Divulgação/O TempoEra para ser um dia que ficaria na memória como aquele no qual Gerson Marques adentrou um estúdio para gravar seu primeiro autoral. No entanto, o 7 de janeiro deste 2021 acabou marcando a partida do avô do artista, um entre os milhares de brasileiros vítimas do novo coronavírus. Ele tinha insuficiência cardíaca e precisou ir para o hospital, onde acabou pegando a Covid-19 e de lá não voltou mais. Foi uma dor imensa, chorei incessantemente por dias, relembra ele, que recentemente mostrou sua faceta ator na minissérie Hit Parade (Globoplay), quando deu vida a Terry Holliday (um jovem que, numa investida de marketing de uma gravadora, se passava por um astro americano, cantando, em programas de auditório, Summer Holliday, sucesso no Brasil e na América Latina início dos anos 70 na voz de Terry Winter - por sua vez, brasileiro que se tornou famoso ao compor e cantar em inglês). 
Em meio ao luto, Gerson Marques resolveu ressignificar uma das composições do repertório. Compus a canção Coisa e Tal para que meu avô ouvisse em vida, mas, após a perda, toda poesia dela ganhou novos significados, então, quis homenageá-lo por tudo que foi e sempre será em mim. Como forma de segurar a mão de todas as pessoas que passaram pelo mesmo que eu, decidi dedicar a canção e homenagear os mais de 600 mil brasileiros que também se foram com a pandemia, conta ele. 
Gerson conta que o avô foi a sua principal inspiração no caminho da arte e da música. Ele era pedreiro, mas tocava sanfona, violão e cavaco. Seu instrumento favorito era a sanfona e desde criança ele me instigou a aprender música. Passávamos muito tempo juntos, plantando na roça, trabalhando em construções e, depois que eu cresci, a gente se reunia para tocar juntos sempre que dava. Com ele aprendi sobre o valor do trabalho, do alimento, da família, da simplicidade e, acima de tudo, sobre a coragem para viver superando as dificuldades. Ele era fã de Mazzaropi, que deixou um grande legado no cinema, onde também cantava.
Além da música, Coisa e Tal também ganhou um vídeo. Quando eu pensei em fazer um filme para a canção, a primeira coisa que me veio à mente foi contar uma história de amor, verdadeira, a minha própria história de vida. Junto com o diretor da Stories- Storytelling Audiovisual, Eric Andrada, criamos um roteiro que pudesse mostrar elementos de uma vida inteira de convivência, o afeto entre avô e neto na simplicidade do viver com a natureza, a fé através da Igreja, o carinho por meio da partilha do alimento e da flor, o abraço, a companhia e, principalmente, a herança musical deixada, representada na sanfona. 
A produção, frisa ele, foi totalmente independente. Gerson acompanhou de perto todo o processo: escolha dos atores, local de filmagem e figurino. Sem dúvida, a escolha da Serra dos Alves, distrito de Itabira com  pouco mais de 100 habitantes, com as belezas naturais tão ricas da Serra,  das cachoeiras  e mirantes, a simplicidade das casinhas coloridas, a Igrejinha central, tornaram o clipe ainda mais simbólico e especial, entende ele, acrescentando que cada cena foi pensada para exalar a essência dessa história de amor. 
A primeira imagem que veio à cabeça foi a de que a gravação deveria ser em uma casa simples, que lembrasse casa de vó. Fizemos uma pesquisa detalhada em busca desse cenário e fui apresentado, por amigos, à Casinha Sempre Viva. Eu e o Eric ficamos encantados com as possibilidades de cenários que a região oferecia. Sobre os elementos escolhidos, temos o lírio amarelo, que representa a transformação de uma amizade em amor eterno o rio que passa, simbolizando a efemeridade da vida, e outros elementos que mostram a importância de viver o presente - uma vez que de uma hora para a outra podemos ser arrancados desse mundo sem ao menos a oportunidade da despedida. Ao final do filme, coloco o nome de um monte de gente que fez parte desse trabalho e vem torcendo por mim nessa caminhada pelo universo da arte e da música para dizer que não estou só. E ainda coloco uma lembrança real de meus avós na sala de casa, fazendo uma canção juntos.
