Dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira e com recohecimento internacional, o mineiro Paulo Nazareth tem o hábito de andar sem sapatos, mas foi barrado no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, em BH, onde participava da exposição Ancestral: Afro-Américas . Artista Paulo Nazareth durante performance em Inhotim, em 2024.
Maíra Cabral
O artista mineiro Paulo Nazareth, de 48 anos, tem o hábito de andar sem sapatos numa forma de performance permanente e cotidiana. Muitas vezes ele usa chinelos e outras fica descalço mesmo.
Foi por estar assim — com os pés no chão — que ele foi barrado de entrar no prédio do Circuito Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB BH), que fica na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul da capital.
Em 11 de maio, um domingo, Paulo estava acompanhado da esposa e dos filhos, e pretendia visitar a exposição Ancestral: Afro-Américas, que estava aberta pelo último dia, e contava com uma obra — Ovos de Colombo - Produtos de genocídio — de sua autoria. Mas ele foi impedido pelos funcionários por estar descalço.
Um ato simbólico — chamado de Descalçaço Coletivo — foi convocado para esta segunda-feira (26) em apoio ao artista, às 18h30, em frente ao prédio da instituição.
Paulo Nazareth e sua instalação na feira Miami Art Basel, em 2011
Divulgação
Outro lado
Em nota, o CCBB BH confirmou o ocorrido e disse que “as equipes contratadas já foram prontamente reorientadas quanto às normas de visitação”.
“Eventualmente, podem existir orientações específicas relacionadas à preservação de determinadas obras ou à segurança dos visitantes, como em situações que envolvam instalações sensíveis ou intervenções no piso — o que não se aplicava neste caso. O CCBB reafirma seu profundo respeito pela trajetória de Paulo Nazareth, que, inclusive — para nosso orgulho — já integrou a programação do Centro Cultural ao longo desses 12 anos de história em Belo Horizonte.”, informou a nota do CCBB BH.
Descalçaço Coletivo
Um ato foi convocado por artistas e professores da instituição de ensino em artes da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Escola Guignard, e pelo próprio Paulo Nazareth, com apoio da Comissão de Liberdade de Imprensa e Expressão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Belo Horizonte.
O Descalçaço Coletivo vai acontecer às 18h30 desta segunda-feira (26), no coreto da praça da Liberdade, em frente ao CCBB BH.
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Belo Horizonte, escreveu um texto com críticas à instituição e manifestou apoio ao ato Descalsasso Coletivo 2025, convocado para esta segunda-feira (26).
“(...) Ao ser barrado por estar descalço – um gesto coerente com sua poética –, não se violou apenas um direito individual, mas se comprometeu o sentido público e democrático de um espaço cultural sustentado com recursos públicos e patrimônio do povo mineiro”, diz a nota da OAB BH.
Ovos de Colombo
O trabalho do artista Ovos de Colombo - Produtos de genocídio, de 2021, era uma das mais de 130 obras que compunham a mostra Ancestral: Afro-Américas, no CCBB BH. A obra faz referência a Cristóvão Colombo, navegador e explorador das Américas nascido em 1451, visto por muitos historiadores como protagonista do genocídio e da repressão cultural dos povos nativos na América .
Dos nomes de maior destaque na arte contemporânea brasileira e reconhecido internacionalmente, Paulo Nazareth tem mais de 20 anos de carreira.
Um dos trabalhos mais emblemáticos de Paulo é Notícias de América, de 2012. O artista fez uma caminhada (não se sabe se literalmente) de Santa Luzia, na Grande BH, até Miami, nos Estados Unidos, sem lavar os pés, em uma intervenção urbana conceitual. O intuito era levar a poeira da América do Sul até o país norte-americano
Descendente do povo indígena krenak e da população negra escravizada, ele é natural de Governador Valadares, Região Sudeste de de Minas, mas vive desde a infância e trabalha em Santa Luzia.
A reportagem do g1 entrou em contato com a equipe de Paulo Nazareth e aguarda o posicionamento do artista.
Artista Paulo Nazareth trabalha com os dizeres respeito em várias línguas. (Foto: Arquivo/2016)
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