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Potente até a medula, 'Judas e o Messias Negro' entra em cartaz nesta quinta

Filme de Shaka King foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator coadjuvante pelo trabalho de Daniel Kaluuya

Rastro101
Com informações do site O Tempo

24/02/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoJudas e o Messias Negro, filme de Shaka King que entra em cartaz nesta quinta-feira nos cinemas de todo o país, se volve sobre um episódio real da história norte-americana recente que envolve luta por direitos, espionagem patrocinada pelo FBI e, como o título já sugere, traição. Estamos no final dos anos 70, e, após a morte de Malcon X (em 1965) e de Martin Luther King (1968), paira a preocupação do surgimento de um novo líder do ativismo contra a segregação racial, o Messias, também cidado no título.

Mas a verdade é que ele já emergiu, e responde pelo nome de Fred Hampton, ativista dos Panteras Negras em Illinois. Carismático, Hampton, então com apenas 21 anos, está, naquele momento, atraindo cada vez mais os holofotes em torno de sua figura e de sua oratória, sendo capaz também de estabelecer diálogos com outros grupos que lutam pelos direitos dos negros (como os Crowns) ou pelos dos excluídos pelo sistema capitalista de uma forma mais ampla. 

A ascensão de Hampton já está no radar do FBI -  em particular, no de J. Edgar Hoover (Martin Sheen) - e, para monitorar seus passos, nada melhor que infiltrar um espião no Panteras. Evidentemente, ele precisa ser negro. A escolha recai sobre William ONeal, um ladrão de carros que executa suas ações a partir de um expediente bem particular: Bill, como é chamado, aborda os donos dos veículos na sua mira com um distintivo falso do FBI, e sob a alegação de que o mesmo é roubado. No desenrolar da inevitável discussão que se sucede, ela leva o carro. Desta vez, porém, pego pela inteligência, ele se vê frente a frente com Roy Mitchell (o excelente Jesse Plemons, de Estou Pensando em Acabar com Tudo), que lhe pergunta sobre sua reação diante das mortes recentes de X e Luther King. Bill responde que ainda não tinha parado para pensar muito nisso, explicitando seu descomprometimento com a causa.



Ambicioso e a fim de se livrar da pena, rapidamente ele vê, na proposta de Roy, a possibilidade não só de ficar livre, mas de faturar algum se infiltrando no movimento que, segundo o agente, seria equivalente à Ku Klux Klan no quesito radicalismo.

Personagens descritos, falta falar dos atores que os encarnam. Hampton é vivido por Daniel Kaluuya, de Corra!, o premiado filme de Jordan Peele. E William, por Lakeith Stanfield, também de... Corra!. Sim, os dois inclusive contracenam, no longa de 2017.  

Mas voltemos a Judas e o Messias Negro. Feito o trato, Bill adere às alas do Panteras sem grandes dificuldades, e logo não só se torna um dos braços direitos de Hampton, como chega ao posto de chefe da segurança dele. Não que tudo corra às mil maravilhas. Bill participa de ações arriscadas e treme feito vara verde ao se inteirar do destino de um infiltrado que, tendo sua identidade e função descobertas, foi parar no fundo do rio. Ao mesmo tempo, avança nos pedidos de mais bônus para seu repasse de informações, e se deixa levar pelo canto da sereia travestido de idas a restaurantes caros e mesmo à casa de seu titereiro.

A ascensão de Hampton não chega a ser propriamente interrompida com a prisão do líder, motivada por uma acusação fútil. Paralelamente, o público assiste ao envolvimento do ativista com a companheira Deborah Johnson (Dominique Fishback, conhecida por sua participação na minissérie The Deuce). Hampton sai da prisão modificado, e seus discursos adquirem um tom ainda mais veemente. É neste momento, pois, que o FBI não vê outra saída senão colocar um ponto final nesta reta ascendente. E é aí que a Bill é delegada a mais complexa e ingrata de suas tarefas.



Por ser baseada em fatos reais, muitos já sabem o desenlace desta história. Os que não conhecem podem recorrer ao Google para saber os detalhes, ou, ainda, se deixarem conduzir pela narrativa, que, vale dizer, é didática sem nunca subestimar a inteligência do espectador. Nesta nova e envolvente oportunidade de se enfronhar na trajetória de um grupo tão icônico na luta política mundial,  vários trunfos podem ser citados, tal como figurino, reconstituição de época e trilha sonora, com destaque para Rain, de Eddie Gale.

Mas o grande mérito recai sobre as atuações. Raro ver um elenco tão homogêneo no quesito talento. Os dois protagonistas estão absolutamente impecáveis, dignos de todas as premiações que porventura venham a arrebanhar. Mas é necessário pontuar também o poderio de Plemons, que impacta às vezes apenas com o seu olhar, como na cena em que vai conferir in loco a reação de seu subordinado no territorio do inimigo. 


 

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