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Em cirurgia inédita no mundo, HC de Ribeirão Preto usa robô para retirar 98% do pâncreas de bebê de 7 meses com doença rar

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

07/09/2024 por Redação

Menina tem hiperinsulinismo congênito, condição descoberta após episódios repetidos de hipoglicemia. No Brasil, 164 crianças convivem com a mesma condição. Bebê de 7 meses passou por primeira cirurgia robótica do mundo para retirada de pâncreas no HC de Ribeirão Preto, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
Uma bebê de 7 meses de Ribeirão Preto (SP) foi a primeira criança no mundo a passar por uma cirurgia robótica no pâncreas. Ela nasceu com hiperinsulinismo congênito, condição rara. No Brasil, apenas 164 pacientes convivem com a mesma doença.
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O hiperinsulinismo congênito faz com que o pâncreas produza insulina independentemente do nível de glicose no sangue, o que pode levar à hipoglicemia e agravar o quadro em crianças tão pequenas.
Segundo o endocrinologista pediátrico Raphael Del Roio Liberatore Junior, a condição foi descoberta, justamente, depois de episódios repetidos de hipoglicemia, onde era necessário tomar glicose na veia para normalização.
Como ela mantinha episódios de hipoglicemia, isso é absolutamente anormal a partir do quinto dia de vida, a gente iniciou a investigação focada na principal causa para esse fenômeno, que é o hiperinsulinismo congênito.
A cirurgia foi realizada por um robô comandado por uma equipe multiprofissional do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e durou cerca de quatro horas. No procedimento, feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foi retirado 98% do pâncreas da bebê.
Caso inédito no mundo
O ineditismo do caso precisou de adequações para que tivesse êxito, diz Fábio Volpe, cirurgião da divisão de cirurgia pediátrica e transplante de fígado do HC.
Estamos falando de uma criança de 7 meses e oito quilos. Como não existia referencial teórico e nem técnico na literatura, usamos a experiência que a equipe já tem em videocirurgia para fazer algumas adequações. Muitas vezes, o que limita o uso do robô em crianças pequenas é o campo operatório. Você não tem muita janela para implementar os braços e articulações do robô dentro da cavidade abdominal. Mas algumas adequações foram possíveis, e somado à experiência que a equipe tinha, fez com que a cirurgia pudesse ser exitosa.
HC de Ribeirão Preto, SP, fez a primeira cirurgia robótica de pâncreas do mundo em bebê de 7 meses
Reprodução/EPTV
Segundo ele, o robô ganha em precisão em comparação com os outros tipos de cirurgia: aberta e laparoscópica.
Ganha em alguns detalhes técnicos, que fazem com que a complicação seja menor e o resultado mais favorável. Quando se fala de uma criança pequena com um pâncreas com uma dimensão de seis, sete centímetros e a obrigatoriedade de tirar 95% do órgão, faz com que o robô deva ser considerado uma possibilidade.
Volpe explica que a pinça utilizada era própria para cirurgias em obesos.
Quando implementamos a pinça do robô dentro da cavidade abdominal, ela entra pelo que chamamos de trocarte. Esse trocarte é a janela, a porta com que essa pinça possa ter acesso à cavidade e foi usado um portal de obeso, que, aparentemente, deveria ser maior, mas pelo fato de ser um pouco do diâmetro mais adequado para as pinças, fez com que a gente pudesse usar na cavidade menor da criança.
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Cirurgião do aparelho digestivo, Alberto Facuri Gaspar explica que a adaptação foi crucial para o sucesso do procedimento.
Em criança, a gente sabe que, do ponto de vista anatômico, é até mais fácil de ver os órgãos. Mas, por outro lado, a criança não tem espaço, o espaço geralmente é escasso. Então a gente conversou, conseguiu adaptar instrumentos de adulto, com um pouco de diâmetro menor.
A experiência da equipe em cirurgias robóticas em adultos também ajudou a desempenhar um papel melhor na cirurgia com a criança.
Cirurgia em criança pelo uso da plataforma robótica ainda é uma coisa muito nova, e a gente conseguiu junto com todas as equipes, tentar expandir esse horizonte, para trazer esse ganho para a criança, da cirurgia menos invasiva.
Cirurgia robótica no HC em Ribeirão Preto, SP, foi feita pela primeira vez em bebê de 7 meses
Reprodução/EPTV
Doença demorou para ser descoberta
O caso de Helena demorou para ser tratado por falta de diagnóstico no início. egundo Liberatore, a descoberta da doença veio quando a menina apresentou um quadro de bronquiolite aos três meses.
Ela teve uma hipoglicemia no período neonatal [nos primeiros dias de vida], e essa hipoglicemia não foi valorizada. E aí, com três meses de vida, tem uma bronquiolite e, na vigência da bronqueolite, se percebe a hipoglicemia. Até então, ela não tinha o diagnóstico de hipoglicemia, de forma tal que o diagnóstico foi atrasado em três meses.
Mãe da bebê, Lucimara Costa conta que ficou tensa ao descobrir a condição da filha e se preocupou ainda mais por saber que a menina seria a primeira criança no mundo a passar por cirurgia robótica.
Ficava tensa em saber que não tinha o diagnóstico e só foi descobrir quando ela foi internada, com cinco meses e meio. Agradeço muito, sou muito grata a eles, mas foi um teste, foi a primeira. E se tivesse dado errado? Alivia saber que ela está bem, que tudo passou, mas os 48 dias na UTI [após a cirurgia] foram muito tensos.
Lucimara Costa, mãe da bebê de Ribeirão Preto (SP), que passou por cirurgia robótica
Valdinei Malaguti/EPTV
Assista à reportagem do EPTV1 na íntegra:
Bebê de 7 meses passa por cirurgia robótica inédita no HC de Ribeirão Preto
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