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Portugal vota para presidente de olho em disputa por 2º lugar

A luta pelo segundo lugar, antes uma questão simbólica, ganhou força com previsões de abstenção recorde, que poderiam levar a um inesperado segundo turno

Rastro101
Com informações do site O Tempo

23/01/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoCom as pesquisas indicando uma reeleição confortável do atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, Portugal vai às urnas neste domingo (24) de olho em quem ficará na segunda posição.

A vice-liderança é alvo de uma disputa acirrada entre dois candidatos de espectros políticos completamente distintos: a ex-embaixadora Ana Gomes, 66, com décadas de militância socialista, e o deputado André Ventura, 38, líder do partido de direita populista Chega.

A luta pelo segundo lugar, antes uma questão simbólica de força política, ganhou força com as previsões de abstenção recorde, algo que poderia levar a disputa a um até então inesperado segundo turno.

As eleições ocorrem no pior momento da pandemia de coronavírus, com o país voltando para um confinamento geral. Como o voto é facultativo, o medo da Covid-19 deve deixar muitos eleitores em casa, especialmente os idosos, o grupo que mais costuma votar.

Com altos níveis de popularidade e mais de 57% das intenções de voto em todas as sondagens, Rebelo de Sousa ocupa situação tranquila, mas já admitiu publicamente a possibilidade de disputar um segundo turno.

Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa ter mais do que 50% dos votos, como ocorre no Brasil. Caso isso não ocorra, os dois mais votados disputam uma segunda rodada.

Para a cientista política Paula Espírito Santo, professora da Universidade de Lisboa, os efeitos da crise sanitária na votação são relevantes, mas ela enxerga a declaração do atual presidente como uma forma de apelo aos eleitores que já dão sua eleição como certa.

O resultado das presidenciais ajudará a demarcar o tamanho da ascensão da direita radical na política lusitana, que durante muitos anos foi considerada, de alguma forma, imune a esse tipo de discurso.

Enquanto vários países europeus viram crescimento expressivo da direita populista na última década –incluindo a vizinha Espanha, com o Vox–, em Portugal essa corrente só conseguiu chegar ao Parlamento nas últimas eleições, em 2019, justamente com Ventura.

Com um discurso antissistema e propostas como a castração química de pedófilos, o deputado e seu partido também se notabilizaram pelas críticas à comunidade cigana, a quem acusam de ser dependentes do RSI (Rendimento Social de Inserção), espécie de Bolsa Família local.

Em meio a um cenário de aumento nas intenções de votos e muitos pedidos de adesão ao partido, o Chega e seu líder acabaram atraindo a atenção de algumas das estrelas da ultradireita europeia.

Líder da legenda francesa Reunião Nacional, Marine Le Pen esteve em Lisboa neste mês para participar de atos de campanha. Ex-ministro e líder da Liga, o italiano Matteo Salvini gravou um vídeo em que até se arrisca no português: André Ventura é o presidente dos portugueses de bem, disse ele.

Na última semana, uma fala de Ventura, que criticava o batom vermelho usado pela também candidata Marisa Matias (do Bloco de Esquerda), levou a uma onda de manifestações nas redes sociais.

A hashtag VermelhoemBelem, referência ao Palácio de Belém, sede da Presidência de Portugal, chegou até ao Brasil, com o cantor Chico Buarque postando uma imagem em que ele e a namorada aparecem com os lábios pintados com a cor vermelha.

Na reta final da campanha, apesar das polêmicas e do apoio internacional a Ventura, a socialista Ana Gomes aparece à frente nas pesquisas. Quadro histórico do Partido Socialista, a jurista concorre à Presidência como independente. Suas críticas a colegas da legenda –incluindo ao primeiro-ministro, António Costa– acabaram fazendo com que seu nome não fosse consensual nem mesmo entre os socialistas.

Diplomata de carreira, Gomes foi embaixadora do país na Indonésia e teve papel importante nas negociações para a independência do Timor Leste. Da diplomacia para a política, foi eurodeputada por mais de uma década.

Nos últimos anos, tornou-se uma das principais críticas à evasão fiscal em Portugal e na Europa e defendeu o fim dos vistos gold, que dão autorização de residência a estrangeiros que investirem na compra de imóveis de luxo.

O ativismo a aproximou do hacker Rui Pinto, responsável por vazar os documentos do Football Leaks e dos Luanda Leaks, que revelaram transações financeiras suspeitas de diversos empresários.

Em entrevista à imprensa internacional, Gomes criticou Jair Bolsonaro e sua gestão da pandemia, afirmando que, se for eleita, não iria à posse de um eventual segundo mandato do presidente brasileiro. O Brasil não está vivendo tempos fáceis. Preocupa-me muito que sofram todos que estão no Brasil, designadamente em consequência da terrível gestão da pandemia, resultado da atitude do presidente Bolsonaro e do desacerto com as autoridades a todos os níveis, por parte de seu governo, afirmou ela.

Ex-líder partidário, professor universitário e comentarista político por mais de 30 anos na TV portuguesa, o atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, 72, já era uma celebridade antes de chegar ao cargo. Sua postura após assumir a Presidência só aumentou o burburinho em torno de sua imagem.

Ao chegar ao Palácio de Belém, ele optou por uma relação de proximidade com os portugueses, marcada por selfies e abraços nos eleitores. Esse comportamento, inédito para ocupantes do cargo, rapidamente chamou a atenção e, claro, críticas pela superexposição e um suposto populismo.

O presidente também é o único político tratado pelo primeiro nome e gosta de passar uma imagem de simplicidade: costuma ser visto dirigindo o próprio carro, esperando na fila do supermercado ou dando um mergulho na praia de Cascais.

Apesar de ser um antigo líder do PSD (Partido Social-Democrata), de centro-direita, desenvolveu relação estreita com o premiê socialista Costa, que já expressou a vontade de ver Rebelo de Sousa reconduzido ao cargo. A proximidade entre os dois tem sido uma das principais críticas que o presidente recebe de seus adversários à direita.

Portugal tem um regime parlamentar, no qual o governo é responsabilidade do premiê. O presidente tem função mais institucional, ocupando o posto de chefe de Estado. Ainda assim, o cargo concentra poderes considerados estratégicos, como a possibilidade de dissolver o Parlamento e convocar novas eleições.

O mandato, que começa oficialmente em 9 de março, tem duração de cinco anos.

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