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À CPI, enfermeiras afirmam que criança morta após picada de escorpião recebeu soro ao chegar à Santa Casa de Piracicaba

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

26/10/2023 por Redação

Nesta quinta(26), foram colhidos depoimentos de enfermeira, técnica de enfermagem e recepcionista que atenderam Jamilly no hospital. Família denuncia negligência e demora. Jamily Vitória Duarte, de 5 anos, morreu após ser picada por escorpião em Piracicaba (SP)
Arquivo pessoal
Duas profissionais de saúde que atenderam a menina, Jamilly Vitória Duarte, de 5 anos, afirmaram que a criança recebeu o soro antiescorpiônico assim que deu entrada na Santa Casa de Piracicaba (SP). As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (26) pelo Legislativo após depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara, que investiga se houve erros ou irregularidades no atendimento da paciente.
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Em reunião mais recente da CPI, nesta quinta-feira (26), falaram à Comissão a enfermeira supervisora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital e da técnica de enfermagem que também atuou no atendimento da menina, que morreu no dia 12 de agosto, vítima de picada de escorpião.
Ainda de acordo com informações publicadas pelo Legislativo, a criança recebeu o primeiro atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Cristina às 20h40 do dia 11 de agosto.
Desde 1º de julho, a UPA é administrada pela OSS (Organização Social de Saúde) Mahatma Gandhi.A unidade, que segundo a Câmara, é referência para casos de picadas de escorpião e onde havia o antídoto. O antídoto não foi administrado na criança.
Santa Casa
Em depoimento à CPI, as enfermeiras informaram que a equipe da Santa Casa estava ciente de que receberiam um caso de criança vítima de picada escorpião e que o estado era grave.
“Por isso, a vaga já foi preparada para Jamilly e o soro antiescorpiônico foi separado para ser administrado. Segundo a enfermeira, Jamilly já apresentava pernas e braços frios e com coloração escura quando chegou. Ela disse que a menina tinha um acesso venoso no braço, feito pela equipe do Samu, mas que foi perdido no processo de transferência de maca e também porque a paciente estava muito agitada”, reproduz trecho do texto da Câmara.
A enfermeira disse que fez uma primeira tentativa de acesso no braço, mas não conseguiu e, em seguida, pediu a colaboração de Jamilly e, na segunda tentativa, teve sucesso em um acesso venoso na jugular (no pescoço). Ela disse que imediatamente foi administrado o soro antiescorpiônico, por prescrição da médica de plantão.
Estado de saúde
As profissionais relataram à CPI que, no momento em que chegou à Santa Casa, Jamilly estava consciente, pedindo pela mãe e com muito frio. A criança foi aquecida e monitorizada e teve o quadro estabilizado. No entanto, por volta das cinco horas da manhã, ela teve uma piora no quadro, com taquicardia.
A médica então prescreveu a medicação necessária. Por volta das seis horas da manhã, ela piorou novamente e a médica prestou nova assistência. Antes de deixar o plantão, às sete horas, a enfermeira avisou a médica e também deixou separado mais um ciclo de soro antiescorpiônico.
Horário de chegada - Também prestou depoimento a recepcionista hospitalar da Santa Casa, Zuleica Terezinha Vitti, responsável pela internação de Jamilly. Ela disse que a mãe foi até a recepção às 22h40 e relatou o estado emocional dela. A recepcionista não teve contato com a criança.
Médica diz não saber que havia soro na UPA
A médica que atendeu Jamilly, informou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o caso, na Câmara, que não sabia que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde fez o atendimento tinha soro antiescorpiônico. As informações foram divulgadas pelo Legislativo após depoimento realizado no dia 17 de outubro.
Segundo a Câmara, a médica relatou aos vereadores que Jamilly estava andando e consciente quando chegou à UPA, mas apresentava quadro de sudorese (transpiração) e vômito, por isso avaliou o caso como grave. Mas não a encaminhou à sala de emergência porque o protocolo da unidade era de que isso precisava ser feito após uma avaliação detalhada do quadro.
A médica informou que prescreveu medicamentos para os sintomas e iniciou procedimentos para a transferência da criança para um hospital.
Prédio da UPA Vila Cristina, em Piracicaba
Isabela Borghese/ Prefeitura de Piracicaba
Ela também disse ter encontrado dificuldades para requisitar a vaga porque a unidade estaria com o sistema instável e, além disso, não teria conseguido inserir o número do cartão da paciente. Segundo a profissional, a falta de documentos da criança também teria dificultado o procedimento.
Questionada sobre o motivo de não ter prescrito o soro antiescorpiônico para Jamilly, a médica disse que não sabia que havia o insumo na unidade e que teria perguntado para uma pessoa da equipe, que teria informado que não havia o soro.
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A profissional de saúde disse que só soube da existência do soro depois que a menina já havia perdido o acesso venoso (entrada por meio de agulha na veia para aplicação de medicação) e a equipe tentava restabelecer.
Segundo a médica, depois disso, outros profissionais de saúde teriam afirmado que também não sabiam sobre a existência do medicamento no local e que o soro fica em uma sala onde ela nunca teria entrado e que nunca teria sido apresentada a ela.
A profissional afirmou que prescreveu o soro posteriormente, enquanto Jamilly ainda estava na UPA.
A médica alegou que não auxiliou na tentativa de acesso venoso na criança porque a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) teria chegado e assumido o atendimento para a transferência da paciente.
Ela admitiu que haveria outras possibilidades de acesso, mas que o acesso venoso central, para o qual somente o médico é habilitado a fazer, levaria mais tempo e ela corria risco de não conseguir. Por isso, teria optado pela transferência.
A testemunha garantiu que prestou assistência à Jamilly e que só teria se afastado quando precisou solicitar a vaga, em um computador que fica na própria sala de observação, mas que estaria a poucos metros do leito dela.
A profissional não soube dizer em quanto tempo o soro antiescorpiônico deveria ser aplicado, mas admitiu que o ideal seria que o procedimento fosse adotado assim que ela chegou à unidade.
A médica não trabalha mais na UPA. Ela afirmou que se formou em junho deste ano, não é pediatra e prestava atendimento na ala de pediatria como clínica geral. A profissional não tinha experiência em serviços de urgência e emergência.
Criança morre após ser picada por escorpião em Piracicaba
O que dizem prefeitura e OS
Em nota, a OSS que administra a unidade informou o acesso na veia da paciente foi feito após avaliação com a médica, mas esse acesso foi perdido e foram feitas novas tentativas de restabelecê-lo, que não tiveram sucesso devido à desidratação da criança.
A organização social admitiu que foi constatada a existência do soro na unidade após a perda do acesso na veia de Jamily, quando o Samu já estava no local para realizar a transferência.
“Diante deste contexto, foi em comum consentimento entre as equipes em realizar a transferência imediata da paciente para Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Piracicaba, por associar a recursos de alta complexidade e possibilidade de administrar o soro antiescorpiônico”, acrescentou.
A OSS garantiu que “é de conhecimento da equipe que a UPA Vila Cristina é referência para casos de escorpionismo, cabendo ressaltar que a coordenação da unidade havia participado de orientações sobre fluxos de soro”. Também garantiu que os profissionais são treinados para este tipo de atendimento.
“Destacamos, por fim, que é preciso atentar-se que o tempo de atendimento na UPA, considerando a entrada e saída da unidade, foi pouco mais de uma hora, tempo muito menor que interstício da picada e socorro pela família e a permanência na Santa Casa”, finalizou.
A Prefeitura de Piracicaba informou que está à disposição para contribuir com todas informações necessárias para a Comissão da Câmara Municipal e que a gerência da UPA é de responsabilidade da OSS Mahatma Gandhi.
Patrícia das Graças Adriana Duarte denuncia falha no atendimento médico à filha de 5 anos picada por escorpião, em Piracicaba (SP)
Heitor Moreira/EPTV

