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Mais carentes, gordinhos e observados: pesquisa aponta o que a pandemia fez com os gatos do Brasil

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

13/04/2025 por Redação

Pesquisadora da UFRGS analisou comportamento de felinos no período da crise mundial de coronavírus. Gato preto.
reprodução/canva
Enquanto os humanos enfrentavam o período de confinamento na pandemia, outros habitantes de alguns lares também passavam por uma revolução silenciosa: os gatos. Durante o período de crise mundial de coronavírus, os felinos estavam absorvendo cada mudança no ambiente dentro de casa.
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Foi isso que a médica veterinária Maíra Ingrit Gestrich-Frank decidiu investigar em seu mestrado em Biologia Animal na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Apaixonada por gatos desde criança, Maíra percebeu que o isolamento social criou uma oportunidade de estudar como mudanças abruptas na rotina dos humanos impactavam a vida dos felinos domésticos.
A carência de estudos que buscaram explorar esses aspectos nos três diferentes períodos relacionados à pandemia, me motivaram a explorar esse campo de pesquisa, buscar associações e comparar essas variáveis, explica.
A pesquisa de Maíra analisou três períodos distintos: pré-pandemia, confinamento e pós-confinamento. O método é simples: um questionário online com 31 perguntas enviado para tutores de gatos de diversas regiões do Brasil. A ideia era entender como o ambiente e os comportamentos dos felinos haviam se transformado.
Entre os bons resultados, o chamado “escore ambiental” – uma medida da qualidade do ambiente para os gatos – melhorou significativamente. Tutores passaram a investir mais em arranhadores, brinquedos, locais elevados e áreas seguras de descanso.
A maior presença dos tutores na residência e o maior convívio com os seus gatos parecem ser fatores que favorecem um ambiente felino mais saudável, no sentido de disponibilizar mais recursos ambientais para os seus gatos, comenta a pesquisadora.
No entanto, com a convivência intensa, surgiram também algumas rachaduras na harmonia felina. Apesar de alguns gatos terem ficado mais carentes, outros ficaram mais agitados. Aumento de miados, mudanças no apetite, comportamentos destrutivos e lambedura excessiva também foram registrados, ainda que de forma moderada.
Gatos da veterinária Maíra Ingrit Gestrich-Frank
Arquivo Pessoal
Obesidade felina
Entre as descobertas mais curiosas do estudo está a ligação direta entre sedentarismo e obesidade felina. O estudo observa que, no período anterior à pandemia, havia um maior número de gatos com peso ideal, considerado saudável. No entanto, após o confinamento, notou-se um aumento no ganho de peso dos gatos. Ou seja, os gatos acabaram ganhando mais peso a partir do confinamento, conforme apontam os dados analisados de forma descritiva.
De acordo com Maíra, gatos que tinham acesso ao ar livre — mesmo que apenas por uma janela telada ou um “gatio” improvisado — apresentaram menor tendência ao ganho de peso. Já os que passaram o confinamento entre sofá, ração e colo tiveram mais chance de engordar.
Uma rotina monótona pode predispor os gatos domésticos a obesidade, pois a gente observa uma correlação entre o nível de atividade física e a possibilidade de livre acesso ao meio externo, com uma redução na chance de ganho de peso nesses gatos, expõe.
Companhia humana
Outro ponto importante da pesquisa foi a mudança no vínculo entre humanos e gatos. Muitos se tornaram mais afetuosos e brincalhões durante o confinamento, e esse comportamento permaneceu mesmo após a volta à rotina.
A gente também observa o aumento desse comportamento de maior busca por atenção no período após o confinamento, o que pode ser um reflexo, um efeito de longo prazo, comenta.
E se você pensa que todo gato prefere ficar sozinho, a pesquisa mostra que isso é relativo. Cada gato tem sua personalidade. Mas, em média, os que tinham companhia constante apresentaram melhor qualidade de vida do que os que passaram longas horas solitários.
O aumento do vínculo entre humanos e gatos proporcionado por esse maior tempo de convivência pode fazer com que esse tutor se preocupe ainda mais com o gato, se preocupe em estudar e proporcionar um ambiente cada vez mais saudável e também rotina de interação positiva, diz.
A veterinária Maíra Ingrit Gestrich-Frank tem três gatos
Arquivo Pessoal
Como melhorar a convivência com o felino
Gatos são animais que prezam pela segurança e pelo controle do ambiente, especialmente durante momentos delicados como comer, beber água ou usar a caixa de areia. Por isso, é fundamental posicionar esses itens em locais calmos, afastados de ruídos e do vaivém da casa, para evitar que o animal se sinta estressado ou ansioso.
O aumento de comportamentos negativos de alguns gatos pode estar relacionado ao excesso da convivência humana no sentido da qualidade dessa interação e de quanto esse humano ou a família humana respeitam o espaço do gato, explica
De acordo com a pesquisa, ter um cantinho reservado para descanso e esconderijo também ajuda o gato a se sentir protegido e mais confiante em seu território. Além disso, a previsibilidade na rotina e nas interações com os tutores é outro fator importante.
Vão ter gatos que vão gostar mais de ficar mais tempo ainda no seu espaço, então é importante que esse gato não seja manejado, não seja retirado do seu local de descanso, não seja carregado, porque isso pode ser um fator estressor, comenta Maíra.
O enriquecimento sensorial também deve ser considerado. Gatos costumam se interessar por estímulos visuais e auditivos, como observar a paisagem pela janela, acompanhar o movimento de um aquário ou brincar com objetos que emitem sons. Já o olfato pode ser estimulado com ervas como a catnip ou com feromônios sintéticos.
Segundo Maíra, quando possível, permitir o acesso a uma área externa protegida — como uma varanda com tela — é uma alternativa para ampliar o território do gato com segurança.
Alguns felinos também podem se adaptar ao uso de coleira e guia para passeios ao ar livre, desde que o processo seja feito com paciência, respeitando os limites de cada animal e garantindo uma experiência positiva.
Quero um gato, o que fazer?
Uma recomendação da Maíra para quem ainda não tem gatos, mas pensa em adotar, é dar preferência à adoção de dois irmãozinhos ou dois filhotes.
Esses gatos provavelmente vão se tornar amigos e um pode fazer companhia para o outro, comenta.
Eles tendem a realizar comportamentos em conjunto, como brincadeiras e momentos de descanso em proximidade, o que, segundo a pesquisadora, é muito positivo para o bem-estar deles.
Algumas pessoas acreditam que os gatos só são simpáticos com os humanos para obter comida
Getty Images/BBC
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