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Presidente da Cemig pressionou para mudar resultado de licitação, diz ex-diretor

Segundo João Polati Filho, objetivo era tornar vencedora do pregão a AeC, empresa do ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Zema

Rastro101
Com informações do site O Tempo

23/09/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoO ex-diretor de Suprimentos da Cemig, João Polati Filho, disse que o atual presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho, pediu a ele para encontrar uma forma de mudar o resultado de uma licitação para serviços de call center e favorecer a AeC, empresa do ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Zema, Cássio Rocha de Azevedo, que morreu em junho deste ano devido a um câncer.

Polati prestou depoimento à CPI da Cemig na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quinta-feira (23). Ele ocupou o cargo de diretor entre junho de 2019 a agosto de 2020. Segundo o ex-diretor, ele foi demitido porque vetou uma série de contratações diretas e outros procedimentos, incluindo relativos à AeC. “Tenho orgulho dessa demissão. Tenho princípios”, disse.

A AeC prestava serviços de call center para a Cemig desde 2008 e venceu três licitações seguidas. No dia 14 de fevereiro de 2020, a Cemig realizou uma nova licitação para selecionar a empresa que prestaria serviços de call center. A vencedora foi a empresa Audac. A AeC ficou em segundo lugar porque sua proposta era cerca de R$ 500 mais cara.

“Na semana seguinte, o presidente me chamou na sala dele e disse: ‘Polatti, encontre uma forma de tornar a empresa AeC ganhadora. São apenas 500 reais’. E me disse. ‘Não decida nada sem falar comigo’. Para mim, já estava decidido. Se for um centavo [de diferença], regra é regra”, afirmou João Polati aos deputados.

A data limite para assinatura do contrato com a Audac era o dia 3 de março. Na véspera, dia 2, Polati disse que enviou um email a Reynaldo Passanezi Filho em que reforçou que a Audac foi a vencedora da licitação e que seria contratada.

Segundo o ex-diretor, após enviar a mensagem, ele recebeu três ligações do presidente da Cemig em um curto período de tempo. Passanezi, naquele dia, estava em Brasília.

“Na primeira por volta de 18h, procurando entender e conhecer mais do email. Na segunda por volta de 20h, ele tentou encontrar uma solução para tornar a AeC ganhadora. Me disse que eu tinha que ser mais arrojado, disse ‘tá lá pra fazer mudança, vamos fazer mudança’. Eu disse que não”, contou Polati. “Também por volta das 20h ele me liga novamente e diz: ‘conversei com um amigo meu, vamos deixar as coisas como estão’. No dia seguinte, a Audac foi declarada vencedora e o contrato foi assinado”, relatou o ex-diretor.

A Cemig foi procurada para comentar o depoimento de João Polati, mas ainda não respondeu. Esta matéria será atualizada quando o fizer.  

Já a AeC disse que atua há quase 30 anos no mercado e que “todos os contratos e serviços prestados ao longo de mais de uma década para a Cemig foram pautados pela legalidade, idoneidade e pela absoluta transparência, gerando emprego e renda para o município de Belo Horizonte”, informou a empresa, em nota.

“A empresa reafirma seu compromisso em colaborar com toda e qualquer apuração que demande sua participação e reitera que todas as suas relações institucionais e comerciais sempre se nortearam pela ética e pelo conjunto das melhores práticas de integridade e compliance”, completou a AeC.

Mesmo perdendo licitação, AeC assumiu o serviço de call center após ser subcontratada

Apesar de ter sido contratada por cerca de R$ 88 milhões, a Audac teve o contrato cancelado pela Cemig em fevereiro de 2021, um ano após a licitação, sem nunca ter recebido a ordem para o início dos serviços. 

O presidente da Audac, José Roque, afirma que após a rescisão está cobrando uma indenização de R$ 13,5 milhões da Cemig a título de ressarcimento.

A Cemig argumentou, em posicionamentos enviados nas últimas semanas, que começou os preparativos para que a Audac assumisse o serviço de call center. Porém, a empresa afirma que não emitiu a ordem para o início do serviço por causa do início da pandemia e do isolamento social em abril de 2020. Assim, a transição de fornecedor e o treinamento dos funcionários trariam riscos naquele momento.

