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Unesp inaugura a primeira fábrica multipropósito de biofármacos para pesquisa clínica da América Latina

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Com informações do G1

07/06/2024 por Redação

Saiba como esta fábrica poderá ser uma parceira valiosa para a indústria farmacêutica e de biotecnologia brasileira e latino-americana. Sua inauguração acontecerá no dia 13 de junho próximo, às 10h, em Botucatu (SP).
CEVAP/Divulgação
A Universidade Estadual Paulista (Unesp), por meio do seu Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap), localizado no município de Botucatu, a 230 km de São Paulo, vai inaugurar, no próximo dia 13 de junho, a primeira CDMO com ambiente GMP da América Latina, focada na produção e desenvolvimento de medicamentos biológicos. Por meio de prestação de serviços à indústria farmacêutica, atuará na produção de lotes pilotos de biofármacos para ensaios clínicos em um ambiente validado, bem como abrigará uma Escola para o treinamento e capacitação profissional dentro das Boas Práticas de Fabricação (BPF/GMP), além de espaço destinado a startups de biotecnologia.
Contract Development and Manufacturing Organization (CDMO) ou Organização de Desenvolvimento e Fabricação sob Contrato é uma instituição que fornece serviços terceirizados de desenvolvimento e produção de medicamentos para outras empresas farmacêuticas, biotecnológicas ou instituições de pesquisa. Já a sigla GMP significa Good Manufacturing Practices, que em português pode ser traduzida como Boas Práticas de Fabricação. É um conjunto de diretrizes e regulamentações que visam garantir a qualidade, a segurança e a eficácia dos medicamentos produzidos.
As CDMOs funcionam como parceiras terceirizadas, fornecendo expertise e infraestrutura para auxiliar as empresas em todo o processo de criação, desenvolvimento e produção de medicamentos, desde as fases iniciais de pesquisa até a fabricação comercial e distribuição.
Essas instituições podem ser parceiras valiosas para empresas farmacêuticas e biotecnológicas de todos os tamanhos. Elas oferecem uma ampla gama de serviços, desde o desenvolvimento pré-clínico e a fabricação até a embalagem e a distribuição, obedecendo sempre as diretrizes regulatórias junto às agências de vigilância como a ANVISA.
As farmacêuticas e instituições de pesquisa podem precisar de uma CDMO de medicamentos por diversos motivos:
Possuem um medicamento promissor, mas não tem capacidade para fabricá-lo;
Precisam aumentar rapidamente a produção do seu medicamento;
Planejam fabricar um medicamento complexo ou com requisitos regulatórios rigorosos;
Buscam flexibilidade na sua produção e deseja reduzir custos;
Desejam lançar um novo medicamento no mercado rapidamente ou deseja vender seu produto em novos mercados;
Têm como objetivo se concentrar em seus pontos fortes e terceirizar a fabricação.
As CDMOs oferecem uma ampla gama de serviços, que podem ser abrangentes ou focados em etapas específicas do processo de desenvolvimento e produção de medicamentos. Alguns dos principais serviços incluem:
Pesquisa e desenvolvimento:
- Formulação e desenvolvimento de medicamentos
- Estudos de estabilidade e testes analíticos
- Desenvolvimento de processos e otimização de produção
Fabricação:
- Produção em pequena e grande escala
- Fabricação de formas farmacêuticas sólidas, líquidas e injetáveis
- Esterilização e embalagem
Controle de qualidade:
- Testes de qualidade rigorosos para garantir a conformidade com os padrões regulatórios
- Monitoramento de processos e liberação de lotes
Assuntos regulatórios:
- Assistência na obtenção de aprovações regulatórias
- Conformidade com Boas Práticas de Fabricação (BPF) e outras normas internacionais (GMP)
Serviços de logística e distribuição:
- Armazenamento e transporte de medicamentos
- Distribuição para atacadistas, farmácias e pacientes
Quem efetivamente precisa de uma CDMO de medicamentos?
As CDMOs são parceiras valiosas para empresas de diversos portes e áreas de atuação na indústria farmacêutica, biotecnológica e de pesquisa clínica. Algumas das empresas que podem se beneficiar dos serviços de uma CDMO incluem:
Empresas farmacêuticas de pequeno e médio porte: que não possuem recursos ou expertise para produzir seus próprios medicamentos em escala comercial.
Empresas biotecnológicas: que estão desenvolvendo medicamentos inovadores e precisam de parceiros para auxiliá-las na produção e comercialização.
Empresas de pesquisa clínica: que precisam de medicamentos para realizar os ensaios clínicos.
O objetivo da CDMO do Cevap/Unesp será acelerar o processo de desenvolvimento e comercialização de novos biofármacos, pois possui expertise e infraestrutura para realizar testes clínicos, otimizar processos de produção e garantir a qualidade dos produtos farmacêuticos, agilizando o processo desde a pesquisa até o paciente. Com isso, os custos e riscos para empresas farmacêuticas serão reduzidos, aumentando a flexibilidade e escalabilidade da produção e garantindo a qualidade e conformidade na produção dos biofármacos, como no caso da CDMO da Unesp.

