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Campeão brasileiro de bocha, jovem supera prognóstico de 2 anos, entra na USP e sonha com Paralimpíadas

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

02/06/2024 por Redação

Diagnosticado na infância com atrofia muscular espinhal (AME), médicos disseram que Gabriel Serafim teria pouco tempo de vida. Hoje, aos 19 anos, jovem de Valinhos comemora aprovação na Fuvest e medalha de ouro na bocha paralímpica. Gabriel Serafim, medalha de ouro de bocha paralímpica
Arquivo pessoal
Anos atrás, os pais de Gabriel Serafim ouviram dos médicos que o filho dificilmente passaria dos dois anos. Diagnosticado com atrofia muscular espinhal (AME), uma doença rara, degenerativa e à época sem nenhum medicamento, o prognóstico do jovem parecia inevitável.
Mas com “determinação, persistência e coragem”, usando palavras do pai dele, Luiz Serafim, Gabriel frustrou as previsões da medicina e hoje, aos 19 anos, é calouro de letras na Universidade de São Paulo (USP) e atleta paralímpico, recém medalha de ouro em uma competição nacional de bocha.
A luta de Gabriel pela vida reúne o apoio da família, uma vontade de viver enorme e a ajuda da ciência. Uma união de fatores que traduz em um jovem autônomo, feliz e que sonha alto com os Jogos Paralímpicos de Los Angeles, em 2028.
Gabriel, que cresceu em Valinhos (SP), permitiu que o g1 contasse a história dele. Essa reportagem é divida em três tópicos:
Luta contra a AME
Entrada na USP
Inspiração na “Fadinha”
Luta contra a AME
Gabriel contou que, na infância, ainda não havia medicamento que ajudasse a impedir o avanço da AME. “Como não tinha nenhum tratamento nessa época, era sempre uma coisa muito mais de acompanhamento. Não tinha muito o que fazer, nem muita expectativa”.
Com isso, apesar de todos os esforços da família e dos profissionais da saúde, a doença foi avançando ao longo dos anos e Gabriel foi perdendo o movimento e força das pernas e dos braços.
Pai de Gabriel comemorou aprovação do filho na USP em uma rede social
Reprodução/Linkedin
O horizonte de esperança veio em 2017, com a aprovação do medicamento Spinraza, o primeiro no Brasil para AME. Aos 12 anos, Gabriel começou a tomar o remédio, que era aplicado na coluna em um centro cirúrgico a cada quatro meses.
Três anos depois, um novo medicamento com o mesmo efeito, o Risdiplam, entrou no mercado, agora via oral de uso contínuo. Gabriel explicou que esses remédios fizeram o corpo dele produzir uma proteína que substitui a ausente no corpo dele por conta da doença.
Segundo o jovem, os dois medicamentos deram a ele qualidade de vida. Mais do que impedir o avanço da doença, Gabriel percebeu que retomou a força e alguns movimentos nos membros. “Desde que comecei, eu não tenho mais nenhuma perda, não perdi mais nenhum movimento, não perdi força de nada. Estabilizou completamente”.
Eu comecei a conseguir fazer algumas coisas que eu antes não fazia, escrever um pouco melhor, por mais tempo, aguentar ficar mais tempo sentado, umas coisas assim deram uma melhorada, contou.
Entrada na USP
Com a doença estabilizada desde 2017 e o apoio da família, Gabriel não teve dúvida: queria fazer faculdade. A escolha do curso veio no final do ensino médio. “Quando chegou na metade do terceiro ano, eu fui ler um livro para um trabalho de escola sobre linguística, achei muito legal o tema e aí fui pesquisar um pouco o curso de letras”.
A decisão não demorou muito. Gabriel queria estudar letras e na melhor do país: a USP. Estudando de casa, o jovem passou a se dedicar ao concorrido vestibular da Fuvest. “Passei o último semestre do ano passado fazendo provas anteriores, vendo umas aulas na internet, assim, me preparando para a prova”.
Gabriel compete na Classe BC3, da Bocha Paralímpica
Arquivo pessoal
Na primeira fase, o gabarito já indicava uma aprovação para a próxima etapa do vestibular. Na saída da segunda fase, um otimismo discreto. “Eu já imaginei que eu tinha ido razoavelmente bem, porque eu não fiquei com nenhuma dúvida”, contou. A aprovação veio cercada de comemoração.
Gabriel iniciou os estudos em fevereiro deste ano. Na faculdade, usa uma cadeira de rodas motorizada e, quando necessário, conta com a ajuda dos colegas. “Foi até mais tranquilo do que eu esperava. Eu tinha um medo de não ter muita acessibilidade, mas é bem acessível. Meu pai me deixa na porta, eu tenho uma cadeira motorizada e aí eu consigo transitar pelas salas”.
No geral, eu consigo ter uma autonomia bem grande lá dentro. E nas vezes que eu preciso mudar de andar ou de mais alguma que eu precise pontualmente, eu peço ajuda por um amigo lá.
O jovem está no ciclo básico da faculdade de letras, mas adiantou ao g1 que pretende estudar alguma língua clássica, como o latim.
Eu tô achando o curso maravilhoso. Eu dei uma assustada no começo, mas hoje eu tô adorando, principalmente, pelas expectativas de escolher depois qual caminho (língua) seguir. Tem muitos caminhos legais, então é bem divertido.
Inspiração na “Fadinha”
Gabriel Serafim, atleta paralímpico de Valinhos
Arquivo pessoal
Jovem com limitação nos movimentos das pernas e dos braços por causa da AME, Gabriel conheceu a bocha ainda na infância por um projeto para crianças com deficiência na Unicamp. Em 2021, assistindo ao skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio, veio a vontade de praticar o esporte.
Na última Olimpíada que teve, a gente ficou de madrugada assistindo à Raíssa do skate, que na época tinha 13 ou 14 anos. Aí eu falei: poxa vida, ela está lá fazendo, eu não estou fazendo nada. Pensei, bom, vou procurar algum lugar que tenha a bocha.
Gabriel viu numa rede social um projeto do Comitê Paralímpico Brasileiro incentivando jovens com deficiência a ingressarem no esporte. “Eu me inscrevi, comecei a treinar, e gostei. E aí no ano retrasado, em 2022, eu comecei a competir nos jogos escolares”.
Três anos depois, em abril deste ano, veio a maior conquista até o momento: o primeiro lugar no Campeonato Brasileiro de Bocha, em Curitiba (PR). Com isso, Gabriel tenta, a curto prazo, uma vaga na seleção brasileira sub-21 e, a longo prazo, sonha com os Jogos Paralímpicos de Los Angeles em 2028.
Eu acho que uma das coisas mais importantes foi ter contato com outras pessoas com deficiência também, porque no meu dia a dia eu não tinha contato com ninguém. Ver pessoas que têm outras histórias, estar em contato, conversar, é muito bom para mim.
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