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Após denunciarem racismo na Superliga B, jogadoras lamentam: "Fere muito as nossas almas"

globoesporte.com - com informações do G1

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Com informações do G1

28/01/2024 por Redação

Dani Suco, Thaís Oliveira e Camilly Ornellas, do Tijuca Tênis Clube, registrarão Boletim de Ocorrência por conta de insultos de torcedores do Curitiba Vôlei: Precisamos ir para o embate “As pessoas se acham no direito de nos colocar no lugar de animais. Isso fere muito as nossas almas”. Com essas palavras, a central Dani Suco resume o que sentiu em quadra na última sexta-feira (26). A jogadora do Tijuca Tênis Clube, junto com as colegas Thaís Oliveira e Camilly Ornellas, denunciaram manifestações racistas de torcedores do Curitiba Vôlei, em jogo da Superliga B. E prometem que não deixarão a história ser esquecida.
Jogadoras do Tijuca falam sobre racismo na Superliga B: Fere as nossas almas
No jogo realizado no ginásio do Círculo Militar do Paraná, em Curitiba, Dani foi a primeira a procurar a arbitragem para dizer que escutou sons de macaco vindos das arquibancadas. A central também conversou com as outras colegas. Thaís, então, afirma que começou a prestar atenção e ouviu insultos racistas para ela, Dani e Camilly.
Em entrevista ao ge, o trio de atletas falou sobre a situação vivida em quadra.
– Quando acontece esse tipo de coisa, o pensamento é: “o que eu faço, com quem eu falo, será que vai ser resolvido?”. Após o jogo, fomos ao delegado da partida, e ele só disse que tentou identificar quem eram (os autores das ofensas). Sentimos medo. Será que poderíamos sair da quadra? Ou os torcedores iriam partir para cima de nós? – refletiu Camilly.
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Jogadoras do Tijuca Tênis Clube denunciaram racismo na Superliga B
Reprodução
As reações de árbitros e delegado da partida são alvos de críticas das jogadoras. Elas relatam que a denúncia de racismo não foi adicionada à súmula, sob a alegação de que não correspondia a algo que aconteceu “dentro das quatro linhas”. A solução encontrada, então, foi incluir as reclamações das atletas no relatório do delegado.
– Eu percebi um despreparo enorme de quem organiza o evento (Superliga B Feminina). O que nós exigimos no nosso ambiente de trabalho são políticas mais severas, para que tenhamos mais respaldo. Eu fiquei totalmente desamparada ali no momento. Eu estava falando, e árbitros e delegado não sabiam me responder. Não nos acolheram da forma correta – criticou Dani.
Depois da vitória do Curitiba Vôlei por 3 sets a 2, as jogadoras do Tijuca já sabiam a primeira coisa que fariam: publicar vídeos nas redes sociais, com a denúncia de racismo. Os posts rapidamente viralizaram, chamando atenção da comunidade do vôlei e de pessoas que nem costumam se envolver com a modalidade.
Jogadoras do Tijuca relatam injúrias raciais em jogo em Curitiba: Tiram nossa humanidade
O apoio recebido serviu para fortalecer a busca por justiça. Mas não ameniza as marcas deixadas pelo que as atletas alegam ter vivido no jogo da Superliga B.
– A gente se sentiu ferida fisicamente também. Fiquei toda dolorida. Parece que tinham me batido. Achei que o passar dos dias amenizaria isso. Mas é o contrário. Vai diminuindo a adrenalina, e você vai tomando mais consciência. Nós fomos trabalhar, proporcionar espetáculo para as pessoas que gostam de voleibol. Acabamos violentadas da pior forma possível. Não fomos só nós três que sentimos. Somos filhas de alguém, irmãs, primas, amigas. E todas essas pessoas sentiram junto com a gente – lamentou Dani.
Thaís fez coro às palavras da central:
– Como mulheres pretas, já enfrentamos uma luta diária fora do nosso ambiente de trabalho. O trabalho deveria ser lugar de acolhimento, um refúgio, e não foi o que aconteceu. É muito duro, de verdade. Não desejo para ninguém.
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Os próximos passos
Apesar da dificuldade para processar as emoções geradas, Dani, Camilly e Thaís não querem que a denúncia caia no esquecimento. Afirmam que o próximo passo é registrar um Boletim de Ocorrência.
– Nós precisamos reunir todas as provas, como súmula e relatório do jogo. Vamos dar seguimento ao que precisa ser feito. Eu não estou certa de que concluirão o caso, mas devemos ter a coragem de denunciar. Não é um caso isolado, nem vai ser o último, mas temos que combater isso de forma efetiva e não só com discurso bonito. Eles mexeram com as pretas erradas. Sofremos uma violência, um crime, e precisamos ir para o embate – garantiu Dani.
Dani Suco afirma: Nenhum crime deve sair impune
O trio do Tijuca Tênis Clube diz que, por enquanto, não recebeu contato da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Mas ressalta que as três buscarão, junto à equipe carioca, ter acesso à súmula do jogo contra o Curitiba e ao relatório feito pelo delegado. Em nota, o time paranaense garantiu que, na segunda-feira (29), entregará imagens do ginásio para “autoridades competentes”.
Além dos procedimentos na esfera criminal, Thaís também destaca a importância de pensar em formas de abordar o racismo no esporte, especialmente no vôlei.
– Temos que conversar sobre o tema. Muitas pessoas falaram que nós deveríamos ter parado o jogo, saído da quadra. Mas só quem está ali no momento, passando por aquela dificuldade, entende.
Relembre a denúncia de racismo
Três jogadoras do Tijuca Tênis Clube denunciaram manifestações racistas de torcedores do Curitiba Vôlei em jogo da Superliga B. A partida, realizada no ginásio do Círculo Militar do Paraná, em Curitiba, aconteceu na noite de sexta-feira (26). De acordo com a central Dani Suco, a ponteira Camilly Ornellas e a levantadora Thaís Oliveira, foram ouvidos gritos de “macaca” e sons imitando o animal. Os insultos vieram das arquibancadas.
Dani Suco em ação pelo Tijuca Tênis Clube
Reprodução
Em nota enviada ao ge, a Confederação Brasileira de Vôlei disse que “não tem poder punitivo e nem de polícia”. A entidade ainda garantiu que repudia “qualquer tipo de preconceito ou ato discriminatório” e está fazendo “levantamento do material comprobatório – imagens do jogo, súmula, relatório do delegado da partida e manifestações de atletas e clubes envolvidos”. O material “será encaminhado aos órgãos competentes (principalmente Ministério Público, autoridade policial, STJD e Comitê de Ética), para que sejam tomadas todas as medidas cabíveis no âmbito esportivo e perante o poder público e demais instâncias”.
Por meio das redes sociais, o Curitiba Vôlei disse que está ciente dos relatos das atletas do Tijuca Tênis Clube, mas afirma que “até o momento, não se pôde constatar, seja pelas imagens ou áudio da partida, a ocorrência do alegado”. A equipe paranaense afirmou que continuará apurando e que, na próxima segunda-feira, entregará as imagens da partida “para as autoridades competentes”.
Em conversa com o ge, o Tijuca Tênis Clube revelou que recebeu contato da CBV, por meio do ex-levantador Marcelinho, e disse que se reunirá com a entidade nesta semana. O clube carioca já acionou seu departamento jurídico para acompanhar o caso.
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+ Veja a íntegra das notas de CBV, Curitiba Vôlei e Tijuca Tênis Clube

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