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Acelera, Dembélé: mudança de hábitos e de função transformou o 10 do PSG em candidato à Bola de Ouro

globoesporte.com - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

28/05/2025 por Redação

Utilização como falso 9 fez atacante de 28 anos deixar de correr errado e ser mais efetivo; ge abordou evolução meteórica com jornalista francês e um torcedor apaixonado pelo Paris Veja a festa da torcida do PSG após a classificação para a final da Liga dos Campeões
Você deveria perguntar para ele o que ele comeu no Natal. É um jogador cheio de confiança. A brincadeira feita por Luis Enrique em 11 de fevereiro, após vitória por 3 a 0 sobre o Brest, referia-se a um jogador que chegava a 15 gols em oito partidas em 2025. Mas o espírito natalino nem sempre pontuou a relação de Dembélé com o treinador.
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Principal jogador do PSG que chegou à final da Champions League 2024/2025, o camisa 10 saiu de um corte por indisciplina no início da competição para se transformar em um rolo compressor que passou por cima de favoritos com muita velocidade e gols.
Para explicar a ascensão meteórica do atleta de 28 anos, o ge recorreu a números, depoimentos de um jornalista francês e de um apaixonado torcedor do PSG.
Dembélé é o cara do PSG na temporada 2024/2025
Aurelien Meunier - UEFA/UEFA via Getty Images
Rolo compressor: falso 9, goleador verdadeiro
Dembélé já fazia uma boa temporada no segundo semestre, mas a explosão de gols veio na virada do ano. Luís Enrique teve papel definitivo ao tirá-lo da ponta, transformando-o em um falso 9. Abriu 2025 marcando o gol do título na Supercopa da França, contra o Monaco (1 a 0). Quase seis meses depois, soma 25 anotados em 28 partidas, numa impressionante média de 0,89 por jogo.
- O treinador chegou aqui com uma ideia muito clara. Mudou muitas coisas no time, e a mentalidade dos jogadores também mudou muito. Mudei muito, sobretudo no que diz respeito à minha posição, ao meu estilo de jogo. Ele me dá muitos conselhos e, sim, mudei muitas coisas no meu jogo, embora continue a usar as minhas capacidades naturais. O treinador me dá liberdade para me movimentar por todo o campo. Não sou obrigado a ficar no centro do ataque, como um número 9. Tento criar espaço e causar um pouco de caos no meio-campo - afirmou Dembélé ao site da Uefa.
O jornalista francês Stéphane Darmani, correspondente do Canal + no Brasil, não tem dúvidas de que a alteração do posicionamento do camisa 10 foi fundamental, mas destaca também a mudança de postura do atleta desde a última grave lesão sofrida no Barcelona, em novembro de 2019 e que o deixou fora de ação por quase nove meses.
À época, incomodado com a sequência de problemas musculares, que inclusive fizeram o jornal catalão Sport tratá-lo como jogador de cristal, Dembélé passou a investir numa equipe multidisciplinar, com nutricionista, preparador e outros profissionais.
Darmani destaca que o atleta da seleção francesa identificou os pontos a serem explorados para desempenhar no mais alto nível, em especial a velocidade.
- É um cara que hoje é superdisciplinado, superprofissional. Trabalha todos os dias antes e depois dos treinos, é até um exemplo no PSG sobre esse tipo de cuidado pessoal. Tomou consciência de que ele é um velocista e de que precisa trabalhar seus músculos como um velocista. Ele faz muito trabalho muscular, sobretudo na parte de baixo, adutores, coxas e abdominais. Isso gera um primeiro reflexo na ausência de lesões e também na velocidade.
Acelera, Dembéle!
Stéphane Darmani destaca que Dembélé, que costumava ter uma velocidade máxima de 28 km/h na reta final da passagem pelo Barcelona, hoje consegue atingir picos de 33km/h (veja no gráfico do site da Uefa abaixo). O jornalista, porém, chama atenção para o fato de que Dembéle deixou de correr errado, como fazia antes, e passou a eleger melhor os momentos de acelerar em direção ao gol adversário e também para auxiliar na recomposição.
- Sobre os gols, acho que é o reposicionamento feito pelo Luis Enrique numa faixa mais central, menos pela beirada pela direita, podendo administrar melhor seus sprints e fazendo mais trabalhos defensivos porque talvez ele queime menos energia do que quando jogava no lado direito. Ele tem um posicionamento mais inteligente.
- Ele sabe o momento em que pode dar cobertura e o momento em que pode ficar mais longe do jogo, recuperando. Por isso, ele consegue fazer mais trabalhos defensivos do que fazia antes. Não é o cara que vai correr 12 quilômetros por jogo, mas tem muita efetividade nos seus sprints. Essa posição central acabou rendendo a ele mais eficiência.
Confira estatísticas de Dembélé na Champions League
Reprodução/site oficial da Uefa
Ninguém esperava, diz torcedor
O francês Max León, torcedor do PSG desde 1995 e morador da cidade de São Paulo desde 2015, faz parte de um fã-clube da equipe parisiense. Hoje, muito satisfeito com a transformação, sonha com a inédita conquista da Champions League.
- Quando ele chegou do Barcelona, eu estava na dúvida. Sempre gostei, obviamente ele é incrível, mas tinha problemas físicos. Machucava-se bastante, apesar de ter melhorado no último ano de Barcelona. Fazia a diferença, mas que nunca foi de marcar muitos gols. O Luis Enrique reposicionou o Dembélé como falso 9 e foi incrível. É como um número 10, tem muita liberdade e habilidade para quebrar as barreiras das defesas.
O francês Max León acompanha o PSG desde 1995 e faz parte de um fã-clube sediado em São Paulo
Arquivo Pessoal

