Nesta sexta-feira 13 do último mês de 2024, ge lembra e descreve vários episódios do futebol brasileiro que foram tramas dignas de filmes de terror, com direito a assombrosos carrascos Os gols de Brasil 1 x 7 Alemanha pelas semifinais da Copa do Mundo 2014
Hoje é sexta-feira. Mas não uma sexta-feira qualquer. É sexta-feira 13. Dia do azar. Ou pelo menos considerado assim por várias culturas populares por todo o planeta. Aproveitando a data, o ge resolveu relembrar de carrascos do futebol brasileiro. Dos clubes do país, como Flamengo, Palmeiras, Vasco e outros à seleção brasileira, foram muitos os carrascos e os verdadeiros filmes de terror que escreveram histórias trágicas para pelo menos um lado do jogo de futebol.
A seleção e seus pesadelos
Pentacampeã mundial e uma das grandes seleções da história do futebol, a Seleção Brasileira também têm seus filmes de terror numa de suas estantes da história. O maior deles, inevitavelmente, o leitor já deve bem saber qual é.
Em 2014, recebendo a Copa do Mundo em casa pela segunda vez, o Brasil, a trancos e barrancos, é bom lembrar, chegou à semifinal do Mundial. Ou seja, fazia uma caminhada de disputar realmente a taça. Iria encarar a Alemanha, uma outra favorita ao título. Nem o mais otimista torcedor brasileiro imaginaria que seria um jogo fácil e uma vitória tranquila. Mas nem o maior pessimista da torcida brasileira iria formular em pensamento o que seria certamente entendido como devaneio: a Seleção, em casa, ser humilhada.
O eventual devaneio se tornou uma realidade dura e deprimente. O Brasil de Felipão, técnico responsável pelo penta, foi uma presa fácil para os alemães. Mesmo com grandes jogadores no time, a exemplo de Maicon, Júlio César e Fernandinho, o Brasil foi envolvido em campo de tal forma que tudo que aconteceu foi arte.
Menino torcedor choro Brasil Alemanha 2014 7 a 1
Reprodução/TV Globo
Para a Alemanha, um recital clássico de ímpar beleza, em homenagem à histórica, bela e universal música alemã. Para o Brasil, um filme de terror digno de grande bilheteria. A seleção alemã venceu por 7 a 1 e imprimiu ao Brasil a sua maior e mais infame derrota em Mundial.
O 7 a 1 ofuscou até a, até aquele momento, maior trama fantasmagórica do futebol brasileiro de seleção, que tinha o maior antagonista do futebol brasileiro até aquele momento, o uruguaio Ghiggia, o grande carrasco da história da seleção canarinha.
Em 1950, o Brasil recebia a sua primeira Copa do Mundo. Participante de todas as edições do Mundial até aquele momento, o Brasil começava a despontar como grande força na modalidade, mas ainda não tinha conquistado nenhum título mundial. De modo que chegou para a competição como um dos favoritos e com a chance real de ser campeão pela primeira vez, justamente em solo brasileiro, como anfitrião. Cenário perfeito. Mas o conto não seria de fadas em 1950.
Após avançar para o quadrangular final, o título foi decidido em pontos corridos entre quatro seleções: Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia. No último jogo, onde o título seria definido, o Brasil encarou a grande força da América do Sul naquele momento e com quem a seleção brasileira disputava a hegemonia futebolística da região: o Uruguai. A Celeste era bicampeã olímpica àquela altura e já tinha um título mundial, o da primeira Copa do Mundo, em 1930.
Barbosa 100 anos: conheça a trajetória do goleiro injustiçado por um gol na Copa de 1950
O Brasil jogava por um simples empate, dentro de casa, no Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, para se sagrar pela primeira vez campeão mundial. O dia 16 de julho, no entanto, reservou ao país um dos maiores momentos de sustos, suspenses, tensões, desesperos e choros para a população local. E nasceu, ali, um dos maiores carrascos do futebol brasileiro, o atacante Ghiggia.
O Brasil chegou a abrir o placar com Friaça. No segundo tempo, no entanto, o que parecia um caminho para o final feliz virou uma tormenta. O Uruguai virou com Schiaffino e depois com Ghiggia, naquele famoso chute forte, entre a trave esquerda brasileira e o goleiro Barbosa, que ficou eternamente estigmatizado pelo lance e sofreu bastante com a condenação que o futebol e seus seguidores desalmados lhe impuseram. A virada fez o silêncio do Maracanã ecoar por todo o país. Era a tragédia brasileira se espalhando de todos os espaços nacionais também para o futebol. Uruguai campeão mundial dentro do Maracanã, e um filme de terror lançado para eternidade que se chama Maracanaço.
