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Elogiado por Caetano Veloso, Thiago Amud canta o Brasil de 2021 no disco 'São'

Cantor e compositor carioca radicado em BH reuniu oito faixas em álbum que proclama a alegria e a esperança sem alienação

Rastro101
Com informações do site O Tempo

18/11/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoCarioca radicado em Belo Horizonte, o cantor, compositor e violonista Thiago Amud, 41, diz que entre 2018, ano do lançamento de seu terceiro disco, “O Cinema Que O Sol Não Apaga”, e o fim de 2021, quando o novíssimo “São” (gravadora Rocinante) chega às plataformas digitais, “uma vertiginosa sucessão de acontecimentos transformou o Brasil, e não só o Brasil”. O músico, cujas primeiras composições surgiram quando ele tinha 15 anos, diz que seu trabalho “em grande medida intuía, desde a década passada, que algo dessa monta estava para acontecer. Creio que respondo ao trauma de modo sereno, porém enérgico, com ‘São’”, acrescenta o músico, que já trabalhou com grandes nomes da MPB, como Guinga e Francis Hime, e assinou os arranjos para orquestra de “Meu Coco”, faixa-título do mais recente disco de Caetano Veloso.

Thiago Amud diz que acompanhou atento e perturbado, nos últimos 20 anos, a instalação do fascismo no país. Essa intuição presente em seus discos anteriores - “Sacradança (2010), “De Ponta a Ponta Tudo É Praia-Palma” (2013) e já citado “O Cinema Que o Sol Não Apaga” (2018) - se deu, conta Amud, de formas meio obscuras. Ele se refere a “cargas simbólicas presentes em uma certa poética do delírio, que como todo delírio foi capturando sinais que a razão nem sempre captura”.  De 2018 pra cá, o músico percebeu uma mudança importante: o que antes era vertigem ganhou forma e foi encarnada por personagens reais, “que chegaram a ser os donos da cena política”.

O ótimo samba “E a galera ria”, lançado como single e que parece ter saído de um delicioso encontro de Amud com João Bosco e os Novos Baianos, denuncia, com extrema inteligência, sagacidade e ironia, a escalada do que o artista chama de neofascismo brasileiro. “Você tava todo o dia aí/ Meio camuflado pelo bando/ E quando um índio foi calcinado/ E arrasaram Eldorado/ Seu bando andou zombando/ Você foi metabolizando/ O chiste, a covardia/ E a galera ria”, diz a letra.



“Nesse disco agora eu já estava me sentindo capaz de apontar para outros futuros, o fantasma já tinha se encarnado, revelou-se não como um mero fantasma. Agora temos que lidar com o real, então a poética, a sonoridade já vem solta, desimpedida e, inclusive, pode tocar nessa ferida de uma forma mais lúdica”, observa o compositor.

Levante de força e esperança

“São” foi lançado na última sexta-feira (12), reúne oito faixas e ganhará versão em vinil em breve. Boa parte do álbum foi gravada ao vivo em estúdio. Além de Amud, Elísio Freitas (guitarra, viola e a produção de cinco faixas), Vovô Bebê (baixo), Lourenço Vasconcellos (bateria), Luizinho do Jeje (percussão) e Marlon Sette (produção de duas faixas e trombone) participaram da concepção de “São”. Os percussionistas Pretinho da Serrinha, Quininho, Nene Brown e Neném da Cuíca, o violonista Carlinhos 7 Cordas e o cavaquinista Marcio Vanderlei também participam do disco.

O registro ao vivo da maioria das canções dá ao álbum um cara de alegria, comenta Thiago Amud. Fazer música com amigos em tempo real após meses e meses de isolamento foi revigorante. “Acho que o disco tem esse calor que é próprio da linguagem do ao vivo. Montei essa banda e fizemos alguns shows antes de acontecer a pandemia. Estávamos na cara do gol e, de repente, veio o impedimento”, pontua.

As oito faixas foram compostas por Amud, que também escreveu os arranjos e dirigiu as gravações. Com “Graça”, faixa que abre o álbum, Thiago Amud quer dizer que “a canção não vai morrer”. O músico deixa claro: em “São” a angústia e o lamento não têm vez no lugar da melancolia paralisante há alegria, esperança e um chamado coletivo para aquilo que se pretende recomeçar. “Chega de Retranca” e “Levante Sul” são, para o cantor, “conclamações a uma radical transformação geopolítica, social, mental e espiritual”.



“História da Revolução Caraíba” encerra “São” com um samba enredo utópico e lúdico que aponta para essa transformação na “terceira década do século XXI”. O Carnaval da justiça de índios e índias celebra o fim de madeireiros ilegais, mineradores e barões monocultores. “E quando entraram nas cidades/ Cometeram as mais belas barbaridades/ Sopraram mil zarabatanas/ Nas passeatas insanas/ Tragicomédia da classe média/ Pedindo golpe, intervenção/ Pois então, os índios intervieram/ E sentaram o tacape no seu capitão”, canta Thiago Amud em um trecho da canção, que sentencia, com braço e autoridade: “Tá pra nascer capitão que proíba/A história da Revolução Caraíba”.

Elogios de Caetano Veloso e reverências à Guinga

Thiago Amud escreveu os arranjos de “Meu Coco”, álbum de Caetano Veloso lançado em outubro. Quando “São” chegou às plataformas digitais na últimas sexta (12), Caetano foi ao Twitter recomendar: “Thiago é um poço de belezas musicais e poéticas. Não dá mais pra não ouvir o que ele faz”. Esse foi só mais uma referência de Caetano à obra de Amud. O baiano já citou o carioca outras vezes nos últimos anos, inclusive para veículos da imprensa internacional.

O compositor admite que não esperava que Caetano fosse percebê-lo. “Mas ele me viu no meio de tantos artistas e se deteve em mim, não foi só essa citação. Para mim, é muito significativo porque confirma a pertinência da radicalidade de algumas coisas que eu me propus a fazer. O Caetano contribui para que eu veja que talvez esses delírios tenham vez não como meros delírios subjetivos”, ele ressalta.

Thiago Amud, já no fim da entrevista, não deixa de declarar admiração e gratidão àquele que ele considera um dos maiores gênios da música popular brasileira: o compositor e violonista Guinga: “Ele é um grande amigo e um gênio absoluto da música. Muito do que eu conquistei em termos artísticos se deve ao Guinga reconhecer meu trabalho”.

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