Pedras na vesícula não estão associadas a doenças ou má condições de saúde e podem surgir em bois e vacas de qualquer raça. Preço do grama pode chegar a R$ 1 mil. Bois de qualquer raça podem desenvolver cálculo biliar
Reprodução/TVCA
É na bile, aquele líquido esverdeado produzido pelo fígado, que se formam as pedras que, nos bovinos, têm chamado a atenção de criminosos na região de Ribeirão Preto (SP). Isso porque, quando encontradas na vesícula de bois e vacas, elas têm alto valor agregado e o preço de um único grama pode chegar a R$ 1 mil.
Siga o canal g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp
Por que surgem estes cálculos biliares, no entanto, ainda é um mistério para especialistas na criação e cuidados com bovinos.
Há algumas teorias que animais que pastam em solos alcalinos, solos calcários, tem maior predisposição de ter a formação desse cálculo, que nada mais é do que uma precipitação de sais biliares, calcário, matéria orgânica e inorgânica, que se precipitam à bile, explica o professor de veterinária Ronaldo Martins.
Segundo ele, apesar das poucas informações sobre o motivo pelo qual estas pedras surgem, a medicina veterinária entende que elas são resultado da solidificação de compostos.
A bile é um detergente da digestão dos animais e é produzida pelo fígado, armazenada na vesícula biliar e liberada no intestino. Quando essa bile solidifica dentro da vesícula, forma esses cálculos.
No dia 15 de dezembro, a Polícia Civil de Barretos (SP) apreendeu quase um quilo de cálculo biliar bovino em uma casa na zona rural da cidade. O valor total do produto não foi divulgado, mas o g1 apurou que o preço do grama varia de acordo com a coloração da pedra:
Um grama de pedra de boi amarela pode valer R$ 1 mil
Um grama de pedra de boi preta pode variar entre R$ 150 e R$ 300
Sacos de pedra fel foram apreendidos nesta sexta-feira (15) em uma residência em Barretos (SP)
Divulgação
Este, no entanto, não foi o primeiro caso na região de Ribeirão Preto. Pelo menos quatro ocorrências de roubo do produto já foram registradas desde 2019, principalmente em Barretos.
LEIA TAMBÉM
Pedras de boi 🐂: o que são, qual o uso e por que podem valer milhões
Ladrões roubam R$ 400 mil em pedras da vesícula de bois em Barretos
Polícia apreende pedras de boi dentro de residência na zona rural de Barretos
Casal de Barretos é preso suspeito de participar de roubo de R$ 3 mi em pedra de boi
Cálculos biliares bovinos são muito utilizados na medicina tradicional chinesa para o tratamento de convulsões, desmaios e febre.
Eles também servem como base para a composição de alguns remédios chineses, por isso, o mercado de exportação para aquele país é um dos mais importantes.
Quadrilha roubou 18 quilos de cálculo biliar bovino em Barretos, SP, em 2019
Reprodução/EPTV
Nem todo bovino tem pedra na vesícula
Segundo Martins, a grande maioria dos animais que apresenta cálculo biliar tem mais de oito anos.
São animais velhos, mas qualquer animal fêmea, macho, e de qualquer raça, pode apresentar esses cálculos. O Brasil tem intensificado a produção e abatendo animais cada vez mais jovem, até 4 anos, então é difícil achar esses cálculos em animais jovens. Não impede de achar, mas é mais difícil.
Outro ponto é que, dificilmente, animais confinados possam desenvolver o cálculo biliar.
Animais que são criados à pastos e em regiões calcárias são os que mais apresentam esses cálculos, diz Martins.
Por que se formam os cálculos biliares?
A médica veterinária Gabriela Gomes Marchioni explica que um dos fatores que podem levar à formação de cálculos biliares é a alimentação de bovinos.
Segundo ela, suplementação de cálcio na dieta ou ingestão de capim com alto teor deste mineral podem contribuir com a formação de cálculo biliar em bois.
Causa e processo de formação desses cálculos não estão totalmente elucidados, mas o cálcio é considerado um fator de nucleação, por isso, acredita-se que a alimentação é um fator primordial no desenvolvimento da colelitíase. Pesquisadores já levantaram a hipótese de que os núcleos dessas formações concêntricas podem ser corpos estranhos ingeridos ou até parasitas.
Ainda segundo Gabriela, outro fator de destaque associado à alimentação é a constituição química do solo das pastagens ser fértil em elementos alcalinos.
Constituição química do solo das pastagens pode contribuir com formação de pedras na vesícula de bois
Divulgação
Como é retirada a pedra da vesícula do boi
Ronaldo Martins explica que o animal precisa estar morto para que as pedras sejam retiradas. E só com ele abatido é possível checar se, de fato, há pedras na vesícula dele. Este processo ocorro nos frigoríficos.
A vesícula biliar é como se fosse uma sacolinha, do tamanho da palma de uma mão. Nos frigoríficos existe uma gaiola trancada a cadeado, onde eles passam a faca nessa vesícula e o conteúdo cai todo dentro dessa grade, que tem uma peneira. Pouquíssimos animais vão apresentar esse cálculo, então é na sorte. Toda vesícula vai ser aberta nessa gaiola, só que nunca se sabe se vai ter a pedra ou não.
Cálculos biliares não estão associados a doenças ou más condições de saúde do animal, por isso mesmo, pedras de boi acabam sendo até raras, na maioria das vezes.
O Brasil abate pouco animal velho. A gente está abatendo cada vez mais jovens e animais confinados, então a gente está tirando o que seria o predisponente, que é animal solto no pasto e mais velho. Esses cálculos não representam patologia para o animal na grande maioria das vezes. O animal não vai apresentar nenhuma doença, por isso que não é muito estudado.
Cálculo biliar bovino acomete, geralmente, animais mais velhos
Reprodução
Além de não ser uma doença, cálculos biliares são pequenos e, geralmente, não incomodam o bovino.
Não causam dor, desde que não obstruam essa passagem do líquido. A partir do momento que esse cálculo obstrui a passagem da bile, vai causar o que a gente chama de colestase, que o animal vai reter a bile e, isso sim, vai causar dor.
Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca
VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto e região
