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Mudanças climáticas dobraram a chance das chuvas extremas do Rio Grande do Sul, aponta estudo

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

03/06/2024 por Redação

Pesquisa da World Weather Attribution (WWA) também concluiu que o fenômeno climático El Niño desempenhou um papel semelhante ao intensificar as chuvas entre o final de abril e início de maio, enquanto falhas na infraestrutura pioraram os danos. Estudo teve a participação de cientistas brasileiros. Veículos circulam por uma estrada lateral restaurada para permitir o transporte de ajuda humanitária aos afetados pelas enchentes em Porto Alegre, em foto de 11 de maio de 2024.
AP Photo/Wesley Santos
As mudanças climáticas aumentaram em duas vezes a probabilidade de ocorrência das chuvas históricas que causaram enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul entre o final de abril e início de maio. Isso é o que aponta um novo estudo, divulgado nesta segunda-feira (03), realizado pelo World Weather Attribution (WWA), um grupo internacional de cientistas especializados em assuntos climáticos.
Segundo a pesquisa, um estudo rápido de atribuição, o fenômeno natural El Niño, conhecido por trazer condições chuvosas à região, desempenhou um papel semelhante ao intensificar as chuvas, enquanto falhas na infraestrutura pioraram os danos.
📝 Contexto:
Este já é o segundo estudo de atribuição (ou seja, que busca estudar a porcentagem de responsabilidade das trasnformações do clima num evento extremo) a apontar que as mudanças climáticas provocadas pela ação humana – em especial a emissão de gases do efeito estufa lilberados com a queima de combustíveis fósseis – tornaram as chuvas no Rio Grande do Sul mais intensas.
O primeiro foi publicado no dia 10 de maio e foi realizado por pesquisadores do ClimaMeter, um grupo de cientistas de diferentes países que realiza análises que colocam os extremos meteorológicos em uma perspectiva climática logo após a sua ocorrência.
Ainda de acordo com a investigação da WWA, que teve a participação de universidades e agências meteorológicas no Brasil, Holanda, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos, essas chuvas intensas são extremamentes raras e eram esperadas para ocorrer apenas uma vez a cada 100 a 250 anos no clima atual.
Além disso, sem o efeito da queima de combustíveis fósseis, essas precipitações históricas teriam sido ainda mais raras.
Essas enchentes ocorreram de forma relevante no passado, mas estão ficando cada vez mais fortes nos últimos anos.
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Como foi feito o estudo
Para chegar a essa conclusão, os cientistas examinaram o impacto das mudanças climáticas na chuva, usando dados meteorológicos e simulações de modelos. Eles compararam o clima atual, com cerca de 1,2°C de aquecimento global, com o clima mais frio pré-industrial, sem os impactos do ser humano, usando métodos revisados por especialistas.
O foco do estudo foi no sul do Brasil, no Rio Grande do Sul, analisando a chuva de 26 de abril a 5 de maio. Com isso, os pesquisadores concluíram que:
A mudança climática provocada pelo homem tornou o evento mais de duas vezes mais provável e cerca de 6-9% mais intenso.
Fora isso, com um aquecimento adicional, esses eventos se tornarão mais frequentes e destrutivos.
Se continuarmos queimando combustíveis fósseis e as temperaturas subirem 2°C em relação aos níveis pré-industriais, o que pode ocorrer em 20-30 anos se não pararmos rapidamente as emissões, eventos de chuvas intensas serão duas vezes mais comuns do que atualmente.
Usando modelagem estatística, os pesquisadores separaram também as influências do El Niño e das mudanças climáticas na chuva. Foi aí, então, que descobriram que tanto o El Niño quanto as mudanças climáticas aumentaram a chuva em proporções semelhantes.
No estudo, eles estimam que o fenômeno climático aumentou a probabilidade do evento em um fator de 2 (duas vezes mais provável) e tornou as chuvas cerca de 3-10% mais intensas.
À medida que o clima se aquece, uma potente combinação de diminuição da precipitação e aumento do calor está impulsionando a seca na Amazônia.
Antonio Carlos Zaba mostra uma bandeira do Rio Grande do Sul manchada de lama enquanto limpa sua casa destruída após uma inundação em Porto Alegre.
REUTERS/Diego Vara
⛈️☀️️ Relembre o que é o El Niño:
O El Niño é a fase positiva do fenômeno chamado El Niño Oscilação Sul (ENOS). Quando ele está em atuação, o calor é reforçado no verão e o inverno é menos rigoroso no Brasil. Isso ocorre porque ele dificulta o avanço de frentes frias no país, fazendo com que as quedas sejam mais sutis e mais breves.
Em resumo, o fenômeno causa secas no Norte e Nordeste do país (chuvas abaixo da média), principalmente nas regiões mais equatoriais, e provoca chuvas excessivas no Sul e no Sudeste.
Alerta para o mundo
No estudo em questão, os especialistas advertem ainda que, em um cenário ideal com temperaturas 1,2°C mais baixas em todo o mundo (ou seja, sem as alterações climáticas atribuíveis à atividade humana), a ocorrência da chuva teria sido consideravelmente menos intensa.
👉 Isso ressalta que as emissões de gases do efeito estufa provenientes da queima de petróleo, gás e carvão desempenharam um papel crucial na transformação desse fenômeno em um evento de proporções devastadoras.
🚨 Os cientistas alertam que, em caso de um aumento global de 2°C na temperatura, a probabilidade de eventos semelhantes de precipitação extrema aumentará cerca de três vezes, ocorrendo com uma intensidade de 4% quando comparada com os dias de hoje.
Vale ressaltar que no ano passado, pela 1ª vez, o mundo registrou um dia com uma temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial.
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O ASSUNTO: A catástrofe climática no Rio Grande do Sul
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