Sobre a pandemia de um modo geral, ele sublinha o fato de a sua dor - pela perda de um ente querido - não ser solitária. Outras centenas de pessoas choraram e estão lembrando de seus entes queridos neste momento. A pandemia me fez perder meu avô, quase perder minha mãe e me trouxe uma vontade enorme de viver, viver o presente, o agora, de estar com as pessoas, lutar pelos meus sonhos, ser ainda mais humano, sentindo a dor do outro como se fosse a minha e, principalmente, dar prioridade às relações humanas. Com essa canção, homenageio a vida dos que se foram e a dos que ficaram, para que possamos, juntos, florir de cores as nossas almas e levar as boas lembranças, afetos, carinho e fé.
Momento especial e desafiador
Gerson Marques conta que trabalhar na série Hit Parade foi algo ao mesmo tempo especial e desafiador. Apesar de atuar desde 2013 no teatro, esse foi meu primeiro papel numa série de TV.  Posso dizer que essa experiência foi uma completa novidade para mim, mesmo passeando entre os campos das artes às quais que me dedico (teatro, dança, cinema, poesia e música). Interpretar Terry Holiday foi muito divertido e me encheu os olhos, por me sentir sendo parte do time que contou um pouco  da história da música brasileira. Me identifiquei com o personagem desde o primeiro momento em que fui apresentado - embora nossas semelhanças sejam apenas o fato de sermos músicos, diverte-se. 
Já a versão de Geraldo - o personagem real, que encarna, a pedido da gravadora, Terry -, Gerson define como um sujeito muito simples, tímido e arredio, que passa de uma vida mediana sem muitas ambições, no sítio do seu tio. Não por outro motivo, o ator se apropriou mais facilmente desse personagem, pela identificação com a sua origem. A preparação para a personagem foi primordial para que eu pudesse interpretar de forma fidedigna e atendendo as expectativas do diretor Marcelo Caetano. Lembro que a cena  mais divertida de gravar foi a que o Geraldo, disfarçado de Terry, se despede do público com um inglês bem raso, ao lado da personagem Lídia, interpretada por Babi (Bárbara) Colen. Tive também que dublar as cenas em que Terry se apresenta nos palcos e, como adoro cantar, considero esse o maior desafio proporcionado pelo personagem. 
Além do trabalho em si, Gerson Marques diz que a cereja do bolo foi a experiência do camarim, onde conviveu com  os tantos profissionais responsáveis pela série (da costureira e o motorista até os atores, diretores etc ). Todas essas experiências sem dúvida ficarão marcadas em minha memória.
Atualmente, Gerson Marques vem trabalhando, como dito, neste seu primeiro álbum, que vai se chamar Rio de Mim. Autoral, terá oito músicas, que serão mostradas para o público uma a uma, até o lançamento completo. Cada música terá um filme e uma capa especial. Juntamente com o diretor de ate e pós-produção Rafa Tobes, estamos criando capas para cada canção, com fotografias conceituais, que mostram a essência de cada música. Para os filmes da música, estou criando, juntamente com Eric, uma sequência que irá contar histórias que se conectam entre si e que dialogam com a temática da música. Já gravamos, além de Coisa e Tal, dois filmes das próximas músicas a serem lançadas, e todas possuem temáticas que, acredio, vão provocar reflexões a quem as assistir. Um show de pré-lançamento está agendado para maio do próximo ano, no Teatro Feluma, enquanto o de lançamento, em novembro, no Palácio das Artes. Enquanto isso, estou trabalhando nos filmes, que são um processo independente e que demanda muito trabalho, tempo e dedicação, finaliza.
Em tempo: Gerson Marques é formado pela UFMG e autodidata em diversos instrumentos, tendo tocado violão pela primeira vez aos 5 anos. Foi protagonista do curta-metragem “Teoria sobre um Planeta Estranho dirigido por Marco Antônio Pereira e contemplado com dois Kikitos no 47º Festival de Cinema de Gramado (2019). Atuou também em teatros musicais em Belo Horizonte como “Samba, Amor e Malandragem” (dirigido por Kalluh Araújo e Pedro Paulo Cava), “Certos Rapazes” (direção de Maurício Canguçu) e “Concerto para Bebês Brasil” (direção de Cássio Pinheiro).