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Como penúltima visita ao Brasil abriu caminho para a Argentina conquistar o Mundo em 2022

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Com informações do G1

20/11/2023 por Redação

Copa América de 2021 é considerada como marco na construção de equipe que viria a ser campeã mundial no Catar, assim como vitória sobre a Seleção em final no Maracanã Quando os jogadores da seleção argentina pisarem no gramado do Maracanã, na próxima terça-feira, às 21h30 (de Brasília), muita coisa certamente soará diferente do último encontro com o estádio, há mais de dois anos. Naquela final de Copa América, o gigante parecia ainda maior por conta das arquibancadas quase vazias em plena pandemia da Covid-19. E o jejum de 28 anos sem títulos parecia pesar ainda mais nas costas de uma geração talentosa, mas não vitoriosa. Não até aquele momento.
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Exatos 864 dias depois daquele 10 de julho de 2021, os comandados de Lionel Scaloni enfrentarão arquibancadas cheias no lendário estádio, de novo contra o Brasil, pelas eliminatórias para a Copa de 2026. Agora, sem o peso do incômodo período, e sim com a pompa de serem os atuais campeões mundiais. Neste cenário, talvez lembrarão de como aquela conquista, com direito a vitória sobre o anfitrião, abriu o caminho para que a Copa do Mundo fosse erguida no Catar, no fim do ano passado.
Não é possível afirmar que a Argentina não conquistaria o mundo em 2022 se Di María não tivesse marcado um belo gol e garantido o 1 a 0 sobre a seleção brasileira um ano e meio antes. Mas o fato é que a Copa América de 2021, disputada no Brasil de forma emergencial, após uma troca de sedes, foi o torneio que permitiu que Lionel Scaloni fizesse testes, desse espaço a jogadores de pouco peso (na época) e também ganhasse confiança no cargo. Além de, na esfera mental, ter rasgado um rótulo que marcava toda uma geração.
Messi e Di María comandaram a Argentina campeã da Copa América de 2021
AFP
- O que a Copa América fez foi desbloquear. Desbloqueou a seleção e Messi, acima de tudo. Tirou uma mochila que tinha de mil quilos em cima de suas costas e o permitiu jogar tranquilo. E a partir desta tranquilidade, apareceu o melhor time. Apareceu um bom Messi, mais relaxado, mais solto, e um técnico com muita mais autoridade. Um técnico que chegou de uma maneira e a partir daí teve muito mais autoridade para fazer as mudanças que pretendia - opina o jornalista argentino Guido Glait, do canal TyC Sports.
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Do sonho em casa ao Maracanazo argentino
A disputa da Copa América não foi, de fato, a última vez em que os hermanos pisaram em solo brasileiro. Meses depois, ainda pelas eliminatórias para a Copa do Mundo, o fatídico clássico da Anvisa, em São Paulo, entraria para a história apenas nas páginas policiais, uma vez que o jogo foi considerado como anulado, não tendo resultado oficialmente contabilizado. Desta forma, o último duelo oficial entre Brasil e Argentina foi aquela final no Maracanã.
Para chegar até lá, os argentinos viram cair por terra o sonho de encerrarem dentro de casa a seca de títulos que vinha desde 1993. Aquela Copa América seria realizada, inicialmente, no país, que dividiria a organização com a Colômbia - a decisão seria na Argentina. Veio a pandemia e adiou a competição para o ano seguinte. Em 2021, uma onda de protestos fez a Colômbia sair da organização, que ficaria apenas com a Argentina. Porém, uma nova reviravolta impediu que os hermanos atuassem em casa: a situação da Covid-19 piorou no país, que abriu mão de sediar o torneio. O governo do Brasil se colocou à disposição, e o país tornou-se a nova sede.
Após Argentina desistir, Brasil passa a ser sede da Copa América
A Argentina chegou ao Brasil com o trabalho de Lionel Scaloni sob desconfiança. Desde que o futebol foi retomado em meio à pandemia, o time somou três vitórias e três empates nas eliminatórias para a Copa de 2022. O time vinha de um 1 a 1 com o Chile, em casa, e um 2 a 2 com a Colômbia, fora, dias antes, em seus testes mais complicados no torneio até então.
É verdade, também, que o time defendia uma invencibilidade de 13 jogos. A última derrota havia sido justamente em uma Copa América no Brasil, diante dos anfitriões, na semifinal da edição de 2019. Ainda assim, Scaloni era protagonista em uma queda de braço entre aqueles que acreditavam que o ex-auxiliar de Sampaoli era uma boa aposta até o Catar e outros que consideravam que a AFA devia buscar um nome de peso.
