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Mostra no CCBB baliza os 70 anos de trajetória artística de Yara Tupynambá

Uma das maiores muralistas do país apresenta, na nova exposição, um circuito no qual ela explicita seu amor pela natureza

Rastro101
Com informações do site O Tempo

23/02/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoNão fosse a quarentena imposta pelo novo coronavírus, talvez a mostra “Yara Tupynambá: 70 anos de carreira” começasse sua trajetória pelas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil por São Paulo ou Brasília. Como a retomada plena das atividades de uma pólis ainda está pendente, por estar vinculada ao curso da pandemia, serão os belo-horizontinos – e, claro, pessoas que estiverem em visita à capital mineira – a ter a primazia para conferir o conjunto de telas que celebra as sete décadas de trajetória de um dos mais reconhecidos talentos da arte brasileira. O acesso ao prédio do CCBB-BH, que pertence ao Circuito Cultural e Turístico Liberdade, será feito gratuitamente, mediante retirada online de ingresso e apresentação na entrada, por meio do QR Code no celular. É possível também fazer o tour virtual. 

São 74 trabalhos, de diferentes fases da carreira, muitos dos quais, inéditos. Aqui, eles foram reunidos sob a curadoria de José Theobaldo Júnior, traçando um percurso que mantém o tempo todo um diálogo potente com o tema natureza. A visita se inicia com obras que representam matas e florestas brasileiras. “A natureza intocada foi o primeiro passo que dei”, conta ela, ressaltando que, nessa etapa, teve a ajuda fundamental do Instituto Estadual de Florestas (IEF) para chegar aos locais que lhe serviram de inspiração. “Depois, com a ajuda do Ibama, fui para a serra do Cipó, que é um parque nacional”, conta. 

Lá, teve acesso a lugares onde, nos dias atuais, a visitação é mais limitada, devido à ação danosa do homem. Além das árvores gigantes, centenárias, Yara conta que sua atenção foi cooptada por detalhes, “como as florzinhas que às vezes dão no chão, as quais as pessoas quase não percebem”, mas que ela focou.   

A terceira etapa teve como cenário os majestosos jardins do Instituto Inhotim, em Brumadinho. “Ali, temos uma mistura de floresta, de mata natural, mas já com a intervenção do homem em alguns lugares, trazendo plantas, como, por exemplo, algumas palmeiras. Ou seja, uma natureza mista”, especifica. 

Não bastasse, há trabalhos que mostram recortes de parques da cidade (“onde há trechos de natureza intocada, mas uma natureza mais ‘usada’ também, pelo homem”). E, por fim, os jardins da casa-atelier da própria artista. “Nesse caso, a natureza cultivada. Este é o percurso que faço, e foi tudo muito bem organizado. Separamos tudo para que o visitante tenha uma visão mais concentrada de cada tema”, diz a artista.   

No quesito jardins, há, ainda, telas que mostram uma releitura dos célebres jardins de Claude Monet, localizados em Giverny, na França, os quais ela visitou nos anos 80. Vale dizer que, da série “Jardins”, todas as obras são inéditas. “Assim como metade dos parques é inédita, e muitas da serra do Cipó, para citar alguns exemplos. Acho que, se eu for balancear, 80% da mostra é de fato composta por obras inéditas”. 

Relação com a natureza 

A natureza é parte intrínseca à trajetória de Yara como pessoa e artista. Nascida em Montes Claros, ela conta que “com 10, 11 anos, já saía muito pra mata, já tinha esse contato direto com a natureza”. “Eram cidades muito simples, pequenas. Ir para o mato ou fazenda era comum. E tinha a fazenda do meu avô também, em Bocaiúva, cercada de mata, Cerrado, para onde ia uma vez por ano”. Não bastasse, conta que sempre viu o afinco com que seu pai cultivava os jardins. “Esse contato com uma mera flor, pra mim, é uma coisa normal, fez parte da minha infância toda, e da juventude. Portanto, quando fui para Belo Horizonte, fui estudar com Guignard, no Parque (Municipal), que era ainda um pouco selvagem. Inclusive porque BH não tinha tanta gente, e as pessoas ainda moravam em casas com quintais”. 

Questionada sobre o motivo de a exposição atual retratar esta relação com a natureza com mais ênfase, Yara diz que, mais do que nunca, o mundo está se dando conta da importância da conservação da fauna, seja ela representada por uma árvore, uma planta, uma flor ou um quintal. “Aquilo que significa vida. Eu gostaria muito de viver em um mundo no qual, quando as pessoas olhassem para uma planta bonita, não quisessem arrancar”. Como exemplo, ela cita uma casa nas cercanias onde mora. “Eu tenho um quintal com jabuticabeira, com plantas, laranjeira. Ela cimentou todo o espaço que tinha, igual ao meu. Enquanto eu tenho laranjeira, ela tem cimento. Eu queria muito que as pessoas percebessem que podem ter um pequeno jardim, de dois metros por dois, lindamente. Desde que tenham boa terra, cuidem com amor das plantas. Acho que pequenos gestos assim podem tornar possível a conservação do meio ambiente brasileiro. É isso que eu pretendo mostrar. Que as pessoas amem a natureza”. 

Sete décadas 

Ao ser questionada sobre o marco inicial de sua trajetória profissional, ela cita as aulas com Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), “quando entrou na escolinha dele”. Mas ela frisa: “Na época, ninguém falava em arte como profissão”. No entanto, desde os 7, 8 anos, Yara já exibia seu talento. “Aos 12, a Secretaria de Educação, a pedido da professora de desenho, me deu o direito a um ensinamento especial, não fazia o que todos os alunos eram obrigados a fazer, já podia fazer desenho livre. Então, com 13, 14, já desenhava. Quando cheguei à escola, não era primeira experiência absolutamente, já tinha experiência grande”. 

Tempos de pandemia 

Naturalmente, as viagens de pesquisa Yara Tupinambá aconteceram antes da pandemia. Mas ela conta que, na verdade, o isolamento social não alterou de forma radical a sua produção, principalmente pelo fato de o atelier estar localizado junto à sua residência. “Não mudou muita coisa, porque (quando a pandemia chegou ao Brasil) eu já estava especialmente focando os jardins. E eu tive que trabalhar! Eu trabalho praticamente quase todo dia, seis, oito horas por dia. Então, esse foco de trabalho continuou normal, continuei com o mesmo ritmo. O que senti mais falta foi de não poder mais fazer coisas que gostava, como ir ao cinema. Também gosto de ir a restaurantes, geralmente ia uma vez por semana. Mas na minha casa sempre tem pessoas chegando, às vezes um casal, depois, dois amigos, sempre com todos os cuidados”. 

Há poucos dias, Yara Tupinambá recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19. “Foi uma sensação muito boa, mas ainda falta a segunda (risos). Agora, de qualquer forma, eu sou muito cuidadosa, não vou para aglomeração, festa, nunca fico sem máscara na rua, lavo a mão toda hora, porque, quando não lavo, a filha aqui me atormenta (risos), passo álcool, continuo com todos protocolos. E não saio aí feito boba falando que ‘vacina, não’. É vacina já”.

Exposição Yara Tupynambá – 70 Anos de Carreira”

24 de fevereiro a 20 de maio

Quarta a segunda - 10h às 22h

Tour virtual – livre acesso pelo site www.yaratupynamba.org

Visitas presenciais no CCBB BH – mediante retirada de ingresso gratuito no bb.com.br/cultura ou pelo Eventim (site ou app) e agendamento de visita.

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