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Além da fanfic: como transplantes feitos por Faustão e Selena Gomez podem cair no vestibular

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

19/10/2023 por Redação

Namoro fictício entre cantora norte-americana e apresentador rende memes na internet desde 2016. Agora, personalidades têm em comum procedimento que pode aparecer na prova. Saiba como transplantes feitos por Faustão e Selena Gomez podem cair no vestibular
Protagonistas de fanfics - ou histórias escritas por fãs - no mínimo inusitadas, a cantora norte-americana Selena Gomez e o apresentador Fausto Silva, o Faustão, agora têm, de fato, algo em comum: os dois receberam transplantes de órgãos. E isso pode cair no vestibular.
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A associação entre as duas personalidades começou em 2016, quando Fausto dedicou uma retrospectiva de “Dança dos Famosos” à cantora. Depois disso, o relacionamento fictício entre os dois tomou conta das redes sociais. Além de render diversos memes, quem diria que o falso romance também poderia ajudar vestibulandos?
Brincadeiras à parte, a doação de órgãos sempre foi um assunto importante para ser discutido na sociedade e ganhou ainda mais evidência na mídia após o transplante de coração do apresentador de televisão em agosto. A atriz, por sua vez, recebeu um rim em 2017.
Fausto Silva apresenta o Domingão do Faustão em 2020 e Selena Gomez no Festival de Cannes em 2019
Reprodução/TV Globo e Stephane Mahe/Reuters
Como todo tema relevante, a doação de órgãos é um prato cheio para as bancas dos vestibulares elaborarem questões que misturem a teoria com uma pauta social. Por isso, o assunto pode cair tanto na prova de ciências da natureza, quanto em sociologia, abordando temas como ética e preconceito.
Ao g1, o professor de biologia e coordenador do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante, Luís Felipe Tuon, explicou de que forma o procedimento pode cair nos vestibulares e trouxe um panorama detalhado sobre o assunto, dividido em cinco tópicos:
Como pode cair na prova?
Entenda o SUS e a fila
Exemplos e corrida contra o tempo
Antes e depois do transplante
Como ser doador?
Transplante sendo realizado em hospital
Arquivo pessoal
Como pode cair na prova? ✏️
Na prova de biologia, questões relacionadas à doação de órgãos podem aparecer, principalmente, de duas formas: abordando uma possível rejeição ao transplante e a compatibilidade genética necessária para realizar o procedimento.
Rejeição ao órgão
⏩ Questões relacionadas à rejeição de um órgão transplantado não são raras nos vestibulares, segundo o professor Luís Felipe. Para respondê-las, o candidato precisa lembrar de como funciona o sistema imunológico.
“Há uma chance de que o corpo da pessoa que vai receber o transplante rejeite o órgão que está sendo doado, afinal, o órgão ou o tecido não pertence a ela”, explica.
O sistema imunológico, formado pelos glóbulos brancos ou leucócitos presentes principalmente no sangue, é quem vai definir isso. Ao perceberem a presença do órgão ou tecido doado, as células encostam as membranas para reconhecer receptores e decidir se o novo órgão será aceito ou não.
Caso não seja, os glóbulos brancos recrutam outras células que vão começar a atacar e, pouco a pouco, matar as células que compõem o órgão doado até que ele pare de funcionar. Muitas vezes, para evitar que isso aconteça, é necessário administrar um remédio imunossupressor, que enfraquece o sistema imunológico do receptor.
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Por outro lado, se o novo órgão for aceito, os glóbulos brancos vão dar as boas-vindas à “turma”, permitindo que ele se estabeleça e desenvolva na nova casa, se integrando com os órgãos “veteranos”. Basicamente, os glóbulos brancos são a linha de defesa do organismo.
“É como se fosse uma batida policial na rua. Se a polícia para alguém, ela vai pedir um documento, que é a forma dela reconhecer se aquele cidadão pode ou não seguir em frente”, explica o professor.
Compatibilidade
⏩ Justamente pelo risco alto de rejeição, antes de realizar a operação é feita uma análise genética para avaliar se o órgão é compatível ou não com o organismo receptor. Quanto maior a compatibilidade, menor a chance de rejeição.
Por isso, é bastante comum que os transplantes aconteçam entre membros da mesma família, como entre pais e filhos. “Logicamente, o grau de parentesco é muito grande e o índice de aceitação torna-se bem mais alto”, afirma o professor.
É verdade que nem sempre isso acontece e muitas vezes o paciente recebe o órgão de alguém desconhecido. Nesses casos, a pessoa é incluída em uma fila de transplantes (veja mais abaixo).
Mas, para responder questões relacionadas à compatibilidade, os candidatos devem lembrar de alguns conceitos de genética molecular.
“Os genes, os nossos cromossomos, são responsáveis pela formação dos receptores nas membranas que serão ou não reconhecidos pelos glóbulos brancos. Os receptores são proteínas que são feitas através da leitura genética, então é por isso que existe essa abordagem genética entre doador e receptor”, explica o professor.
Entenda o SUS e a fila 🏥
No Brasil, a fila de transplantes de órgãos é gerenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil possui o maior programa público de transporte de órgãos, tecidos e células do mundo.