Lionel Scaloni, técnico da Argentina, nasceu na mesma cidade que Messi
A campanha no Brasil começou com mais um empate: de novo um 1 a 1 com o Chile, com gol de Messi, no Estádio Nilton Santos, no Rio. Os hermanos começaram jogando com Emi Martínez, Montiel, Martínez Quarta, Otamendi e Tagliafico; Paredes, De Paul e Lo Celso; Messi, Nicolás González e Lautaro Martínez. Uma espinha dorsal já esboçada por Scaloni dias antes, nos outros compromissos de 2021 - que já apresentavam mudanças com relação ao ano anterior.
Assim como aconteceria na Copa do Mundo no Catar, Scaloni não teve medo das mudanças. Diante do Uruguai, trocou basicamente toda a linha defensiva, colocando em campo Molina, Romero e Acuña nas vagas de Montiel, Quarta e Tagliafico. No meio, Guido Rodríguez substituiu Paredes. E venceu por 1 a 0, em Brasília.
Na partida seguinte, mais uma vitória magra, agora sobre o Paraguai, também em Brasília, em dia de novos testes. Pezzella foi testado na zaga com Romero; Tagliafico voltou ao time na lateral esquerda, assim como Paredes no meio. Papu Gómez ganhou chance, e os veteranos Di María e Agüero foram para o ataque.
Contra a Bolívia, ficou claro que o treinador não hesitaria quando julgasse necessário mexer na equipe. O time jogou novamente com muitas modificações, do gol ao ataque: Armani, Montiel, Pezzella, Lisandro Martínez e Acuña; Palacios, Guido Rodríguez e Papu Gómez; Messi, Ángel Correa e Sergio Agüero. Os argentinos golearam por 4 a 1, em Cuiabá.
Chegou o mata-mata, e Scaloni apostou em uma escalação parecida com as dois primeiros jogos, com Pezzella e Otamendi na zaga, Molina e Acuña nas laterais, Paredes e Lo Celso no meio e Lautaro e Nicolás González no ataque. Todos comandados por Messi para enfrentar o Equador. A Argentina venceu por 3 a 0 em Goiânia e foi às semifinais.
Escalações da Argentina na Copa América 2021
Então, técnico praticamente manteve o time, colocando Tagliafico de volta na lateral esquerda, e Guido Rodríguez no meio, no lugar de Paredes. Lautaro e Nicolás González seguiram prestigiados diante dos veteranos Di María e Agüero. O duelo contra a Colômbia não foi simples, terminando empatado em 1 a 1. Nos pênaltis, deu Argentina, por 3 a 2, indicando o fim de mais um trauma: em 2015 e 2016 o time havia sido vice-campeão continental em uma disputa do tipo.
Enganou-se quem pensou que, classificado para a grande decisão diante do considerado favorito Brasil, Lionel Scaloni provavelmente manteria a base da equipe que avançou nas duas fases anteriores. O técnico mudou meio time, mantendo Emi Martínez, Otamendi, De Paul, Lo Celso, Messi e Lautaro Martínez. Voltaram à equipe Montiel, Romero, Acuña, Paredes e Di María - que foi o autor do gol do título depois de grande jogada.
- Creio que foi a competição responsável por chancelar determinados jogadores no time. Dibu Martinez, Rodrigo de Paul, Cristian Romero, Lo Celso, Lautaro Martínez e outros. Uma geração que em sua maioria chega à seleção pós-Copa de 2018. O time teve uma melhora gradual a partir de 2019, mas pela ausência de títulos da Argentina, o bom futebol precisava de uma conquista. A competição marcou o acerto da equipe mesmo. Mas já era um processo que vinha crescendo em dois anos - analisa o comentarista Rodrigo Coutinho.
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Os grandes nomes
Muito cobrado pelos argentinos pelos vice-campeonatos em 2015 e 2016 e visto como um dos responsáveis pelo jejum de 28 anos sem título, Messi se livrou do peso por enfim ter conseguido sair vitorioso de uma final com a seleção. E o fez em grande estilo, depois de boas atuações em sequência ao longo da Copa América. O camisa 10 foi o artilheiro, com quatro gols (empatado com Luis Díaz), e acabou eleito o melhor jogador do torneio (junto a Neymar).
Mas a campanha permitiu que a Argentina saísse do Brasil com novas referências na seleção, além do próprio Messi e seus contemporâneos, como Di María e Agüero. Entre nomes que ganharam força em diversos setores, pode-se destacar o goleiro Emi Martínez e o meia De Paul, que entraram para a seleção da Copa América junto a Messi e Cristian Romero. Ali, os dois começaram a pavimentar um caminho rumo à idolatria.
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De Paul deixou a Copa América 2021 com a fama de cão de guarda de Messi
Getty Images
De Paul, já com 27 anos na época, viu sua carreira ser transformada pela competição. Depois de cinco temporadas na Udinese, despertou o interesse do Atlético de Madrid, que o comprou por 35 milhões de euros. Apesar de já ser titular da equipe desde a Copa América de 2019, ali ele ganhou o status de jogador indispensável, recebendo até o apelido de cão de guarda de Messi.
