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Sete anos após instalação de Belo Monte, 61% das famílias de Altamira enfrentam insegurança alimentar

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

11/05/2024 por Redação

Em nota, a Norte Energia, responsável pelo empreendimento, afirmou que monitora desde 2012 essa questão e que não há cenário de insegurança alimentar na região da usina. Altamira, no Pará
Sebrae
Um estudo inédito feito pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (Nepam-Unicamp) revelou que 61% dos domicílios de Altamira (PA) enfrentam algum nível de insegurança alimentar, sete anos depois do fim das obras da hidrelétrica de Belo Monte.
A pesquisa, feita presencialmente na área urbana de Altamira em 2022 a partir de amostra de 500 domicílios, utilizou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) e foi publicada neste mês em uma revista internacional. Veja os números:
Segurança alimentar (qualidade e quantidade de alimentos suficientes): 39%
Insegurança alimentar leve (preocupações com a disponibilidade futura de alimentos e a qualidade dos alimentos impactada): 32.7%
Insegurança alimentar moderada ou grave (qualidade e quantidade inadequadas de alimento): 28.3%
Segundo o demógrafo Igor Cavallini Johansen, pesquisador de pós-doutorado da Unicamp, os graus de insegurança alimentar moderada e grave foram somados porque, na prática, os dois significam algum nível de fome.
O estudo também apontou as populações mais atingidas pela insegurança alimentar. Veja:
Domicílios com famílias deslocadas de suas antigas áreas de moradia e reassentadas;
Domicílios mais pobres, cujos responsáveis possuíam baixo nível de escolaridade e taxas mais elevadas de desemprego;
Domicílios com um maior número de moradores;
Comparativo média Brasil x Altamira
Comparando os dados de Altamira com a média brasileira, medida no inquérito desenvolvido pelo instituto Vox Populi, é possível verificar que a cidade paraense apresenta índice menor de segurança alimentar. Veja no gráfico abaixo:
Escala Brasileira de Insegurança Alimentar
Belo Monte
Com 126.279 habitantes, Altamira foi afetada pela construção da usina, obra de R$ 18 bilhões inaugurada em 2016. Por isso, o objetivo da pesquisa era justamente entender o impacto social e econômico do empreendimento na segurança alimentar da população local.
Segundo Igor, coordenador do estudo, não é possível dizer, a partir desta pesquisa, que a insegurança alimentar cresceu em Altamira após a construção da usina. Isso porque, não houve um estudo antes das obras com a mesma metodologia.
Usina Hidrelétrica Belo Monte fica localizada no rio Xingi, no Pará
Norte Energia
O estudo, porém, aponta que, mesmo anos depois dessa grande obra, que prometia trazer desenvolvimento para Altamira, uma questão elementar, a alimentação, está comprometida em mais da metade dos lares na cidade.
Igor explicou ainda que, ao chegar na região de Altamira, Belo Monte investiu cerca de 6,5 bilhões em ações socioambientais como contrapartidas para que ela conseguisse as licenças de instalação. Mesmo assim, diz o pesquisador, isso não foi suficiente quando se fala em segurança alimentar.
Mesmo diante de tantos investimentos, encontrar esse nível de insegurança alimentar deixou a gente bastante preocupado porque não esperávamos encontrar algo tão alarmante, afirmou
O que diz a Norte Energia
A Norte Energia esclarece que realiza o monitoramento do consumo proteico das famílias desde julho de 2012 e os dados atuais demonstram que a taxa de consumo proteico recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 12kg/ano/pessoa e os dados de 2023 mostram que a média de consumo no Xingu é de 34kg/ano/pessoa, isto é, o a taxa média de consumo de pescado no Xingu é 280% maior que a recomendação da OMS.
Quanto à alegação da insegurança alimentar, há que se considerar que o termo vem sendo utilizado de forma genérica, sem estabelecer ferramentas para a medição. O que se pode afirmar, com base no monitoramento de consumo protéico das famílias monitoradas no âmbito do Plano Básico Ambiental (PBA), que se constitui em um conjunto único e singular de dados sobre o tema no rio Xingu, é que a população ribeirinha está consumindo alimentos de origem proteica suficientes, conforme os indicadores de referência nacionais e internacionais. Ou seja, não há cenário de insegurança alimentar, uma vez que parâmetros que possibilitam acompanhar esta questão vêm sendo aferidos desde 2012.
Embora, em termos de nutrição, a troca de pescado por produtos industrializados não seja avaliada como positiva, este fenômeno é comum em comunidades urbanas, rurais e em outros países, especialmente em desenvolvimento. A questão é muito mais ampla e a consequência da transição dos padrões de alimentação das sociedades modernas é impulsionada por fatores econômicos e de mercado.
Necessário destacar a execução dos Projetos de Geração de Renda e de Subsistência, integrantes do Programa de Atividade Produtivas que é voltado à população indígena, bem como os Projetos de Reparação Urbana e Rural, e Projetos e ações de Assistência Técnica (ATES) junto às famílias urbanas, rurais, ribeirinhas e pescadoras que são realizados pela Norte Energia. Por exemplo, somente na Terra Indígena Paquiçamba, localizada na Volta Grande do Xingu, a produção de pescado por meio de ações de aquicultura alcançou aproximadamente 115 toneladas nos anos de 2022 e 2023.
Hidrelétrica de Belo Monte
AFP Photo
O que diz o governo federal
O g1 procurou o governo federal, por meio do Ministério de Minas e Energia, mas não houve retorno.
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