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O fim da ala econômica

Fragilizado, Paulo Guedes aceita tornar-se um político bolsonarista para permanecer no cargo

Rastro101
Com informações do site O Tempo

22/10/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoÉ comum que alas econômicas e políticas façam embates duros durante a vigência de um mandato. Assim aconteceu em todos os governos eleitos democraticamente no país, sem exceção. E, normalmente, quando a ala política vence a batalha, a credibilidade da economia desanda. Assim se deu agora no governo Jair Bolsonaro. De duas alas, podemos dizer que temos agora apenas uma, hegemônica. A debandada na equipe de Paulo Guedes não deixa dúvidas de quem venceu a guerra. O ministro ficou, mas por ter se entregado a essa ala. Guedes virou, também, um político bolsonarista.

Não é de hoje que o ministro da Economia sofre derrotas dentro de um governo que fingiu ser liberal mas nunca foi de fato. Guedes perdeu o comando da área de emprego para abrir espaço para o centrão, não conseguiu avançar nos processos de privatização, não tem nenhum apoio do presidente na pauta da reforma administrativa, viu a reforma do Imposto de Renda ser deformada e praticamente morrer no Senado, não conseguiu incluir os Estados na reforma da Previdência, nem fazer a capitalização dela, nem levar adiante a carteira verde amarela. Mais do que isso, perdeu o controle de boa parte do Orçamento por meio das emendas de relator, que deram ao Congresso um controle gigante sobre as verbas. Quase tudo que tentou foi barrado ou pelo próprio Jair Bolsonaro ou pelo Legislativo. Sobrou só a reforma da Previdência, totalmente gestada no governo de Michel |Temer e a Lei da Liberdade Econômica, que é mais uma linha geral de atuação e que demandaria outras legislações para que ficasse com a cara do que ele sonhava.

Em tempos mais recentes, com a revelação de que pode ganhar dinheiro toda vez que sua política econômica fracassa, já que mantém ativos em dólar no exterior, Guedes viu seu prestígio no governo cair ainda mais. Os políticos, obviamente, aproveitaram-se disso para diminuí-lo brutalmente. Impopular nas pesquisas, mais até do que o próprio presidente Jair Bolsonaro, e sem a mesma credibilidade no mercado, que percebeu sua incapacidade de defender as posições na economia, ele hoje viu a situação se inverter. Se na eleição e no início do governo era Bolsonaro quem dependia do ministro para ter a confiança nos setores da economia, agora é Guedes quem precisa demais de Bolsonaro para ficar no cargo a qualquer custo. Nessa mudança de patamar, passou a aceitar absolutamente qualquer coisa que o presidente queira fazer, ainda que esperneando um pouco internamente.

Aliás, o processo pelo qual passa Paulo Guedes não é novo. É semelhante ao vivido, por exemplo, pelo ministro Marcelo Queiroga. Quem quer ficar no governo precisa se enquadrar e abandonar qualquer preceito técnico que venha de sua profissão se ele não for condizente com a visão do presidente. O ministro da Saúde que discursa sem máscara e que come pizza aglomerado na calçada é um retrato semelhante ao do ministro da Economia que não respeita o teto de gastos. Deixam de ser técnicos e passam a ser políticos. Ao aceitar gastar mais do que arrecada e ficar no governo, Guedes trocou de ala e tornou-se ele próprio um sabotador de sua política econômica. A consequência disso inclui mais distúrbios no mercado, com fuga de capitais, dólar alto e inflação caminhando junto. A ala política acha que vale a pena se isso garantir um Auxílio Brasil maior, que ajude o governo a retomar um apoio circunstancial entre os mais pobres na época da eleição. É um erro evidente, afinal a deterioração da economia tende a engolir qualquer alívio dado pelo governo nesse momento de penúria que o país vive. Mas esse equívoco o próprio Guedes aceitou cometer também.

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