Alvimar Perrella recorda que premiação pelo Brasileirão não pagou sequer o bicho prometido ao elenco e cita venda de jogadores e direitos de transmissão como fundamentais naquele ano Há exatos 20 anos, no dia 30 de novembro de 2003, o Cruzeiro fazia história. Batia o Paysandu, no Mineirão, por 2 a 1, e confirmava aquele que se tornaria o ano mais vitorioso de um clube no futebol brasileiro, até então. O primeiro a conquistar a Tríplice Coroa, levantando os troféus do Mineiro, da Copa do Brasil e do Brasileirão. Mesmo com orçamento modesto, como lembra Alvimar Perrella, então presidente do clube.
O ano foi mágico, extraordinário, espetacular. (Alvimar Perrela)
Relembre a conquista da Tríplice Coroa pelo Cruzeiro
+ ✅ Clique aqui e siga o canal da torcida do Cruzeiro no WhatsApp!
Mas as conquistas do Cruzeiro, de certa forma, surpreenderam. Era um time que tinha Vanderlei Luxemburgo como figura central, mas um elenco em reformulação desde 2002, quando ficou fora do mata-mata decisivo do Brasileirão. Alex, que se tornaria a principal estrela da constelação, era cercado por dúvidas.
Além disso, o Cruzeiro tinha um orçamento baixo para a época, como conta Alvimar Perrela. Segundo ele, Vanderlei Luxemburgo e Alex recebiam, juntos, R$ 150 mil. Salário alto para um trabalhador brasileiro, mas baixo para os padrões dos grandes clubes do futebol nacional.
Mais notícias do Cruzeiro
Financeiramente, o futebol evoluiu de uma forma absurda. Nosso maior salário, na época, era para o Vanderlei Luxemburgo, R$ 90 mil. Entre os jogadores, o Alex ganhava R$ 60 mil, e o restante ficava abaixo disso.
Luxemburgo, naquela altura, já era um dos principais treinadores do futebol brasileiro. Havia passado pela Seleção e acumulava, no currículo, três títulos do Brasileirão, além de taças regionais. Fazendo uma correção sobre o salário do técnico, seria como se ele recebesse R$ 340 mil atualmente.
Alex também chegou ao Cruzeiro com um currículo de destaque. Já havia sido importante em conquistas do Palmeiras no Brasileiro e na Libertadores, além de ter passagem pela Seleção e no futebol italiano. O salário dele de 2003 equivaleria a R$ 227 mil, atualmente. Não estaria, por exemplo, entre os maiores vencimentos do atual elenco cruzeirense.
Festa do Cruzeiro na conquista do Brasileiro em 2003
Reprodução/ TV Globo Minas
Os salários eram distantes do mundo atual, e as premiações, então, nem se fala. Alvimar não se recorda exatamente quanto a CBF pagou pela conquista da Copa do Brasil, 20 anos atrás, mas lembra que o bônus pelo título brasileiro não foi suficiente sequer para pagar os “bichos” dos atletas ao longo do ano.
+ Simulador do ge: clique aqui e projete a reta final do Cruzeiro no Brasileirão
Para você ter uma ideia, a premiação do Campeonato Brasileiro não deu nem para pagar a premiação paga aos jogadores no decorrer da competição. Eram R$ 2 milhões, e a premiação ao longo da competição, para os jogadores, ultrapassava um pouco isso.
Alex participou dos quatro gols do Cruzeiro contra o Flamengo na final da Copa do Brasil de 2003
Carlos Roberto / Futura Press
Também fazendo o exercício de correção monetária, o valor seria equivalente a R$ 7,5 milhões em 2023. Para se ter uma ideia, a CBF pagou R$ 45 milhões ao Palmeiras pelo título do Brasileirão no ano passado.
Em meio a esse cenário, Alvimar cita que as vendas de jogadores e de direitos de transmissões eram as principais fontes de renda do Cruzeiro.
