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Livro retrata cena cafeeira e imigração como berço da industrialização na região de Piracicaba

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

07/07/2024 por Redação

Cidades receberam imigrantes no sistema de parceria para trabalho nas fazendas de cafés da região, trazendo o desenvolvimento local da indústria de máquinas. Escravos e colonos imigrantes trabalhando no terreiro de café da Fazenda Ibicaba, em Limeira
Acervo J. E. Heflinger Júnior
A história do desenvolvimento das cidades da região de Piracicaba (SP) durantes os séculos passados envolve diretamente o cultivo do café e da laranja, a imigração e a consolidação da indústria de máquinas. É o que detalha o recém-lançado livro A Indústria no Berço da Imigração Europeia - Volume 2, de José Eduardo Helflinger.
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A publicação apresenta registro e histórias sobre o desenvolvimento das cidades de Piracicaba, Limeira (SP), Iracemápolis (SP) e Cordeirópolis, desde o período em que elas não existiam ou não passavam de vilas.
Um pouco de história 🔎
José Eduardo descreve a região que agrupa as cidade de Limeira, Piracicaba, Iracemápolis e Cordeirópolis como o berço da imigração europeia. Ele frisa, no entanto, que o pioneirismo da imigração na região foi no modo como foi feito, e não por ter sido o primeiro lugar no Brasil a receber estrangeiros.
Os documentos coletados pelo historiador indicam que, entre o final de século 18 e início do século 19, aproximadamente em 1809, a agroindústria já estava presente nesta região, com a plantação da cana-de-açúcar.
Nesta época, a cidade de Limeira ainda não existia, e Piracicaba ainda era apenas uma freguesia da Vila de Itu, porém englobava Limeira, Iracemápolis e Cordeirópolis.
Ele conta que, como as cidades ainda não era independentes ou não existiam, a pesquisa para saber sobre a população que ali habitava foi feita a partir de mapas de habitantes, já que não havia censo demográfico. Com os mapas, foi possível consultar quem estava presente nas regiões, se era casado, se tinha escravos, se plantava e o que plantava.
Assim que Piracicaba passou a ser uma vila, adotou o nome de Vila Nova da Constituição. A partir deste momento, a cidade passa a ter seu próprio mapa de habitantes. Nesta época, o forte na cidade ainda era a produção e plantação de cana-de-açúcar.
Um dos primeiros desenhos do povoado que daria origem a Limeira, que se chamava Nossa Senhora das Dores do Tatuibi, foi feito sob influência do Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, que tinha muita influência no mundo da fotografia.
Pioneirismo na imigração europeia 🌍
Escravos e colonos imigrantes trabalhando no terreiro de café da Fazenda Ibicaba, em Limeira
Acervo J. E. Heflinger Júnior
O pesquisador deu início ao seu trabalho de coletar documentos em 1984, na região de Limeira, Cordeirópolis e Piracicaba. As pesquisas eram voltadas para a questão do pioneirismo da região na imigração europeia.
No Sul e em São Paulo, ocorreu antes [a imigração]. Mas é outro tipo de imigração, onde as pessoas ganhavam terras e pronto. Cada um que se virasse com seu pedaço de terra, explica. Ele conta que a inovação aconteceu definitivamente em 1841.
O Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro deu início a uma experiência, a primeira no Brasil, por parceria, com divisão meio a meio. Ele preparava a terra, construía as casas dos colonos e arcava com os custos das viagens. Primeiro foram realizadas viagens vindas de Portugal, em seguida se expandiu para os povos alemães, belgas e holandeses.
Senador Vergueiro foi responsável pelo sistema de parceira no processo de imigração na região
Acervo/Câmara
Quando chegavam ao Brasil, os colonos passavam a trabalhar nas fazendas de café. O valor da colheita e da venda era rachado em duas partes iguais, e os colonos passavam a abater suas dívidas de moradia e viagem.
José Eduardo explica que este pioneirismo e a forma como tudo ocorreu na região chamou muito a sua atenção. Então, ele passou a pesquisar e encontrar muitos documentos históricos, no arquivo do Estado, arquivos particulares e de famílias, Biblioteca Nacional e muito mais.
