Divulgação/Notícias ao MinutoO tribunal penal de Dar El Beida, perto de Argel, pronunciou "na presença do arguido, uma sentença de cinco anos de prisão", metade da pena pedida pela acusação, segundo a agência noticiosa France-Presse (AFP), que esteve presente na audiência.
O escritor, até então reconhecível pelo laço usado para prender os cabelos atrás da cabeça, apresentou-se no banco dos réus com o cabelo rapado (como todos os presos na Argélia), vestindo um casaco verde e sem algemas, aparentando estar em boa forma, apesar de sofrer de cancro, segundo a mesma fonte.
Sansal, de 80 anos, segundo a sua editora Gallimard, foi acusado de atentar contra a integridade do território por ter defendido, no órgão de comunicação social francês de extrema-direita Frontières, a posição de Marrocos, segundo a qual vastas zonas do país teriam sido amputadas em benefício da Argélia durante a colonização francesa.
A sua detenção, a 16 de novembro, em Argel, veio agravar as fortes tensões bilaterais surgidas no verão passado na sequência de uma reviravolta francesa a favor da posição marroquina sobre a espinhosa questão do Sahara Ocidental, que defende uma maior autonomia de Rabat na antiga colónia espanhola em África, enquanto a Argélia, que a apoia a Frente Polisário, defende o referendo de autodeterminação definido em 1991 pela ONU.
Antes da sua detenção, Sansal, antigo alto funcionário público argelino e crítico das autoridades, deslocava-se frequentemente à Argélia, onde os seus livros são vendidos livremente.
Antes pouco conhecido em França, Sansal beneficia agora de um vasto apoio. O seu advogado francês, François Zimeray, apelou ao Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, para que o perdoasse, tendo em conta a sua "idade e o seu estado de saúde".
Sansal, que no início do julgamento corria o risco de ser condenado a prisão perpétua, tem 10 dias para apresentar um recurso.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse "esperar sinceramente" que Sansal possa "voltar a ser um homem livre".
"Sei que posso contar com o bom senso e a humanidade das autoridades argelinas para tomar esta decisão", acrescentou.
Após a dura acusação, Macron, que apelou hoje à libertação de Sansal, mostrou-se confiante na clarividência de Tebboune, "que sabe que as acusações não são graves".
Durante o julgamento, em que se defendeu sem advogado, Sansal negou qualquer intenção de prejudicar o país, explicando que tinha exercido a "liberdade de expressão", admitindo, porém, que tinha subestimado o alcance das suas declarações, segundo um órgão de comunicação social argelino presente na audiência.
No sábado passado, Tebboune enviou sinais de apaziguamento a Paris, afirmando que o diferendo estava "em boas mãos", com Macron ou qualquer pessoa encarregada de o tratar, como o seu chefe da diplomacia Jean-Noël Barrot, como o seu "único ponto de referência".
Segundo o portal de notícias argelino TSA, citando "duas fontes", uma visita de Barrot a Argel está "em preparação" com o objetivo de "apaziguar".
Sobre a questão do Sahara Ocidental, que desencadeou o diferendo bilateral, Tebboune tinha feito comentários comedidos, criticando em particular as visitas de responsáveis franceses a este território, cujo estatuto não está definido pela ONU, e referindo-se a um "momento de mal-entendido" com Paris.
A Argélia retirou o seu embaixador em Paris no final de julho, quando Paris deu o seu apoio a um plano de autonomia sob soberania marroquina para o território, 80% do qual é controlado de facto por Rabat, mas reivindicado há meio século pelo movimento de libertação da Frente Polisário, apoiada por Argel.
Segundo o analista político argelino Hasni Abidi, o Presidente da Argélia gostaria de ver uma "solução rápida e honrosa" para a crise com Paris, mencionando um possível perdão presidencial, pois a resolução do caso Sansal permitiria a Macron recuperar o controlo de uma questão "monopolizada pelo seu ministro do Interior", Bruno Retailleau.
Argel acusa a direita e a extrema-direita francesas de "algerofobia", com os seus repetidos apelos a uma repressão ou mesmo a uma rutura com a Argélia. Retailleau, que se candidata à presidência do partido de direita Republicanos, está na linha da frente desta batalha.
Este ministro ameaçou com uma "resposta gradual", depois de a Argélia ter recusado argelinos influentes expulsos de França e na sequência de um atentado homicida perpetrado em França, em fevereiro, por um argelino, que foi objeto de expulsões do país rejeitadas por Argel.
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