Wilson Salgado Junior, coordenador do Centro de Cirurgia Bariátrica do hospital.
Se a gente imaginar 116 pessoas, conseguimos operar, em média, dois pacientes por semana, dá para entender que é uma fila razoavelmente grande de pacientes que estão dentro do hospital. Isso sem a gente imaginar que existem pacientes de fora, querendo entrar no serviço.
Este é o caso de Oliveira. Por não conseguir aprovação da cirurgia pelos exames, ele sequer está na lista.
Já fiz três processos. Cada vez que é montado, faço [os exames] aqui [em Franca] aí chega na hora de ir para Ribeirão, eles não aceitam meu encaminhamento por não dar nenhuma comodidade. Dão por encerrado e minha ficha sai do cadastro. Tem ficha de 2013, 2016 e 2018, mas, no sistema, não existe nada, diz.
Salgado explica, no entanto, que estar na fila do HC, não necessariamente indica que o paciente vai operar.
Eventualmente, um ou outro pode ter alguma contraindicação, uma avaliação que é feita interna, uma avaliação multiprofissional, e pode ou postergar a cirurgia ou contraindicar.
Segundo o médico, ainda existem casos de pacientes que optam por não fazer a cirurgia.
Existem pacientes que desistem do procedimento a hora que entendem a cirurgia. Muitos não sabem o que é a cirurgia bariátrica, o grau de complicação que pode ter, as dificuldades que a pessoa vai enfrentar ao longo da vida, e é muito importante essa conscientização.
O g1 entrou em contato com o HC, que respondeu por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), que não constam pendências de caráter estadual para o paciente.
Sonho sentar no chão e brincar com minhas filhas
Oliveira sabe das complicações da cirurgia, mas, ainda assim, se diz disposto a fazê-la se tiver a possibilidade e sonha com o dia que poderá sentar no chão para brincar com as filhas, de 13 e 10 anos. Ele também tem um filho de 22.
Conseguindo [a cirurgia], a minha primeira vontade é de sentar no chão, pegar minhas meninas e por no colo. Eu não consigo fazer isso. Se eu sento no chão, não levanto.
Ele também revela que sofre por não conseguir seguir com o procedimento e, inclusive, tem enfrentado uma batalha interna por conta da depressão.
As pessoas acham que é falta de vergonha na cara da gente e não é. Eu brigo com a comida como um drogado briga para não usar droga, mas eu como minhas emoções. Se eu estou bem, vou comemorar e quero comer. Se eu estou triste, quero me afogar na comida.
Dificuldade de locomoção e ajuda da mãe
Há duas semanas, Oliveira parou de dirigir por não conseguir mais entrar no carro. Além de precisar que alguém dirija para ele, para que possa se deslocar de um lado para o outro por causa dos eventos do buffet, ele também conta com o apoio da mãe, de 73 anos, para banhos e refeições.
Virei um bebezão. Acordo e fico na cama, minha mãe traz minhas refeições. Tem dia que fico o dia inteiro, não saio pra nada. Minha mãe, por exemplo, me dá banho no leito. Entrei em uma depressão profunda há quatro anos, quando me separei, e meu peso aumentou em 40 kg. Agora tem uns três meses que eu tenho melhorado, mas é difícil.
Além de lidar com as próprias emoções, Oliveira também lida com o julgamento das pessoas na rua e nos eventos que participa.
Quando chego, parece que chegou o espetáculo. O pessoal fica impressionado com o meu tamanho e eu fico chateado, porque fica todo mundo olhando. Já pedi ajuda de médicos que queiram fazer tratamento, qualquer coisa. Porque meu estado de desespero é fora do normal.
O que diz a Secretaria Estadual de Saúde
Em nota, a SES informou que a cirurgia bariátrica é realizada somente mediante indicação médica e nem todos com indicação médica estão, efetivamente, aptos a fazer o procedimento imediatamente, por questões de quadro clínico geral não favorável.
Há um período comprobatório, no qual o quadro do paciente é analisado para verificar se o procedimento em si é o mais indicado para o paciente. A cirurgia bariátrica é o último recurso utilizado no tratamento, que inclui um suporte ambulatorial e multiprofissional (cardiologistas, nutricionistas, endocrinologistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros).
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