CEVAP/Divulgação
Foram investidos R$ 20 milhões iniciais para a sua construção, por meio de um convênio entre a Unesp e o Ministério da Saúde, junto ao Complexo Econômico e Industrial da Saúde, sendo que ainda estão previstos mais R$ 60 milhões para a sua operacionalização. A Unesp também foi a responsável pela contratação de todos os profissionais que já estão atuando na CDMO.
O Cevap – Unidade de Pesquisa Translacional da Unesp modalidade Instituto de Pesquisa e Inovação - com mais de 30 anos de experiência em ciência translacional, desde a sua fundação prospecta e desenvolve moléculas candidatas a partir das toxinas animais visando a produção de biofármacos em atenção à disciplina denominada “Ciência Translacional”. Dois bioprodutos denominados respectivamente “Selante de Fibrina e “Soro Antiapílico” foram desenvolvidos por nossos pesquisadores e já atravessaram o “Vale da Morte da Pesquisa Clínica”, aguardando investimentos para os ensaios clínicos de fase III e posterior registro na Anvisa para a sua distribuição na rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
Diante deste enorme desafio, verificaram que era necessária a existência no país de uma estrutura capaz de produzir os lotes de medicamentos em escala piloto produzidos em ambiente GMP (Good Manufacturing Practices) para a realização de ensaios clínicos validados pelas agências regulatórias, entre elas Anvisa, FDA e EMA.
Um setor em expansão
O mercado global de medicamentos biológicos apresenta um crescimento significativo e constante, com estimativas para 2024 projetando valores que podem chegar a US$ 300 bilhões. No Brasil, em 2023, esse setor movimentou aproximadamente R$ 40 bilhões e segue com perspectivas de crescimento para este ano.
Na América Latina, também há um mercado em crescimento com grande potencial para expansão. A expiração de patentes de medicamentos biológicos de alto custo pode levar à entrada de biossimilares (versões genéricas de biológicos), no mercado, o que pode reduzir os preços e aumentar a concorrência, significando uma grande oportunidade para o Brasil.
A Oncologia representa o maior segmento do mercado para biofármacos no Brasil, com 30% da participação, seguida por Imunologia e Hematologia. As chamadas “doenças raras” despontam como uma área em ascensão, com grandes perspectivas para o futuro.
Desta maneira, o desenvolvimento e comercialização de medicamentos farmacêuticos desenvolvidos a partir de mecanismos biotecnológicos tem crescido nos últimos anos e seguirá assim até o final desta década conforme Report da Evaluate Pharma®.
Vendas mundiais de medicamentos prescritos e produtos farmacêuticos OTC: biotecnologia versus tecnologia convencional
Evaluate Pharma
O mercado de biomedicamentos no Brasil é um mercado estratégico e em franca expansão, com grande potencial para o futuro. O aumento da prevalência de doenças crônicas, a aprovação de novos medicamentos e a crescente utilização de biomedicamentos pelo SUS são os principais fatores que impulsionam esse crescimento. Aliado a este fato, a queda da patente de importantes medicamentos nos anos atuais desponta como uma grande oportunidade para o Brasil na produção de Biossimilares.
“A ciência translacional é aquela em que os pesquisadores tiram da bancada as inovações e descobertas e colocam na vida das pessoas em forma de produtos. É isso que essa fábrica vai fazer: preencher o abismo entre a pesquisa aplicada e a pesquisa básica”, avalia o pesquisador e coordenador executivo do Cevap, professor Rui Seabra Ferreira Júnior.
Segundo Seabra, o foco da fábrica estará nos anticorpos monoclonais – proteínas similares às secretadas por células do sistema imune humano - produzidas em larga escala no laboratório visando o diagnóstico ou o tratamento de diversas doenças. E, que, devido à possibilidade de desenvolvimento de medicamentos já sem patentes, torna-se uma grande oportunidade e ação estratégica de soberania para a saúde do Brasil.