Max diz-se surpreso porque em 1º de outubro de 2024, quando Dembélé já era um dos destaques do PSG, houve um problema entre o atleta e Luis Enrique. Por divergências, acabou cortado da relação do duelo com o Arsenal, pela segunda rodada da fase de liga da Champions. A melhor coisa que fiz com Ousmane foi deixá-lo fora daquele jogo, pelo qual todos vocês me criticaram, disse o treinador já em 2025, quando o camisa 10 voava baixo.
- É uma transformação que ninguém esperava. Lembro que não foi convocado contra o Arsenal, mas o Luis Enrique foi corajoso de não chamá-lo para um jogo que era muito importante ainda na fase de classificação.
- Esse movimento de mentalidade e de papel em campo fizeram o jogador se transformar. Não sei se é mais dedicação no trabalho ou que ele tenha entendido de que tinha ser mais um líder em campo, mas é impressionante que está acontecendo com o Dembélé. Por sorte está com a gente. Tomara que ganhe a Bola de Ouro, é o melhor jogador do meu time e da Europa. Tomara que ele marque na final da Champions League porque aí ele ganharia com certeza a Bola de Ouro, não haveria mais debate - completou Max.
Evolução mental e liderança no vestiário
Muito além da mudança tática, Dembélé passou por uma metamorfose dentro do vestiário. De jogador caro e com pouco poder de decisão, converteu-se numa liderança silenciosa. Fala pouco, mas é sempre um pilar de apoio aos companheiros. E escuta Luis Enrique, tanto que a disponibilidade para receber instruções tanto no aspecto futebolístico quanto no comportamental tem rendido frutos.
- Tem uma evolução na cabeça também. Mentalmente, ele é alguém que tomou consciência de tudo que é a vida de um profissional. Dentro do vestiário é um cara superapreciado por todo mundo, se dá bem com todo mundo, apoia muitos os jovens e dá muito conselho. Seja na seleção francesa ou no PSG, todo mundo gosta dele. É um cara de grupo, não é um cara que vai gritar no vestiário. Nem para o positivo e nem para o negativo. Ele passa coisas importantes. É um cara superalegre, que dá energia positiva.
- E o trabalho do Luis Enrique com ele. Não é só tático o reposicionamento, é também de passar confiança e a conscientizá-lo da necessidade de trabalhar defensivamente. Isso fez com que ele esteja chegando a uma plenitude que se converte em gols e assistências, ele é muito mais decisivo do que antes. Ele erra muito menos na frente do gol - opina Stéphane Darmani.
Balanço dos números
Dembélé está a um gol de igualar o seu recorde de gols anotados por um só clube. No Barcelona, fez 40 e deu 42 assistências em 185 partidas. Na primeira temporada de PSG (2023/2024), foram apenas seis gols e 12 passes decisivos. Na atual, multiplicou a conta para 33 gols e manteve o número de assistências.
Foi artilheiro do Campeonato Francês, com 21 gols, marcou oito na Champions, fez o do título da Supercopa da França e ainda anotou três na Copa da França. Na competição continental, foi decisivo contra os ingleses Liverpool e Arsenal, balançando a rede tanto em Anfield quanto no Emirates Stadium.
Não sabe o que Dembélé comeu no Natal passado, mas que Luis Enrique lhe deu um presentão ao reposicioná-lo em campo e ao transformá-lo num exemplo dentro do grupo do PSG ninguém duvida.
- Ele oscila ainda, hoje está num momento que não é tão bom quanto o do início do ano, das quartas e semifinais da Champions. Ele teve pequena queda de rendimento, mas também foi menos utilizado pelo Luis Enrique, que sabe muito bem administrar os tempos de repousos de cada jogador. Dembélé é um cara que se aproveitou muito disso. Até pela rápida ascensão do Desiré Doué, o Luis Enrique teve uma solução para descansar mais o Dembélé. Ele jogou menos, por isso os números caíram um pouco. Acho que o conjunto de tudo isso (em que o atleta apostou e se dedicou) faz com que o Dembélé possa concorrer à Bola de Ouro - concluiu Darmani.
Dembélé, do PSG, ergue o troféu da Ligue 1
Tim Clayton/Corbis via Getty Images

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