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A demanda, no entanto, é alta, e o tempo de espera pode variar. No caso do Faustão, por exemplo, todo o processo aconteceu em menos de um mês e isso não significa, de maneira alguma, que o apresentador tenha “furado” a fila.
Quando se fala em fila, tendemos a imaginar uma ordem cronológica: quem chegou primeiro é atendido primeiro. No caso da doação de órgãos, não é bem assim: o lugar na fila está relacionado à prioridade de atendimento conforme a gravidade do quadro do paciente.
O Faustão entrou na fila ocupando a segunda posição para receber um coração transplantado. Quando um órgão compatível ficou disponível, o primeiro paciente compatível foi contatado, mas a equipe médica responsável por ele recusou o órgão e a oferta foi para o próximo da fila: o apresentador.
“Como é muito difícil que um organismo seja aceito em outro, quando a medicina encontra essas disposições genéticas você já exclui uma grande quantidade de pessoas. Então, não é necessariamente o primeiro da fila que vai receber, o primeiro da fila vai ter sua análise feita. Mas se o tecido não for compatível, não adianta nada fazer o transplante”, explica Luís Felipe.
Faustão em vídeo publicado em rede social para agradecer o transplante de coração
Reprodução/Instagram
Exemplos e corrida contra o tempo 🕗
O exemplo do Faustão reacendeu a discussão sobre o tema da doação de órgãos do Brasil. A verdade é que o assunto volta para a mídia de tempos em tempos, quando algum caso emblemático acontece e dá margem para que outras notícias importantes sobre a questão ganhem evidência.
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Isso pode ser quando alguém famoso precisa do transplante, como o Faustão. Ou quando familiares de vítimas de crimes de comoção pública, mesmo em sofrimento, optam pela doação para ajudar outras pessoas, como a família de Eloá Pimentel, vítima de feminicídio em outubro de 2008.
Ou, também, quando algo “fora da curva” acontece. Em setembro, o Corpo de Bombeiros resgatou um paciente de 48 anos que estava fazendo uma trilha na Região Serrana do Rio de Janeiro quando recebeu a notícia de que um rim compatível o aguardava em Juiz de Fora (MG).
Bombeiros vão até alto da montanha buscar paciente que encontrou doador de rim em MG
Este último caso ressalta outro ponto muito importante em relação aos transplantes, que é a rapidez necessária para realizar o procedimento. Quando ocorre uma morte cerebral e a família da vítima autoriza a doação, a equipe médica responsável dá início a uma corrida contra o tempo.
É que cada órgão tem um tempo limite para continuar funcionando entre a retirada do doador e o implante no receptor — os médicos se referem a isso como “isquemia fria”. O coração, órgão transplantado para Faustão, tem uma das mais curtas: varia de 4h a 6h.
Já o rim, órgão transplantado pelas atrizes Selena Gomez e Sarah Hyland, de Modern Family, e pelo montanhista resgatado em setembro na - acredite se quiser - Serra dos Órgãos, pode ficar até 48 horas fora do corpo.
Bombeiros com Ricardo Medeiros de Oliveira, transplantado na Santa Casa de Juiz de Fora
g1
Antes e depois do transplante 🩺
Existem várias doenças, inclusive crônicas, que podem comprometer a função de um órgão e, consequentemente, levar à morte. O professor de biologia deu alguns exemplos: enfisema ou tumor pulmonar, cirrose hepática e câncer de fígado.
Depois da cirurgia, o paciente precisa receber acompanhamento médico. Mesmo que o órgão tenha sido aceito pelo sistema imunológico, à medida que ele vai sendo incorporado e ligado a outros tecidos, podem surgir novos problemas, seja de reconhecimento celular ou relacionados à própria cirurgia.
Mas, aos poucos, as coisas se encaixam. “Depois de alguns meses e consultas médicas, se a pessoa demonstrar melhora, a vida dela começa a voltar à normalidade”, afirma o professor.
No fim das contas, a doação de órgãos é a esperança de uma vida melhor que nasce de um gesto solidário diante de uma perda. Isso pode cair no vestibular (principalmente na Unicamp, Unesp e Enem, segundo o professor de biologia), mas a importância do tema supera qualquer prova.
“É algo que a gente reforça e pedimos que os alunos discutam mesmo. Não é uma decisão fácil de tomar, tem um aspecto social muito forte. [...] Depois da morte, cada um tem sua crença, mas a parte física de fato deteriora aqui na Terra. Portanto, se um órgão está funcionando, por que não salvar a vida de outras pessoas?”, reflete Luís Felipe.
Entenda o processo para doação de órgãos
Ilustração/Farma Conde
Como ser doador? 🤝
No Brasil, a doação de órgãos e tecidos só é realizada após o diagnóstico de morte cerebral e autorização da família do paciente. Por mais que falar sobre a morte não seja agradável, o doador deve deixar sua intenção clara para a família.
Mesmo que a pessoa tenha dito em vida que quer ser doadora de órgãos, caso a família não autorize a doação, a retirada não será feita. Por isso, não é necessário registrar a intenção de ser doador em cartórios ou documentos.
Segundo o Ministério da Saúde, na maioria das vezes os familiares atendem ao desejo do doador. Por isso, é essencial conversar com parentes e amigos e, sempre que possível, conscientizar sobre a doação de órgãos.
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