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Coordenadora do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto no Pontal do Paranapanema recebe premiação internacional

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

30/03/2024 por Redação

Pesquisadora Gabriela Rezende foi uma das 11 mulheres escolhidas ao redor do mundo pelo impacto positivo de seu trabalho na conservação ambiental. Gabriela Rezende segurando um mico-leão-preto
Katie Garrett
A pesquisadora Gabriela Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), foi uma das 11 mulheres premiadas pelo Fundo de Conservação Disney ao redor do mundo.
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O mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) é considerado uma das mais raras e mais ameaçadas espécies de primatas e existe exclusivamente no Estado de São Paulo, com uma estimativa de 1,8 mil indivíduos na natureza. Deste total, cerca de 60% da população está no Pontal do Paranapanema, no Parque Estadual do Morro do Diabo em Teodoro Sampaio (SP).
Mico-leão-preto
Katie Garrett
Coordenação do projeto
A pesquisadora Gabriela Rezende é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), possui mestrado em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável na Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS) do IPÊ.
Além disso, ela também tem especialização em Manejo de Espécies Ameaçadas na Universidade de Kent, no Reino Unido, e doutorado em Ecologia, Evolução e Biodiversidade pela Unesp.
A bióloga contou ao g1 que desenvolveu o seu trabalho de mestrado com os micos-leões, procurando entender a história do programa de conservação e escreveu um livro sobre as informações que conseguiu coletar.
“Eu escrevi um livro, que é ‘Mico-Leão-Preto: A história de sucesso na conservação de uma espécie ameaçada’, e, naquele momento, eu percebi que tinha conseguido levantar uma quantidade muito grande de informações a respeito do mico e eu, a partir disso, consegui entender qual era a situação e o que precisava ser feito dali para a frente”, disse Gabriela.
Ela ressaltou que está envolvida com a espécie desde 2011 e na coordenação do programa de conservação desde 2013, há 11 anos.
“Eu comecei a me envolver mais com o programa, fui fazer essa especialização em manejo de espécies ameaçadas e, logo que eu voltei, já entrei para trabalhar no programa de conservação do mico-leão-preto e, pouco tempo depois, me convidaram para assumir a coordenação”, relembrou a pesquisadora ao g1.
Pesquisadora Gabriela Rezende é coordenadora do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
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Prêmio internacional
Neste mês de março, o Fundo de Conservação Disney premiou 11 mulheres que causam impacto positivo na conservação ambiental em todo o mundo e uma das escolhidas foi Gabriela, que recebeu, além do reconhecimento, US$ 50 mil para investir no programa de conservação.
Ela relatou que foi pega de surpresa, já que a instituição era uma financiadora recorrente do programa e, em 2022, a preservação dos micos-leões-pretos não foi contemplada para receber a verba.
“Naquela época eles até anunciaram que seria o último ciclo de financiamento porque entrariam em um processo de reestruturação e, naquela ocasião, o nosso projeto não foi contemplado, mas eles mandaram um e-mail falando que tinham gostado muito do projeto e iam deixar guardado para uma reavaliação”, esclareceu Gabriela ao g1.
Já em 2024, a pesquisadora informou que o Fundo de Conservação entrou em contato para noticiar que ela tinha sido escolhida para receber essa premiação.
“Eles entraram em contato com essa notícia de que eles tinham tomado essa decisão de reconhecer mulheres que vinham fazendo um trabalho positivo pela conservação no mundo e o nosso projeto tinha sido escolhido entre esses e eu para ser reconhecida com esse prêmio”, ressaltou a coordenadora do programa de conservação.
A espécie é reconhecida como símbolo do estado de São Paulo
Katie Garrett/Arquivo Pessoal
A premiação aconteceu no mês em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher e a Gabriela contou que o reconhecimento é muito gratificante para ela. Além disso, a bióloga ressaltou que é importante dar condições para que mulheres possam chegar a posições de liderança.
“Eu me senti muito honrada de estar ali entre essas mulheres que estavam sendo reconhecidas, porque eu tenho uma missão de poder inspirar gerações mais jovens, principalmente de mulheres, e mostrar que elas devem sim lutar pelos seus sonhos e conseguir chegar aonde elas querem. Não são questões relacionadas ao gênero que devem nos impedir. A gente tem que buscar cada vez mais dar condições para que mulheres possam chegar nessas posições de liderança”, afirmou a pesquisadora ao g1.