O Salvador cruel
Agora entrando nas histórias dos clubes, temos um paraguaio que foi um dos grandes carrascos do Flamengo. Até hoje, o atacante Salvador Cabañas é lembrado pelos rivais em ocasiões de fracassos inesperados rubro-negros. O que já foi mais comum.
Flamengo perde de 3 a 0 do América do México e é eliminado da Libertadores 2008
Na Copa Libertadores da América de 2008 virou ídolo de várias torcidas cariocas. Jogando pelo América do México, contra o Flamengo, Cabañas marcou dois gols na vitória por 3 a 0 sobre Fla, em pleno Maracanã, pela volta das oitavas de final do torneio. O Flamengo tinha vencido a partida de ida no México por 4 a 2. A classificação estava nas mãos. Mas aí veio Cabañas, que foi fundamental para a remontada e para traumatizar mais uma vez o clube carioca.
Filmes de terror na Copa do Brasil
Se hoje o Palmeiras é uma das maiores forças do futebol brasileiro, com possibilidades sempre pequenas de eliminações precoces ou humilhantes nas competições que disputa, nem sempre foi assim. No início dos anos 2000, a coisa era um pouco diferente.
O Palmeiras foi vítima em pelo menos dois filmes de terror dentro da competição. Em 2002, o Palmeiras pegou o ASA, em Arapiraca, na 1ª fase do torneio. Naquele ano, caso o Verdão vencesse por dois gols de diferença, o clube sequer fazia o jogo de volta e já eliminava o modesto ASA com apenas um jogo disputado. Mas o mau presságio começou cedo. No jogo de ida, o ASA venceu por 1 a 0 em uma vitória por si só histórica para o clube de Arapiraca.
ASA comemora classificação histórica
Sportv
Na volta, no antigo Parque Antártica, mesmo com a derrota na ida, o time do então treinador alviverde, Vanderlei Luxemburgo, era favorito e o esperado era a zebra se limitar ao duelo de ida. Mas não foi essa a história. O Palmeiras até venceu por 2 a 1, mas com o gol marcado fora de casa, o ASA avançou de fase. Uma conquista histórica. E uma noite terrível para o Verdão, que sofreu dois gols de Sandro Goiano no confronto, em Arapiraca e em São Paulo, ganhando um grande carrasco para sua história na Copa do Brasil. Foi a primeira vez que o Verdão caiu ainda no estágio inicial da maior competição de mata-mata do país.
No ano seguinte, o Palmeiras viveu outra noite tenebrosa, de causar calafrios a todo torcedor palmeirense que viveu a Copa do Brasil de 2003 das arquibancadas ou do sofá de casa. Nas oitavas de final da competição, o Palmeiras encarou o Vitória. E o enredo parecia que ia ficar longe de um roteiro de filme de terror.
Em 2003, Vitória goleia por 7 a 2 e derruba o Palmeiras na Copa do Brasil
É que no jogo de ida, no Barradão, o Porco bateu o Leão por 3 a 1, em Salvador. Uma grande vantagem para levar para o jogo de volta, em São Paulo, e controlar. Mas o que se viu no Palestra Itália foi um verdadeiro vexame. O Vitória se impôs fora de casa e, mais do que isso, humilhou o dono dela. Um 7 a 2 estrondoso, com direito a quatro gols de Nadson, que teve memorável atuação, virando o terror do Palmeiras. Pelo menos por uma noite.
Cícero Romário
Aproveitando o ensejo de Copa do Brasil, outro clube que sofreu com um carrasco inesperado e teve que dormir com pesadelos em uma edição do torneio foi o Vasco. O time que tinha Romário em 2005 caminhava bem na Copa do Brasil. Tinha passado pelo União Rondonópolis na 1ª fase e eliminado o Moto Club na 2ª fase.
Cícero Ramalho relembra vitória do Baraúnas sobre o Vasco pela Copa do Brasil em 2005
Nas oitavas de final pegava um inesperado Baraúnas, que tinha eliminado América-MG e Vitória. Apesar disso, ninguém esperava muito que o Vasco de Romário e Alex Dias, uma ótima dupla de ataque, fosse cair para o clube de Mossoró, que fica no interior do Rio Grande do Norte.
No jogo de ida, um 2 a 2 já heroico para o clube potiguar. Na volta, o Vasco precisava apenas de uma vitória. Aliás, a situação ainda era melhor. Um empate sem gols e por 1 a 1 colocava o Vasco nas quartas, pelo critério de gols fora de casa.
Acontece que o clube carioca não viu a cor da bola em pleno São Januário. Em vez do Romário carioca, a noite foi do Romário do Nordeste. O experiente Cícero Ramalho, que naquele ano tinha 41 anos, foi o destaque do jogo e marcou um dos gols da vitória do Baraúnas sobre o Vasco de Joel Santana, que viveu uma real noite de terror com um sonoro 3 a 0 dentro de casa.