Segundo a Cemig, depois desse período mais crítico da pandemia, ela desistiu do contrato com a Audac porque decidiu implantar o Projeto Cliente + para unificar todos os atendimentos, como agências presenciais, call center e digital.

Dias antes do cancelamento do contrato com a Audac, a Cemig realizou a contratação direta da IBM, sem licitação, por R$ 1,1 bilhão, e por um prazo de 10 anos, para implantar o atendimento integrado.

A IBM, por sua vez, subcontratou a AeC, que perdeu a licitação, para prestar o serviço de call center. A informação foi confirmada pelo superintendente do Centro de Serviços Compartilhados da Cemig, Wantuil Dionísio Teixeira, em depoimento na CPI no último dia 30 de agosto.

“Existe um ditado popular que diz ‘ganhou, mas não levou. Agora temos aqui o perdeu, mas levou”, disse o relator da CPI, Sávio Souza Cruz (MDB), nesta quinta-feira (23).

João Polati respondeu que não estava mais na Cemig na época da contratação da IBM, mas que se estivesse, jamais assinaria o contrato. Segundo ele, em 40 anos de experiência no mercado, tendo passado por empresas como Fiat, Usiminas e Açominas, nunca presenciou algo semelhante ao episódio envolvendo a AeC, a IBM e a Audac.

“Foi a primeira vez que eu vi. É muita novação”, afirmou. “Será que alguém pensa na imagem da Cemig? Vou lá contrato a empresa do senhor e depois falo ‘não vou contratar mais não, arrumei outra coisa ali.’ Eu jamais faria isso. Eu sou do respeito, da lei, do compromisso e da ética”, declarou o ex-diretor de Suprimentos.

O deputado Roberto Andrade (Avante) disse que não houve favorecimento da Cemig em relação à AeC. “Em abril de 2020, após o pregão, a AeC solicitou reequilíbrio de contrato [já que era a prestadora do serviço de call center na época, devido à licitação anterior], no valor de R$ 2,2 milhões, em função da pandemia. A Cemig recusou os dois pedidos”, afirmou.

A IBM foi procurada por meio do endereço de email da assessoria de imprensa disponível em seu site, mas ainda não respondeu.

Sala na Cemig foi preparada para receber dono da AeC e secretário de Zema

O governador Romeu Zema (Novo) anunciou Cássio Azevedo como secretário de Desenvolvimento Econômico em outubro de 2019. Azevedo deixou o cargo de CEO da AeC e o Conselho de Administração da empresa em dezembro de 2019.

Porém, ele só foi nomeado oficialmente como secretário no final de março de 2020, quase cinco meses depois do anúncio do governador e depois da AeC perder a licitação para a Audac, mas antes da subcontratação pela IBM.

Segundo João Polati, foram feitas obras em uma sala no 18ª andar da Cemig para abrigar Azevedo.“Quando vem alguém aqui na CPI e fala que não sabe disso eu vejo até com tristeza. Esse assunto foi um tititi a semana inteira na Cemig”, declarou o ex-diretor, que disse ter se posicionado de forma contrária. “Era momento de pandemia e já havia muitas obras na ocasião, afirmou.

“O presidente da Cemig que pediu para abrir sala para o proprietário da AeC é o mesmo que pediu para João Polati tornar a AeC vencedora de pregão do call center”, disse o relator, Sávio Souza Cruz (MDB).

Não ficou claro, pelo depoimento de João Polati, se Cássio Azevedo chegou, de fato, a ocupar a sala no 18º andar da Cemig.

A AeC foi questionada sobre o episódio da sala na Cemig, mas não o respondeu diretamente. A empresa se posicionou de forma geral na nota já reproduzida em parte no texto acima. A nota está reproduzida em sua totalidade a seguir.

Íntegra do posicionamento da AeC

A AeC atua há quase 30 anos no mercado, tendo prestado serviços para centenas de empresas, e esclarece que todos os contratos e serviços prestados ao longo de mais de uma década para a Cemig foram pautados pela legalidade, idoneidade e pela absoluta transparência, gerando emprego e renda para o município de Belo Horizonte.

A empresa reafirma seu compromisso em colaborar com toda e qualquer apuração que demande sua participação e reitera que todas as suas relações institucionais e comerciais sempre se nortearam pela ética e pelo conjunto das melhores práticas de integridade e compliance.

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