
Herói no Ba-Vi, atacante passou dificuldade financeira e perdeu amigo que ajudou no início da carreira Destaque do Bahia na temporada, Erick Pulga participa do Seleção
Dono de lances de efeito e gols importantes, o atacante Erick Pulga entrou nas graças da torcida do Bahia como o Fantástico Pulguinha. Mas muito antes de desfilar no campo, o garoto humilde e batalhador do bairro Vila Velha, em Fortaleza, já era extraordinário.
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A história de superação começou cedo. Filho mais velho de Eliza Paiva da Costa, Erick Pulga passou a ajudar a família com a venda de salgados quando os seus pais decidiram se separar. A habilidade em campo também estava presente na criação de bolinhas de queijo, muito por conta da condição imposta pela mãe para ser liberado para fazer o que mais ama.
- Sempre foi um menino que gostou muito da bola. A gente sempre batalhou para que ele realizasse o sonho dele. Sempre trabalhei, ele me ajudava a fazer salgado, a fazer bolinhas de queijo. Só ia para o campo se me ajudasse, essa era a brincadeira que eu fazia com ele. E ele fazia bem rápido - lembrou dona Eliza, durante entrevista ao ge.
Erick Pulga e a mãe, dona Eliza
Arquivo pessoal
Erick da Costa Farias tinha dez anos quando alternava entre ajudar a mãe e jogar bola, mas outras dificuldades logo surgiriam na vida do candidato a atacante. Com a família em dificuldades financeiras para pagar o transporte até o local de treino, Erick também não podia comprar uma bicicleta para facilitar o deslocamento. Foi aí que surgiu uma amizade que mudaria sua vida.
- Quando ele ia treinar era muito distante. Tinha dificuldade, ele às vezes chorava, não tinha bicicleta, não tinha dinheiro de passagem. Ele foi conhecendo algumas pessoas, um amigo que emprestou a bicicleta. Esse amigo ia até com ele para o treino, eram muito próximos - lembra dona Eliza.
Mas o amigo em questão foi vítima da violência em um drama pessoal que abalou Erick Pulga, um baque ainda recente na vida do jovem atacante.
Deus já levou, a gente chamava ele de Biel. Ele chamou o Erick para cortar o cabelo, mas Erick disse que ia depois. De uma rua para a outra pegaram ele. Acho que foi de 2020 para 2021, disse Eliza.
- Biel ajudou muito o Erick, eram muito amigos. Erick sentiu muito a perda dele - completou a matriarca.
Erick Pulga em Palmeiras x Bahia
Rafael Rodrigues/ EC Bahia
Além da vida financeira difícil e da morte do amigo, o atacante sofreu como atleta em formação. Sem muitas oportunidades no futebol de base, Pulga contou com a ajuda de um projeto social para realizar seu sonho. Em especial um professor que guarda o nome com carinho.
- Minha família está muito orgulhosa de mim, né? Vim de baixo, é difícil você chegar no profissional. Eu não tive muita base. Sempre joguei em campos de areia. E eu saí de um projeto chamado Projeto União. E esses caras me ajudaram, em especial Fábio Silva. Ele que me tirou lá de baixo, que me ajudou, porque minha vida não foi fácil. É emocionante porque só Deus sabe o que eu passei na minha vida - lembrou o atacante.
Erick Pulga com a família
Arquivo pessoal
Nunca desisti
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Erick se profissionalizou no Atlético Cearense, em 2021, e passou por equipes como Madureira, Campinense, Maracanã e Ferroviário. Foi nesta época que o jogador rápido e franzino passou de vez a ser chamado de Pulga, um apelido que pegou do irmão e vem de família.
Destaque do Ferroviário, Pulga foi contratado pelo Ceará, em 2023, em ano que explodiu ao ser artilheiro da Série B e brilhar pelo time na campanha de acesso.
O Bahia, então, desembolsou três milhões de dólares (R$ 18,8 milhões na época) para contratar o atacante, que rapidamente se adaptou ao novo clube. Além de ser o artilheiro do Tricolor, com dois gols marcados em clássicos, ele é o segundo jogador com mais assistências pelo time.
O sucesso em campo vem acompanhando de outras tantas conquistas fora dele. No dia 11 de maio deste ano, o atacante realizou o sonho de presentear a mãe com um imóvel.
- Graças a Deus me mudei agora. Casinha simples, mas do jeito que eu queria. O sonho dele era me dar uma casa - disse, cheia de orgulho, dona Eliza.
Eu acho que é muita emoção porque eu vim de baixo, né? Todo mundo sabe. Minha vida foi difícil, mas eu nunca desisti. Eu sempre me mantive de pé, lembrou emocionado Erick Pulga.
Família de Pulga em Bahia x Ceará, pelo Brasileirão
Arquivo pessoal
Erick Pulga é um raro exemplo do futebol brasileiro. Daquela criança que superou as adversidades e leva para o campo os improvisos da vida. Que não tem medo de errar o drible, o passe, o chute, afinal de contas, a sua vida também é feita de coragem. E para quem já passou por tanta coisa, passar por um zagueiro faz parte do roteiro de superações e momentos de alegria.