Capacitação em Ciência Translacional
A CDMO ainda servirá de plataforma de ensino e capacitação para uma iniciativa inédita resultado de uma parceria entre a Unesp, Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Atualmente já se encontra em execução uma disciplina optativa denominada “Ciência Translacional”, em nível de graduação, para os alunos matriculados em quaisquer cursos, das três universidades coirmãs (Unesp, USP e Unicamp), em parceria com a Universidade de Oxford do Reino Unido. Esta disciplina é liderada na UNESP pelo Professor José Paes de Oliveira Filho. Seu objetivo principal é “descobrir talentos” e “avaliar o interesse” dos alunos para o tema proposto. Em caso de sucesso, o projeto evoluirá para uma “Habilitação em Ciência Translacional”, que deverá ter pelo menos um ano de duração.
A importância do apoio de uma agência de fomento como a Fapesp no desenvolvimento do trabalho
Tendo em vista que o déficit da balança comercial brasileira de medicamentos gira em torno de 30 bilhões de dólares anuais, a Fapesp como a maior agência de fomento brasileira, e preocupada com estes índices, criou recentemente os CCDs – Centros de Ciências para o Desenvolvimento do Estado de São Paulo – sendo um deles no Cevap. Trata-se do Centro de Ciência Translacional e Desenvolvimento de Biofármacos (CTS-Cevap) dirigido pelo professor Benedito Barraviera.
“Este Centro deverá funcionar como arcabouço de pesquisa e desenvolvimento no ‘chão da fábrica’ de Biomedicamentos a ser inaugurada”, finaliza Benedito.
Já são instituições participantes do CTS, além do CEVAP que é sua sede, as Faculdades de Farmácia da USP de Ribeirão Preto e de São Paulo, a Unifesp, o Instituto Biológico de São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz e o Instituto Emílio Ribas.
Projeto ousado
Na opinião do reitor da Unesp, professor Pasqual Barretti, o momento é de celebração.
Este é um projeto muito ousado, que teve início em 2017, com todo apoio desta gestão. Uma iniciativa do Ministério da Saúde, por meio do Complexo Econômico e Industrial da Saúde. Conta também com grande aporte financeiro da Fapesp para fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de inovações. É o momento de celebrarmos a construção desta fábrica pioneira no Brasil. Ela mudará completamente o cenário da produção de biofármacos no país. Vejo adiante grandes parcerias, seja com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Instituto Butantan e outros grandes laboratórios para escalonar esses biofármacos para uso clínico. A Unesp sai na frente mais uma vez, tanto na inovação quanto na área da pesquisa”, salienta.
Barretti lembra que a CDMO é uma facilitie que não existe atualmente no Brasil.
“Seremos capazes de produzir para a Universidade, para outras universidades e até para a iniciativa privada, amostras de biofármacos para pesquisas clínicas para que este produto, no futuro, esteja disponível pelo SUS ou em farmácias convencionais”, observa.
Soberania nacional
O reitor da Unesp ainda pontua que muitas empresas no mundo dependem de outras CDMOs para avançar na pesquisa clínica.
“Esta CDMO da Unesp é o elo que faltava para ultrapassarmos o chamado vale da morte, transformando invenções em produtos que possam ser disponibilizados para a população. Estamos dando um passo estratégico, fundamental. Temos excelentes pesquisadores no país, mas não tínhamos esta ‘ponte’. Teremos um grau de sustentabilidade grande, gerando importantes receitas para pesquisas na Universidade, colocando a Unesp no topo em relação a este processo. Estamos bastante otimistas com o apoio do Ministério da Saúde para a aquisição dos equipamentos necessários para colocarmos a fábrica em pleno funcionamento em um curto espaço de tempo”, finaliza.

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