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Dias carnavalescos melhores virão

Nomes ligados à festa momesca em BH, Aline Calixto, Michelle Andreazzi, Marina Sena, Marcelo Xavier e Laís Lima compartilham seu estado de espírito neste ano atípico

Rastro101
Com informações do site O Tempo

13/02/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoVocalista do grupo Então, Brilha!, Michelle Andreazzi conta que, tempos atrás, chegou a criar, em sua mente, sem um motivo específico, um cenário hipotético no qual o Carnaval não fosse mais acontecer em Belo Horizonte. Mas mais no sentido de como tudo na vida começa e termina, explica ela. No entanto, nem em seus sonhos mais surreais ela imaginou que a ausência da festa, neste 2021, se daria por conta de uma pandemia provocada por um novo vírus que se alastrou mundo afora. Aliás, no começo, nos primeiros dias em que se começou a falar sobre o coronavírus, eu não estava conseguindo acreditar que fosse verdade. Acredito que ninguém esperava viver o que a gente está vivendo, conta ela, que, apesar do inevitável desalento, não vai deixar a peteca cair.  Penso que a rua, que a possibilidade de encontro, é algo que fortalece muito as pessoas, a alegria como forma de existir. Agora, neste momento, a gente não pode fazer isso, brincar o Carnaval. Mas, bem, pode se conectar com isso tudo dentro de casa, mantendo esse fogo interno, esse brilho da esperança, pondera. A gente pode continuar se cuidando, se respeitando - essas mesmas coisas que a gente prega enquanto está todo mundo na rua -dentro de casa.

Como Michelle, vários nomes ligados ao Carnaval de Belo Horizonte compartilham uma certa sensação de frustração - plenamente justificável, diga-se de passagem. Aliás, justamente para saber a quantas anda o espírito de alguns destes expoentes é que a equipe do Magazine entrou em  campo para ouvir cinco nomes emblemáticos da cidade: além de Michelle, o escritor e artista plástico Marcelo Xavier, nome à frente do Todo Mundo Cabe no Mundo  a cantora Aline Calixto, do Bloco da Calixto Laís Lima, atual Rainha do Carnaval de Belo Horizonte (coroada no ano passado), o cantor Di Souza e a cantora e musicista Marina Sena. Todos foram unânimes, e convergiram para o que bem resumiu Xavier. O Carnaval brasileiro é a maior expressão de arte de rua do mundo, então, é lógico que a gente fica muito triste quando essa festa não pode acontecer. Temos que engolir seco e atravessar mais um ano, esperando que, em 2022, tudo melhore. Fico triste, fico chateado, porque nunca tivemos essa ausência da festa.

Está doendo bastante, com toda certeza!, endossa Laís. Para mim, o Carnaval não é apenas folia, é também um trabalho, e sabemos que é assim para dezenas, centenas de pessoas. É uma festa que movimenta o comércio e gera renda muitas famílias. E faço aqui umas aspas: é um trabalho super prazeroso, no qual reencontro amigas, amigos, ao qual me dedico e faço com o máximo de empenho e carinho, diz a musa. Coincidentemente, Marina Sena começa sua fala com praticamente as mesmas palavras que Laís. Está doendo bastante, principalmente porque não vamos poder tocar, fazer som. Eu pessoalmente não vou muito para curtir, mas amo trabalhar no Carnaval, amo muito. Queria fazer mil shows esse ano nessa época. Um pena.

Aline Calixto salienta que o brasileiro é habituado ao Carnaval. Desde que nos entendemos por gente, festejamos e vamos para as ruas. O Carnaval em si é uma festa de aglomeração, reunião de pessoas. Aqui, na cidade, em especial, a ocupação dos espaços públicos vem sendo um marco enriquecedor da nossa cultura. Mas ela entende que o motivo não comportaria outra atitude. Há tristeza pela falta dessa energia, que é única, mas se faz presente a compreensão da necessidade e da responsabilidade que o momento pede. Enquanto a vacina não chegar para todos, é prudente não retornarmos com as grandes festividades, diz, com absoluta razão.

Da mesma forma pensa Michelle. Apesar de eu ser artista, de eu viver da arte, eu entendo que esse é um momento de recolhimento, enfatiza, acrescentando que esse recolhimento,  na sua opinião, deve ser reflexivo. E penso também que a gente não deve perder a esperança. Porque eu acho que ela é o que nos move. É interessante, porque, no ano passado, o nosso cortejo foi de celebração de 10 anos do bloco, e a gente estava vivendo várias questões políticas e ambientais muito catastróficas na época. Então, escolhemos a esperança em tempos melhores como tema. Apesar de a gente estar se conectando com o passado, em 2020, com a memória de tudo o que a gente tinha caminhado até aquele ponto, conseguia ver que, naquele momento, a esperança em tempos melhores era essencial para a gente continuar seguindo. Curioso porque, apesar de ter se passado um ano, a sensação é que a gente está no mesmo tema, precisa continuar.

Mesmo com a esperança no horizonte, Michelle, porém, se apega ao que é concreto. Tem muita gente falando: “Ah, em julho vai ter Carnaval. Eu, sinceramente, não acredito nisso. O que acredito, e que acho mais interessante, é realizar (a festa) assim que todo mundo estiver vacinado, quando a pandemia realmente estiver controlada. Até porque, ninguém vai tirar o Carnaval do bolso assim, né? Tem todo um processo. Esse Carnaval que a gente tem feito precisa de um tempo para ser planejado, para ser construído. O que eu acredito que seja mais interessante é a gente fazer um grande período de pré-Carnaval, se realmente todo mundo for vacinado. E, acredita ela, será uma grande celebração da vida. De toda forma, ela já deixa avisado: Estou torcendo muito para 2022 ter Carnaval. 

