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Campinas está preparada para eventos climáticos extremos? Especialistas apontam vulnerabilidades e alertam para urgência de a

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

17/05/2024 por Redação

Metrópole é vulnerável a temporais e, com as mudanças climáticas, pode ter chuvas fortes com mais frequência, explicaram os pesquisadores ouvidos pela reportagem. Avenida Princesa dOeste, em Campinas (SP), durante temporal
Reprodução/EPTV
A tragédia do Rio Grande do Sul acendeu o alerta em especialistas e autoridades sobre o preparo das cidades brasileiras aos eventos climáticos extremos. Campinas (SP), cidade que convive com um problema histórico de alagamentos e enchentes, aguarda sair do papel um plano de drenagem urbana criado há dois anos.
Mas, enquanto isso, a cidade está preparada para um evento climático extremo? Pode chover em Campinas o volume que choveu no Rio Grande do Sul? E, após a implementação do plano antienchente, a cidade estaria preparada para grandes temporais?
Para responder essas perguntas, o g1 ouviu dois pesquisadores que estudam a realidade da metrópole: o engenheiro Antônio Carlos Zuffo, professor de Hidrologia e Gestão dos Recursos Hídricos da Unicamp, e o meteorologista Bruno Bainy, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas da Unicamp.
O g1 também ouviu a Prefeitura de Campinas, que informou monitorar 18 setores de risco na cidade e confirmou que a primeira etapa do plano antienchete deve iniciar as obras ainda no primeiro semestre deste ano. A nota do município na íntegra está no final da reportagem.
Nesta reportagem você vai saber:
Campinas está preparada para eventos climáticos extremos?
Campinas está sujeita a volumes de chuva semelhantes aos que atingiram o Rio Grande do Sul?
Quais ações são necessárias para tornar a cidade mais resistente?
Ainda dá tempo de fazer as obras preventivas para minimizar os efeitos da mudança climática?
Campinas tem um plano para conter as enchentes? Ele pode ser eficaz?
Quais são as obras da primeira etapa do plano antienchente de Campinas?
O que diz a prefeitura sobre a vulnerabilidade da cidade?
Retroescavadeira retira carro que caiu em córrego de Campinas durante temporal em janeiro de 2023
Heitor Moreira/EPTV
1) Campinas está preparada para eventos climáticos extremos?
Para Zuffo, não. Ao g1, o professor da Unicamp listou vários temporais que atingiram a cidade desde 2002 e demonstraram a fragilidade das estruturas responsáveis pelo escoamento de água da chuva e pelo controle de cheias de córregos e rios. Veja alguns exemplos:
Enchentes em Campinas em 2002 e 2003 com mortos após um forte temporal;
Mortes de três pessoas durante uma chuva forte com ventos em 2007;
Morte de homem arrastado pela enxurrada em 2017;
Motociclista que morreu após cair da moto durante temporal em 2019;
Enxurrada no Jardim Proença que matou uma mulher afogada na enxurrada em 2021;
Mortes de duas pessoas em quedas de árvores entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023.
Figueira que caiu sobre carro e casas em Campinas em 2022
Reprodução/EPTV
2) Campinas está sujeita a volumes de chuva semelhantes aos que atingiram o Rio Grande do Sul?
Segundo Bainy, sim. Chuvas com volumes intensos (entre 100 e 200 milímetros por dia), como houve nas cidades gaúchas, não só podem ocorrer na metrópole, como já ocorreram. O maior temporal registrado na cidade, desde 1989, foi de 167 milímetros no dia 25 de maio de 2005. No ano passado, no dia 18 de janeiro, um temporal de 140 mm localizado no Parque das Bandeiras arrastou pontes e carros e inundou casas. Um dia antes, outra tempestade derrubou 100 árvores na cidade e alagou 15 imóveis.
A gente já teve eventos de precipitação acima de 100 milímetros em um dia e chuvas acima de 30 milímetros em Campinas já costumam estar atreladas a algum transtorno, como pontos de alagamento e enxurradas, explicou o meteorologista.