Ela disse ainda que sente-se muito feliz em estar no IPÊ, porque é uma organização que tem “a maioria dos cargos de liderança ocupados por mulheres” e dá condições para que a pesquisadora continue liderando o programa de conservação e desempenhando “outras funções relacionadas ao fato de ser mulher”, como, por exemplo, a maternidade.
“Eu tenho duas filhas e a maternidade nunca foi algo que me impediu de fazer as coisas que eu gostaria de fazer, de continuar exercendo o meu trabalho. Inclusive, umas das minhas filhas é bebê, tem menos de um ano, e receber um prêmio desses em um momento desse da minha vida é muito gratificante”, explicou Gabriela ao g1.
Uma das filhas da pesquisadora tem oito meses e a outra tem cinco anos de idade.
Conforme a própria instituição, o Fundo de Conservação Disney já investiu mundialmente, desde 1995, mais de US$ 65 milhões na reversão dos danos causados à vida silvestre e no aumento do tempo que as crianças passam em contato com a natureza. Do total investido, quase U$ 10 milhões foram destinados a programas na América Latina.
Mico-Leão-Preto
Gabriela Cabral Rezende
Manejo populacional
Com o dinheiro recebido, será possível seguir com as ações de manejo populacional e do habitat no Pontal do Paranapanema e avançar nas pesquisas usando bioacústica e sobre o impacto das mudanças climáticas nos micos, além de desenvolver diversas ações de educação ambiental e comunicação.
“O projeto está entrando agora em uma fase muito importante, que é uma fase de manejo populacional para evitar a extinção de populações, que se tornaram reduzidas por conta do processo de fragmentação. A gente está trabalhando justamente nesse ponto de manejo das populações, que é tirar indivíduos de populações maiores para complementar essas populações menores. O investimento do prêmio vai ser, principalmente, nesse aspecto de manejo das populações e tudo que está ligado a isso”, afirmou Gabriela.
Ela relembrou que, no início do programa de conservação, a espécie era desconhecida e com pouquíssimas informações.
“A espécie foi considerada extinta até 1970, quando ela foi redescoberta, e o projeto começou em 1984. Começou justamente com esse aspecto da pesquisa para a gente entender quais eram as especificidades da espécie”, explicou Gabriela ao g1.
Mico-leão-preto
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
Com o passar do tempo e o avançar do programa de conservação, a pesquisadora informou que novos indivíduos e novas populações foram sendo encontrados.
“A gente conseguiu aumentar, consideravelmente, o número de populações conhecidas. A gente está em torno de 20 populações conhecidas ao longo da Bacia do Rio Paranapanema e tudo isso foi fruto desse trabalho de busca dessas populações, de pesquisa para conhecer um pouquinho mais a respeito das especificidades e de buscar, justamente, atender a essas necessidades”, afirmou Gabriela ao g1.
Uma das necessidades dos micos-leões-pretos é o manejo do habitat. A bióloga disse que o trabalho de restauração dos corredores de floresta para ligar as populações isoladas é “bastante proeminente” no Pontal do Paranapanema, com mais de 3 mil hectares restaurados.
“A gente acredita que trabalhar com as populações e trabalhar com o habitat é o que vai garantir que essa espécie esteja cada vez em condições melhores, considerando que a principal ameaça é o processo de fragmentação das florestas. A gente tem trabalhado essas duas frentes juntas olhando para a questão da Mata Atlântica, para a questão do mico-leão-preto, e também, que não poderia deixar de faltar, a questão do envolvimento comunitário, da educação ambiental, de ter essas populações humanas junto com a gente em todo esse processo de conservação da espécie”, alegou a pesquisadora.
Por fim, a coordenadora do programa de conservação ressaltou que a espécie saiu da categoria “criticamente ameaçada” para “em perigo”, no ano de 2008, na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Atualmente, a meta é alcançar a categoria de “vulnerável”.
“O objetivo de qualquer programa de conservação é justamente que o programa deixe de existir porque a espécie já conseguiu um status confortável de conservação na natureza. A gente vem lutando para ir subindo os degraus e, quem sabe, logo a gente consiga essa melhora da espécie”, finalizou Gabriela ao g1.
Mico-leão-preto
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
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