Chegou gritando, desesperada
Mãe de Jamily, Patrícia das Graças Adriana Duarte relatou que a filha chegou à UPA no dia 11, um dia antes da morte, gritando de dor, e ela informou imediatamente na recepção que a menina havia sido picada por escorpião - o fato ocorreu na frente da casa do avô. De acordo com a mãe, se tratava de um escorpião amarelo.
Ela também afirmou que depois de mais de uma hora recebeu a informação de que não havia o soro na unidade.
Ela chegou gritando, desesperada. Todo mundo ficou paralisado. Disse que era picada [de escorpião], mas foram pegando meus dados com maior calma. Se tivessem falado logo que não tinham o soro, eu teria ido para a Santa Casa com minha filha, disse.
Quando ela chegou na Santa Casa, foi difícil achar a veia dela. E ela foi piorando. Lá pelas 2h da madrugada, ela piorou, começou a dar parada cardíaca, e veio a óbito por volta das 8h, contou a mãe.
De acordo com o site oficial da prefeitura de Piracicaba, o procedimento adotado pela mãe é o recomendado. A Secretaria de Saúde orienta, em caso de picada de escorpião, que a população procure a UPA mais próxima.
“Quando existe uma sintomatologia mais grave é dado o primeiro atendimento na UPA e, caso ocorra a necessidade, o paciente é encaminhado à Santa Casa de Pìracicaba, referência em administração do soro antiescorpiônico em nossa região”, diz o texto atribuído à coordenadora das Urgências e Emergências, Flávia de Sá Molina.
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