O pesquisador ressaltou ainda que há uma série de estudos que comprovam a maior frequência de eventos climáticos extremos aqui no estado de São Paulo. A estação chuvosa está se tornando mais curta e mais marcada por eventos extremos.
Temporal derruba pontes e compromete acessos em Campinas em 2023
3) Quais ações são necessárias para tornar a cidade mais resistente?
O professor de Hidrologia e Gestão dos Recursos Hídricos da Unicamp explicou ao g1 que as estruturas de escoamento hídrico de Campinas, como canais e galerias, são antigas. Foram planejadas numa época onde a ocupação do solo era diferente: haviam mais casas e menos estruturas que impermeabilizavam o solo.
Por isso, seria necessário atualizar as redes de drenagem para adequá-las ao volume de chuva e à quantidade de água que escoa atualmente sobre a cidade para evitar alagamentos e inundações.
Você tem vários pontos na cidade com obras muito antigas, dimensionadas para outra situação, e hoje a situação é completamente diferente. Então, essas obras precisam ser revistas, ter um plano de readequação dessas estruturas hídricas para tentar diminuir um pouco esse escoamento, explicou Zuffo.
Avenida Orosimbo Maia, em Campinas, alagada em 2022
Reprodução/EPTV
4) Ainda dá tempo de fazer as obras preventivas para minimizar os efeitos da mudança climática?
Segundo Bainy, a mudança climática é um fator determinante para o aumentos dos eventos extremos, incluindo fortes temporais. Por isso, com a vulnerabilidade de Campinas a enchentes, medidas mais urgentes são necessárias a curto prazo já que esse eventos já estão acontecendo.
No caso das medidas a longo prazo, para Zuffo, há uma janela de oportunidade agora. O especialista explicou que o regime de chuvas tem temporadas que duram décadas. São 20 a 40 anos com mais chuva e, em seguida, 20 a 40 anos com menos chuva. É o chamado efeito José. Desde 2013, o país está no regime de chuva menos intenso e isso deve durar mais 20 anos. Portanto, esse é o tempo que muitas cidades têm para se preparar.
Daqui a 20 ou 30 anos volta o sistema de chuvas mais fortes e, aí sim, esses pontos de alagamento vão se multiplicar.
Av. Princesa dOeste, em Campinas (SP), alagada por conta de temporal em 2023
Reprodução/EPTV
5) Campinas tem um plano para conter as enchentes? Ele pode ser eficaz?
A Prefeitura de Campinas construiu um projeto que promete resolver o problema dos alagamentos, sobretudo na área central da cidade. Anunciado desde 2022, o plano antienchente de Campinas (SP) prevê galerias e piscinões para solucionar os problemas nas avenidas Princesa DOeste e Orosimbo Maia.
A primeira parte do projeto, que inclui um mega piscinão na Princesa DOeste, já está em fase de licitação. A Prefeitura diz que vai oficializar a contratação e assinar a ordem de serviço nas próximas semanas. A expectativa é que as obras possam começar ainda neste semestre, disse em nota ao g1.
Para Zuffo, considerando a capacidade prevista no projeto, a obra é importante, mas não deve solucionar completamente o problema. Pode ser que ele diminua a frequência de enchentes, mas não acredito que vai resolver.
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6) Quais são as obras da primeira etapa do plano antienchente de Campinas?
A primeira obra prevista no Plano Antienchete da Prefeitura de Campinas (SP) é um mega piscinão com um custo total estimado no edital de R$ 213 milhões.
O piscinão será construído no subterrâneo da antiga Praça de Esportes do Paranapanema e terá capacidade de armazenar 56,8 milhões de litros de água. A previsão é que as obras durem dois anos a partir da ordem de serviço, ou seja, sejam concluídas em 2026.
A ligação da Avenida Princesa dOeste, no Jardim Proença, até o piscinão será feito por 352 metros de galerias de águas subterrâneas com 3,5 metros de diâmetro. Veja no mapa abaixo o trajeto do túnel (azul) até o reservatório (vermelho).
Galerias subterrâneas (em azul) vão levar a água da chuva da avenida Princesa dOeste até o piscinão (círculo vermelho)
Reprodução/Google Street View
Outros dois piscinões estão previstos no projeto. Um segundo na região da Princesa DOeste e um terceiro perto do Terminal Mercado, para segurar o impacto do Córrego Serafim na Avenida Orosimbo Maia.