- Naquela época, o mais importante era transferência de jogadores, depois a captação de recursos com venda de direitos de imagens. Mas, naquela época, o Pay-Per-View estava engatinhando, começando a ser implementado. As receitas de televisão não eram tão valorizados como agora. O futebol era feito com menos recursos, mas o clube tinha um patamar também diferente de hoje.
No decorrer da temporada, por exemplo, o clube negociou o zagueiro Luisão, e os atacantes Marcelo Ramos, Jussiê e Deivid. Outros atletas fizeram o caminho inverso, chegando ao clube durante o ano, como Zinho e Maldonado.
Alvimar e diretoria do Cruzeiro contrataram Aristizabal para 2003
Reprodução / Instagram
A negociação de Luisão, inclusive, rendeu um alto faturamento ao Cruzeiro, considerando o que foi investido pelo atleta. Alvimar Perrella lembra que pagou 200 mil dólares para ter o zagueiro, vendido posteriormente ao Benfica, de Portugal, por 2,5 milhões de dólares. No combo de Luisão, chegou também o volante Augusto Recife, titular absoluto em 2003.
- A gente também olhava muito para a base, inclusive dos concorrentes, aqueles clubes menores. O próprio Augusto Recife, o Luisão, o Zé Roberto e mais um garoto de menos destaque, vieram em uma negociação que fizemos com uma empresa vinculava ao Juventus, de São Paulo. Trouxemos todos eles por 200 mil dólares.
Outras respostas de Alvimar sobre 2003
O primeiro ano como presidente do Cruzeiro
- Foi o meu primeiro ano como presidente. Fui vice do meu irmão entre 1997 e 2002. Vice de futebol e vice eletivo, sempre trabalhando também no futebol. Quando eu assumi, a caneta pesou. Dá uma balançada na perna. Eu tinha uma certa experiência. Entrei em 1997, ano em que ganhamos a Libertadores, mas nem foi pelas minhas mãos. Somente coincidiu. Quando chegou o momento de ser presidente, ter a caneta e decidir as coisas... Eu tinha um suporte grande do meu irmão e do Eduardo Maluf, que tiveram participação fundamental naquelas conquistas.
É muito gratificante fazer parte da história. Se não houvesse a Tríplice Coroa, você não estaria me ligando, por exemplo. É muito gratificante, e eu me sinto muito honrado de ter sido abençoado naquele ano. Mesmo com poucos recursos, com pouco dinheiro, nós fizemos uma campanha magistral em todos os campeonatos.
A ficha já caiu, 20 anos depois?
- A gente não valorizava tanto, achava que era uma obrigação, vamos dizer assim. Quando você assume um clube com o tamanho do Cruzeiro é por amar demais o futebol e o clube. Esses 20 anos foram muito marcantes. É bom ser reconhecido pelos torcedores nas ruas.
Troféus conquistados pelo Cruzeiro em 2003
Gilson Lobo/AGIF
Quando viram que teriam um ano tão vencedor?
- O Cruzeiro ganhou o Mineiro com muita facilidade. Claro que as forças são bem diferentes, mas o Cruzeiro jogava com muita facilidade, jogando tão bem... depois, na Copa do Brasil, era eficiente, objetivo. O resultado surpreendente era empatar, a gente já achava uma m*, fosse fora de casa ou em qualquer lugar. No Brasileiro, depois de conquistar o Mineiro invicto e a Copa do Brasil sobre aquele timaço do Flamengo, com o gol do Alex no Maracanã, depois a vitória por 3 a 1 aqui, a gente teve a garantia de estar, no mínimo, na Libertadores. No decorrer do campeonato, a gente sabia que ia ganhar os jogos, só não sabia de quanto.
Assista: tudo sobre o Cruzeiro no ge, na Globo e no Sportv
🎧 Ouça o podcast ge Cruzeiro 🎧