Marcelo Xavier tem fé que sim. Existe a tristeza maior que é a da perda (de milhares de vidas mundo afora), a parte mais terrível dessa pandemia. (Se a situação já tivesse melhorando) O Carnaval poderia ser uma válvula de escape, essa outra realidade na qual a gente mergulha nestes quatro dias. Mas, não sendo assim, vamos nessa, mesmo porque, isso (o vírus) não depende da gente também. Foi uma coisa que apareceu, e vai passar. É isso que a gente acredita que vai acontecer. Vai passar.

Di Souza faz coro. É triste e revoltante que não possamos celebrar juntos na rua como se deve. Por outro lado, sabemos que o espírito carnavalesco nos habita e temos muitas boas memórias guardadas. Nesse sentido o carnaval está dentro de nós. Aglomerai-vos de amor que nas próximas festanças, explodiremos como bazuca de confete, como bomba nuclear de alegria. Discordar, quem há de? 

A reportagem do Magazine também pediu aos entrevistados que compartilhassem as memórias de um Carnaval inesquecível. Confira.

Marcelo Xavier 
Todo ano normal, ou seja, em um mundo sem pandemias, a gente coloca nosso bloco, que é totalmente inclusivo, na rua. A bandeira dele é justamente essa, da diversidade, da inclusão, da democracia. A gente privilegia muito o Carnaval como arte, como criação, alegria, como fantasia mesmo, a gente estimula a fantasia, por aí vai. É um bloco muito alegre, muito feliz. Aliás, Carnaval é isso, né? É uma festa da alegria, esse é o grande ponto. E o Carnaval brasileiro é muito isso. E como a gente é uma manifestação artística aberta, que acontece na rua, quer dizer, em um espaço público, todo mundo tem o direito de participar dessa festa, ou como folião ou como espectador, que não deixa de ser uma fruição dessa arte. Então, uma cena que já há alguns carnavais se repete no nosso cortejo que eu não consigo me esquecer, e que me toca profundamente, de uma forma muito boa e positiva, que é: um de nossos apreciadores é uma pessoa acamada, com muitas limitações, que vai sempre ali, para a beira da rua, com a família, que a leva com os aparelhos todos, com o respirador, com tudo, e fica ali assistindo à saída do bloco, mas com um olhar tão feliz que emociona a gente, porque é uma forma de participar. Então, saber que a gente dá essa oportunidade para a pessoa ter aqueles momentos ali de alegria, de sentir a alegria ali, ao vivo, na rua, é uma imagem forte e que pra mim nunca, nunca vai se apagar. Ela é realmente uma imagem que está tatuada na alma mesmo. E de quem consegue ouvir aquela imagem eu tenho certeza que se toca por isso, porque reforça a ideia fundamental desse trabalho, dessa obra, que eu acho sempre que é uma obra de arte fantástica, enorme, de rua, democrática, diversa, com criação, música, ritmo, dança... Isso é o Carnaval. A maior obra de arte de rua do mundo. 

Michelle Andreazzi
Teve um ano que rolou um desafio enorme, acho que foi 2019. Eu cheguei de madrugada na rua Guaicurus e... cadê o trio? Não tinha! O carro tinha cortado o freio. Foi bem chocante, esse momento. Foi difícil, mas, quando o carro chegou, foi uma alegria, um alívio. Isso foi uma coisa que me marcou. É difícil eu não pensar no Então, Brilha! O primeiro ano que eu cantei no Brilha foi muito marcante, porque eu acompanhava o bloco como foliã. Em 2015 eu entrei para ser cantora, puxadora do bloco. Eu senti uma emoção, aquela potência, aquela força de todas aquelas pessoas reunidas na Guaicurus, cantando o hino do bloco… esse foi um momento muito marcante para mim.

Laís Lima
Sem sombra de dúvidas o Carnaval de 2020, porque foi o ápice! Teve de tudo: superação, resiliência, muito choro (de alegria) e a conquista: fui coroada a Rainha do Carnaval de Belo Horizonte. Entretanto, quando março chegou, as consequências advindas todos nós sabemos, eu não pude aproveitar quase nada, devido à pandemia, que ainda estamos vivendo. Antes que eu me esqueça, pessoal: Usem máscaras, vamos nos proteger e proteger ao próximo! Mesmo assim, ter sido coroada como a Rainha da folia, ter conhecido tantas festas e culturas diversas dentro de um único tema me proporcionou momentos marcantes e um aprendizado que levarei para sempre.

Marina Sena
Foi o do ano passado, 2020. Aquele foi o ano mais marcante pra mim porque foi o ano em que mais trabalhei. Também foi especial porque foi o ano que marcou a criação do Bloco Rapique, em BH, que foi histórico, e uma delícia de participar.

Di Souza
O meu carnaval mais marcante foi no Bloco Baianas Ozadas em 2016. Na época, eu fazia parte da equipe de regentes do bloco, sob o comando do Peu cardoso. Nesse ano, o cortejo foi gigante, durou mais de 5 horas, e houve uma chuva infinita que levou a bateria ao delírio. Na ocasião, me lembro de deitar no chão e beijar o concreto do asfalto, de tesão que senti em estar vivo. Eu queria com isso agradecer a vida por estar ali. Ainda sim, não foi o suficiente para expressar tanta alegria que eu estava sentindo.

() Colaboraram Alex Ferreira, Lorena Martins e Patrícia Cassese  

 

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