Terror no Nordeste
Não dava para construir essas lembranças em forma de texto sem rememorar um clássico do cinema da bola em termos de terror. Terror pelo menos para o futebol nordestino. Ou mais precisamente para um clube nordestino. O filme tem até um nome, bem conhecido: A Batalha dos Aflitos.
Galatto defende pênalti e filme de terror começa para o Náutico
Ricardo Duarte, Agência RBS
Esse foi uma das grandes histórias do futebol brasileiro. Que teve final feliz para um lado, o Grêmio, mas teve um final trágico para o outro, o Náutico. Como estamos falando de sexta-feira 13, vamos falar do terror que foi aquela tarde de 26 de novembro de 2025 para o Timbu.
O Náutico recebia o Grêmio no quadrangular final da Série B. O jogo valia o acesso para os dois clubes no Estádio dos Aflitos, casa do time pernambucano. O nome já não é muito sugestivo para um estádio de futebol. E foi a mais precisa alcunha para o que aconteceu com o torcedor alvirrubro naquele dia.
Ao Grêmio bastava um empate para se garantir na Série A do ano seguinte. Uma vitória em Recife daria ao clube o título de campeão da Série B daquele ano. Já o Náutico precisava vencer a partida para garantir o acesso junto com o Santa Cruz para a elite, no que seria uma festa grande para o futebol pernambucano.
Aos 35 minutos do segundo tempo, o árbitro Djalma Beltrami assinala pênalti para o Náutico. A vitória do Timbu, àquela altura, manteria o Grêmio na Série B. Considerando a marcação injusta, os jogadores do Grêmio partem para cima do árbitro de forma acintosa. O clima fica hostil para a arbitragem. Beltrami é agredido por Nunes e Patrício e expulsa os jogadores. A Polícia Militar de Pernambuco entra no gramado e começa uma confusão entre policiais e jogadores do Grêmio. A partida é paralisada por mais de 20 minutos, e o clube gaúcho ameaça sair de campo. Domingos, do Grêmio, ainda é expulso antes da batida do pênalti.
Batalha dos Aflitos II: Grêmio vence Náutico e volta à Série A
A situação era extremamente desfavorável ao clube gaúcho, que tinha três expulsos e um pênalti contra a ser batido pelo Náutico. A iminência de não subir de divisão era real. O Náutico, portanto, passava a ter a faca e queijo na mão rumo ao acesso. Na pior da hipóteses, em caso de pênalti perdido, ia ter cerca de 10 minutos para encontrar um gol com três jogadores a mais e notável superioridade numérica. Mas o foco era o gol de pênalti.
Ademar vai para cobrança e perde. Galatto defende e dá uma fagulha pequena de esperança ao Grêmio, que ainda poderia subir de divisão com o empate. O Náutico ainda tinha tempo de buscar a vitória, afinal a pressão seria grande, com tamanha superioridade numérica em campo. Mas a sessão para o Náutico era mesmo de um filme de terror.
Após escanteio resultante do pênalti perdido, o Náutico desperdiça o lance e, pior, concede um contra-ataque ao Grêmio. Contragolpe mortal do Imortal. Mesmo com poucos jogadores, o time gaúcho encaixa a jogada e o então jovem Anderson marca para o Grêmio na jogada seguinte ao pênalti. Estava ali um dos maiores filmes de terror da história do Náutico e do futebol brasileiro. Assim como foi uma das maiores histórias de superação de um clube brasileiro dentro de uma partida de futebol.
Anderson marca o gol da vitória do Grêmio
Ricardo Duarte/Agência RBS
Por que a sexta-feira 13 remete ao azar?
A superstição de que a sexta-feira 13 é um dia de azar tem origens em várias culturas, que envolvem tanto o simbolismo do número 13 quanto a associação da sexta-feira com acontecimentos negativos. Um desses significados advém da cultura cristã.
Nela, a sexta-feira carrega conotações negativas. A crucificação de Jesus Cristo, um evento central na religião, teria ocorrido em uma sexta-feira, o que acabou associando esse dia da semana a sofrimento e morte. Nesse mesmo contexto, Jesus tinha 12 apóstolos, totalizando 13 pessoas. Ao longo dos séculos, essa ligação fortaleceu a ideia de que a sexta-feira é um dia de infortúnio.
O dia ganhou também um aspecto mercadológico, sobretudo depois da propagação de produtos culturais sobre o tema. O filme Sexta-feira 13, de 1980, que depois virou uma franquia com uma séria de filmes, é o principal sucesso da indústria cultural americana a tratar o dia como algo importante da trama, que é do gênero de terror. É nele que começa a história do antagonista do filme, o famoso psicopata e serial killer Jason Voorhees.
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