Coletando registros 📜
Indústria no Centro de Limeira
Acervo/José Eduardo Heflinger Júnior
Porém, em 2004 o pesquisador passou a se sentir frustrado com a pesquisa e os arquivos que tinha em mãos. Ele conta que só estava analisando documentos brasileiros, mas que para ter material suficiente para entender a história precisava ter acesso ao que estava documentado na Europa, de onde vieram os imigrantes.
Com apoio de um patrocínio recebido por um dos familiares da linhagem do Senador Vergueiro, José Eduardo passou a viajar à Europa todos os anos, de 2005 a 2009, para dar continuidade na sua pesquisa.
Na Alemanha, varrendo arquivos, cemitérios, museus. Suíça, Portugal também. Eu encontrei muita documentação, muito farta, conta o historiador.
Ele encontrou registros muito valiosos, especialmente na Suíça, no Arquivo Federal do país. Lá, José Eduardo encontrou todo o processo referente à família Vergueiro.
Cheguei a conclusão que não tem herói e nem vilão. Todos são heróis e vilões na história do Brasil, pontua o pesquisador.
Depois de unir tanta documentação, registros e histórias, a tarefa do pesquisador passou a ser a de cruzar todas as informações e todo o documental adquirido em diversos países com tudo que havia sido coletado no Brasil.
Indústria de máquinas 🏭
Em seu segundo e mais atual livro, o pesquisador aborda a história da indústria de máquinas em Limeira, contando a trajetória de grandes nomes da história da cidade e seus feitos.
Doutor Trajano de Barros Camargo, nome conhecido na cidade, foi o proprietário da empresa Máquinas São Paulo, que revolucionou a indústria brasileira. A empresa recebeu uma medalha de ouro em uma exposição internacional no Rio de Janeiro, em 1920.
Doutor Trajano de Barros Camargo foi um dos grandes nomes da indústria em Limeira
Acervo Museu Major José Levy Sobrinho
Ele era um gênio da indústria. Infelizmente ele faleceu muito rápido, porque o sistema que ele organizou foi muito curioso, conta José Eduardo.
O sistema em questão foi descoberto por Trajano Camargo quando ele atirava coquinhos com um estilingue e percebeu que ao jogá-lo na parede, ele se quebrava. Então, a partir disto, Trajano idealizou uma máquina que quebrava os cocos de café por impacto e, em seguida, já classificava na saída da máquina.
A partir deste momento, ele passou a adaptar máquinas de acordo com as necessidades dos agricultores, enviando equipes para dar todo apoio da instalação ao trabalho.
Superprodução de café ☕
Colheita de laranjas em Limeira
Acervo do Museu da Fazenda Citra, Limeira
No final do século 19 todo mundo plantava café porque dava dinheiro. Mas chegou um momento em que os barracões de café estavam repletos, então começou a ser um problema a super produção, conta o historiador.
Neste momento, no início do século 20, o Governo do Estado de São Paulo passou a incentivar a fruticultura, para que as fazendas passassem e produzir frutas. Foi assim que teve início o plantio de laranja em regiões onde o café não ia bem.
No panorama regional, o pioneiro do estado de São Paulo no plantio de laranja foi Mario de Souza Queiroz. Ele traz para a plantação a ajuda de alemães, que ajudaram a criar mudas de laranja.
Mário de Souza Queiroz foi um dos pioneiros no plantio de laranja no estado de SP
Acervo/José Eduardo Heflinger Júnior
Depois do café... veio a laranja! 🍊
Com o início do plantio da laranja surgiram também dificuldades, principalmente em relação ao processo de exportação da fruta, que quase sempre estragava durante a viagem para a Europa.
Em 1926, uma leva de laranjas de Limeira chegou pela primeira vez em boas condições no velho continente - ou quase isso. Parte das frutas também estragou, mas dessa vez os produtores encontraram a razão para isso: a mosca da laranja.
José Eduardo explica que Limeira ganhou destaque e ficou marcada na história pelo sucesso alcançado nas tentativas de exportação. O pioneirismo e o sucesso na citricultura fizeram com que a cidade no interior de SP ficasse conhecida como Capital da Laranja e Berço da Citricultura Nacional.
Casa da Laranja em Limeira
Lillian Senra
*Sob supervisão de Rodrigo Pereira
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