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De pracinha a "motel": entenda abandono e insegurança de tradicional estádio do Cariocão

globoesporte.com - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

24/05/2024 por Redação

Em péssimo estado de conservação, Correão tem até rua passando na parte interna, com grande fluxo de pessoas A insegurança e o descaso caminham lado a lado no Estádio Municipal Alair Corrêa, o Correão, em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. O local, sob administração da prefeitura da cidade, ficou conhecido por receber jogos da Cabofriense, clube que atualmente disputa a Série A2 do Campeonato Carioca, mas já figurou na elite e chegou a disputar as semifinais do torneio em 2014.
Estádio Correão encontra-se em estado de abandono e sofre com falta de manutenção
Sem fiscalização ou controle, o Correão virou caminho de passagem de um bairro a outro para os moradores da cidade. Há uma espécie de rua anexada na parte lateral do estádio que pedestres e ciclistas utilizam para cortar caminho. Os carros só não passam devido aos portões que hoje só servem de enfeite e estão emperrados por causa do longo tempo sem uso.
O ge esteve no local e observou o abandono das instalações do estádio. Em algumas horas, a reportagem ouviu inúmeras queixas.
A maior delas diz respeito justamente ao fácil acesso ao estádio (veja no vídeo acima). Os portões são inoperantes, e qualquer um consegue entrar e transitar pelo local sem questionamento ou dificuldade. O que facilita outra grande queixa: a invasão ao gramado é comum e praticamente diária. Ao fim da visita do ge ao Correão, crianças jogavam bola no campo.
Rua dentro do Estádio Correão em Cabo Frio
Letícia Marques / ge
Há um processo administrativo para que seja colocado um muro na lateral do gramado do estádio, para separá-lo da rua e acabar com a passagem pela parte interna. Mas os trâmites do processo ainda não foram concluídos pela prefeitura.
O estádio funciona quase como uma pracinha para os moradores do bairro. As autoridades se apressam para preparar o local para receber jogos da A2 do Carioca, mas a falta de manutenção coloca em risco a presença de público. Nas arquibancadas, além da falta de pintura e do acúmulo de poças dependendo do clima, há partes em que os ferros ficam expostos.
A arquibancada superior com as ferragens expostas
Letícia Marques / ge
Outro local que chama atenção e coleciona relatos curiosos é o espaço que um dia foi destinado à imprensa. Entre uma arquibancada e outra, há pequenas salas que eram destinadas aos jornalistas e se tornaram abrigos para moradores de rua. Há marcas da utilização do local para dormir, comer e fazer sexo.
“Até de motel o Correão já serviu”, revelou uma fonte.
A embalagem de um preservativo jogada em uma das arquibancadas do Correão
Letícia Marques / ge
Caminhando para o outro lado do estádio, há uma ampla estrutura que já abrigou uma academia. Hoje, porém, o local está inutilizável. Os aparelhos estão aglomerados em uma sala, e há acúmulo de sujeira e restos de materiais de obras na área de hidromassagem.
Na parte interna, o teto da entrada principal está caindo. Perto da bilheteria da área que se torna uma cantina em dias de evento no Correão, há uma abertura na qual é possível ver a luz do sol.
Vestiário passou por reforma e apresenta boas condições no Correão
O estádio sediou diferentes eventos nos últimos meses, incluindo competição de crossfit. Entre setembro e dezembro do ano passado, houve três grandes shows no gramado: Mumuzinho, Menos é Mais e Sorriso Maroto. Segundo relatos de pessoas que frequentam o estádio, a estrutura permaneceu montada por semanas, o que prejudicou ainda mais o campo.
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Os shows, porém, não são os únicos eventos no Correão. No dia a dia, o local recebe escolinha de futebol para crianças na parte da tarde, e os treinos acontecem no mesmo gramado usado pela Cabofriense. Além disso, há uma academia para a terceira idade que é montada na parte de trás do campo. Os projetos sociais ocorrem de segunda a sexta.
Se idosos e crianças frequentam o Correão de forma legal, há também quem use o local para consumir drogas. Há anos o estádio carrega essa fama, principalmente pela proximidade com a Rua Duque de Caxias, um ponto do tráfico da região.
Área da hidromassagem com acúmulo de lixo e restos de obra
Letícia Marques / ge