Efeito parecido aconteceu com Emiliano Martínez. O goleiro não mudou de clube, mas passou a ser o titular absoluto da posição na seleção, que vinha sendo dominada por Armani desde a Copa de 2018. O arqueiro foi herói em um momento sensível da campanha, na disputa de pênaltis contra a Colômbia, e passou a ter a confiança dos torcedores.
Emiliano Martínez em defesa de pênalti em Argentina x Colômbia
Divulgação/Conmebol
Apesar de sem o mesmo destaque, outros atletas também se firmaram de vez na seleção com a campanha vitoriosa. Não à toa, dos 26 jogadores que formariam o elenco campeão do mundo, 20 participaram da conquista do título na Copa América. Dos 28 chamados em 2021, só ficaram pelo caminho até o Catar os goleiros Musso e Marchesín, o zagueiro Martínez Quarta, os meias Nicolás Domínguez e Ángel Correa e o atacante Lucas Alario - sem contar Lo Celso, que se lesionou antes do Mundial, e Agüero, que se aposentou por um problema no coração.
- É possível falar que a competição, até pelo seu tamanho, com sete jogos disputados, permitiu consolidar um modelo com um tripé no meio campo, permitindo a Messi ter liberdade para se mover à frente deles e tendo muitos jogadores próximos para se associar. Ainda que na Copa Lo Celso (perdeu o Mundial por lesão) e Paredes terminassem dando lugar a Enzo e MacAllister, a Copa América deixou claro um modelo que deixava Messi mais à vontade. Além disso, consolidou as opções nas laterais, com Molina na direita e Tagliafico ou Acuña na esquerda. A partir daí, havia uma espinha dorsal definida enque resistiu até à perda de jogadores importantes. Ou à má fase de Lautaro no início do Mundial, com o surgimento de Julián Alvarez. O torneio consolidou uma forma de jogar que daria o título à Argentina - avalia o comentarista Carlos Eduardo Mansur.
Jogadores que conquistaram a Copa do Mundo em 2022 e a Copa América em 2021:
Goleiros: Armani e Emiliano Martínez;
Defensores: Molina, Montiel, Otamendi, Pezzella, Tagliafico, Acuña, Lisandro Martínez e Cristian Romero;
Meio-campistas: Paredes, Guido Rodríguez, Palacios, De Paul e Alejandro Gómez;
Atacantes: Nicolás González, Di María, Messi, Lautaro e Joaquín Correa.
O peso da final
A decisão em pleno Maracanã contra o anfitrião Brasil, que vinha de um título em casa dois anos antes, também foi fundamental para transformar a mentalidade daquela equipe. Os hermanos chegaram ao confronto contra a Seleção com um histórico para lá de negativo em jogos decisivos: a última vez que os argentinos tinham conseguido superar o Brasil em um mata-mata havia sido justamente na Copa América de 1993, o último título até então.
De lá até 2021 foram seis derrotas seguidas: nas quartas de final da Copa América de 1995, nos pênaltis; nas quartas de final da Copa América de 1999; na final da Copa América de 2004, de novo nos pênaltis; na final da Copa das Confederações de 2005, com direito a goleada; na final da Copa América de 2007; e na semifinal da Copa América de 2019.
Vitória sobre o Brasil consagrou Messi e fortaleceu a Argentina
André Durão
A decisão de 2021 teve um aspecto diferente por conta do público restrito: foram liberados apenas 4.400 ingressos para torcedores de Brasil e Argentina, além de centenas de convidados da Conmebol. E bastou menos da metade do primeiro tempo para que o time de Lionel Scaloni transformasse o cenário a seu favor, quando Di María recebeu lançamento de De Paul, aproveitou bobeira de Lodi e encobriu Alisson, marcando um golaço.
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O Brasil ainda conseguiu marcar no segundo tempo, com Richarlison, em lance que acabou anulado. Emi Martínez apareceu depois em pelo menos duas defesas importantes, e o apito final iniciou a consagração de uma geração que entraria para a história. A vitória em uma Copa América que nasceu na Argentina e terminou no Brasil resultou um Maracanazo Argentino, como tratou a imprensa local na época. O povo foi para as ruas de Buenos Aires em plena pandemia, em um prenúncio do que aconteceria de novo um ano e meio depois.
- Vencer em pleno Maracanã, mesmo com o público reduzido pela pandemia, tirou um peso imenso das costas de Messi e dos jogadores mais experientes. Aqui no Brasil a Copa América não é tratada com a mesma importância que a Argentina tratava pela frequência de títulos recentes do futebol brasileiro na competição. A queda da pressão sobre os jogadores deu ainda mais segurança do caminho que Scaloni traçava - observa Rodrigo Coutinho.

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