Esses três piscinões, que são aproximadamente 60% do total do investimento, devem resolver cerca de 95% das ocorrências de enchente. O que significa isso? Que de cada cem chuvas que provocavam enchentes, 95 não vão provocar enchente alguma. E é claro que essas outras cinco, se tiver algum tipo de enchente, vai ser de muito menor impacto. Porque grande parte da água vai estar retida nestes piscinões, garantiu o secretário de Infraestrutura à época do lançamento do plano.
7) O que diz a prefeitura sobre a vulnerabilidade da cidade?
Ao g1, a Prefeitura de Campinas enviou uma nota que reproduzimos na íntegra abaixo.
A Defesa Civil de Campinas realiza vistorias preventivas em todos os 18 setores de risco da cidade. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) do governo federal também faz esse monitoramento via radar e satélite nas 24 horas do dia. Além de ser integrado com a Defesa Civil, o sistema emite alertas para apronto das equipes municipais. Os pontos críticos de inundação na cidade também são sinalizados e monitorados por meio de câmeras. Há 40 painéis digitais para alerta em tempo real para que motoristas e pedestres evitem os locais alagados.
A Prefeitura vai oficializar a contratação, com a homologação, e assinar a Ordem de Serviço para o início das obras do primeiro piscinão (na Princesa DOeste) nas próximas semanas. A expectativa é que as obras possam começar ainda neste semestre. No momento, a licitação está sendo finalizada. A construção deste reservatório integra o Plano de Controle de Enchente na Região Central elaborado pela Secretaria de Infraestrutura. É o maior investimento já realizado em obras de macrodrenagem na história de Campinas. São R$ 517 milhões. São oito obras de combate às enchentes nas bacias do córrego Serafim, na avenida Orosimbo Maia e do córrego Proença, na avenida Princesa D’Oeste. Elas vão permitir solucionar quase que totalmente o problema das enchentes não apenas na Princesa DOeste e Orosimbo Maia, mas em toda a região central.
As obras de infraestrutura não estão apenas na região central. Todas as obras de drenagem e pavimentação realizadas são feitas de maneira a corrigir problemas na drenagem dos bairros que estão recebendo asfalto. Atualmente, há 16 bairros em obras, sem contar ruas, avenidas e estradas municipais que já passaram por esse serviço recentemente. Todos recebem sistema de escoamento de água e drenagem eficiente. São mais de R$ 200 milhões investidos nestas obras de infraestrutura.
A Prefeitura também já realizou projetos amplos de macrodrenagem urbana na área do Jardim Santa Mônica, São Marcos e Campineiro. Foram investidos cerca de R$ 20 milhões.
Nesta área foi construída uma barragem, no córrego da Lagoa, para conter as cheias. Também foram reconstruídas pontes afetadas pelas chuvas de 2023 de maneira segura e para suportar novas chuvas fortes. Também com investimento de mais de R$ 20 milhões, a Prefeitura está fazendo uma obra no Córrego Santa Lúcia, no Distrito do Ouro Verde, com a mesma finalidade de controle de enchentes.
A Secretaria de Serviços Públicos também executa ações de limpeza da calha nos 46 córregos que passam pela cidade, para manter a limpeza, a qualidade da água e escoamento do fluxo. São retirados lixo, sedimentos acumulados, pedra, areia e resíduos sólidos em geral, muitos descartados irregularmente. Outro ponto fundamental, feito pela Secretaria, é a recomposição da mata ciliar nas margens de córregos, o que evita o assoreamento. Se a margem do corpo do rio está reflorestada, a chuva não faz erosão e não leva a terra para dentro do corpo, entupindo a calha. Os piscinões já existentes na cidade passam por desassoreamento periódico para ampliar a capacidade de armazenamento de água da chuva e dos córregos.
Com relação às galerias de água pluviais que existem na cidade, elas também recebem manutenção constante. As equipes das Administrações Regionais de Serviços Públicos vistoriam e fazem os reparos quando necessário.
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