Priscilla Tawanny usa habilidade na ginástica rítmica e se inspira na competidora olímpica brasileira em luta diária por respeito e para tirar sustento Trabalhar sem um sorriso no rosto não é uma opção para ela. Roupa e sorriso. Afinal de contas, é sorrindo que Priscila Tawanny encara os desafios de todos os dias. Uma mulher preta, nordestina e trans, a artista se inspira em Babi Domingos e usa sua habilidade e amor pela ginástica rítmica nas ruas do Recife como forma de sobrevivência e de mostrar seu talento.
Ginástica no sinal: Priscilla dribla dificuldades para mostrar talento
É em um sinal no bairro da Torre que ela tira o sustento há quase 10 anos. Oito horas por dia. Aprendeu sozinha, na marra. Sem condições de frequentar uma escola de ginástica ou de participar de campeonatos da modalidade, a rua acabou virando o tablado dela.
Desde os meus 12 anos de idade eu já acompanhava (ginástica rítmica). Na época eu não tinha muito acesso, mas ia em lan houses e tal, e me fez apaixonar cada vez mais por essa modalidade, - relembra Priscilla, que tem como jurados os motoristas, passageiros e pedestres.
O dia dela começa cedo, bem antes de ir pro sinal se apresentar, com a maquiagem e a roupa. Priscilla mora no bairro do Vasco da Gama, na zona norte do Recife. O cuidado com cada detalhe é um exemplo de como ela leva a sério. Na frente do espelho, um momento de fuga da difícil realidade numa das regiões mais carentes do Recife.
Fã de Babi Domingos, ginasta trans usa talento para garantir sustento em semáforo no Recife Fã de Babi Domingos, artista de rua trans mostra talento como ginasta em semáforo no Recife
Reprodução
Inspiração em Babi Domingos e busca por respeito
Não é só no sinal que Priscilla desfila os looks personalizados. Ela faz parte de uma banda marcial, onde continua mostrando seu talento de ginasta com baliza. É a pessoa que vai à frente da banda, agitando o bastão, fazendo acrobacias e dando vida à música criada pelo conjunto.
E muitos desses movimentos que ela realiza são inspirados em grandes nomes do esporte. Babi Domingos, atleta brasileira que representou o país nas Olimpíadas de Paris, é uma delas.
Eu torci bastante pra gente conseguir essa vaga olímpica, e Babi Domingos conseguiu pra gente. Conseguiu uma classificação no individual geral pela primeira vez, e eu tava sempre ali. Corria pra cá pro sinal, e a cada sinal fechado eu tava assistindo uma série, acompanhando as meninas e transmitindo uma energia bem legal pra elas, lembra Priscilla.
Bárbara Domingos se apresenta com as maças em Paris
REUTERS/Hannah Mckay
Nas ruas, medalhas não estão em jogo. A busca é por sustento, reconhecimento e por respeito. Um caminho que ela tem trilhado com muito suor...
Pra sociedade, eu fui tirada como sexo masculino até um certo tempo. Mas pra mim eu sempre fui uma mulher trans. Independentemente de questão hormonal, transição cirúrgica ou algo do tipo, pra você ser uma mulher trans, você só precisa sentir, conta Priscilla.
- Enquanto Deus me der forças, enquanto eu conseguir, eu vou estar aqui sempre, sempre, sempre. Pode ser que não seja num sinal, mas em outros lugares, levando o meu trabalho afora...
Fã de Babi Domingos,Priscilla usa talento para garantir sustento em semáforo no Recife Fã de Babi Domingos, artista de rua trans mostra talento como ginasta em semáforo no Recife
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