A rotina de encontrar vestígios de entorpecentes diminuiu nos últimos anos. Mas outros problemas permanecem. Em abril, houve três dias seguidos de furtos na madrugada. Estruturas de ar-condicionado e motores de bebedouros foram levadas.
A relação do Correão com a Cabofriense
O estádio é conhecido por ser a casa do time, porém não pertence - e nunca pertenceu - à Cabofriense. Inaugurado em 1985, o Correão sempre foi administrado pela prefeitura local, que cede o espaço para os jogos da equipe. O objetivo é incentivar o esporte na cidade.
A relação entre o clube e o estádio passou por diversas fases nesses quase 30 anos. Hoje, há claro incômodo dos funcionários da Cabofriense com o descaso no Correão. O gramado foi um dos tópicos que chamaram atenção em meio à preparação do time para estrear na A2 do Carioca.
O primeiro jogo em casa seria na segunda rodada contra o América, que tem Romário como presidente e jogador. No entanto, a Cabofriense vendeu o mando de campo, e a partida do próximo domingo acontecerá no Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O Correão não conseguiu o alvará necessário para a partida, visto que uma nova legislação aponta a necessidade de para-raios.
- COLOCAR VÍDEO DO GRAMADO ANTES DA OBRA -
O ge apurou que não há projeto para novos investimentos para o estádio - a prioridade do município é reformar o Ginásio Poliesportivo Alfredo Barreto, que está interditado. Para o Correão, uma avaliação determinou a necessidade de um investimento considerado alto demais para a realidade da prefeitura.
Para recuperar o gramado e conseguir mandar os jogos no estádio, a Cabofriense entrou em acordo com a prefeitura e investiu cerca de R$ 60 mil em obras. A reforma na grama começou no meio de abril.
Academia com os aparelhos aglomerados em uma sala no Correão
Letícia Marques / ge
A Cabofriense optou por assumir este custo porque o valor para treinar e jogador fora do Correão é muito alto. Os treinos na cidade vizinha de São Pedro da Aldeia, por exemplo, custam quase R$ 1 mil por dia - entre aluguel do local e transporte -, enquanto os jogos poderiam chegar a R$ 20 mil.
- É deprimente ver o estádio nessa situação. É muito desleixo com o morador de Cabo Frio. A gente quer o bem público. Eu já estive aqui para assistir a jogo com o estádio nos trinques. Mas os anos foram passando... Agora, estou há quatro anos trabalhando no clube e só vejo piorar a cada dia - comentou Lucas Lobato, morador da cidade e supervisor da Cabofriense, antes de completar:
- A gente optou por mexer no campo primeiro e depois, se tiver que dar algum outro retoque, estamos vendo de acertar a arquibancada e as grades em volta. Seria ruim não jogar no Correão, sair da cidade. A gente perde o mando de campo, fica muito neutro. Aqui, quando tem jogo, a torcida comparece em um número legal. Fora o custo que a gente teria de mandar um jogo fora.
O que diz a prefeitura de Cabo Frio?
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Esporte da cidade para entender as razões do atual estado do Correão e questionar se há previsão de liberação de verba para reforma do local. A administração local é de responsabilidade da prefeita Magdala Furtado (PV).
- As necessidades atuais do Estádio Correão são fruto de um longo período sem execução de manutenção por gestões anteriores, fato que, infelizmente, veio causando uma degradação ao longo dos anos. A Prefeitura está buscando, através de um trabalho entre a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer e a Secretaria de Relações Institucionais e Captação de Recursos, novas verbas para as melhorias no local. Existe ainda um processo administrativo em trâmite com a mesma finalidade, no valor de R$ 500 mil - respondeu a prefeitura em nota enviada ao ge.
Entrada do Estádio Correão em Cabo Frio
Letícia Marques / ge
O valor informado pela secretaria inclui a construção do muro ao redor do campo citado no início desta reportagem. Quando questionada sobre o último investimento feito no estádio, a prefeitura afirmou que não tem essa resposta e justificou que os reparos recentes foram pontuais.
A prefeitura informou ainda que o estádio tem custo mensal de R$ 10 mil com água e luz - o valor não inclui os salários dos funcionários. A quantia pode dobrar com o aumento do consumo dos serviços quando o local é utilizado para jogos e treinos da Cabofriense.

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