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Entenda a trama que terminou com médicos executados e por que o crime estaria ligado à disputa entre tráfico e milícia

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

06/10/2023 por Redação

Morte dos ortopedistas teve traição, vingança, olheiro errado, um grupo de extermínio e uma reunião do tráfico. Médicos mortos no Rio: o que se sabe sobre o caso
A execução dos 3 médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na madrugada desta quinta-feira (5), pode ter sido mais um resultado trágico da disputa entre o tráfico de drogas e a milícia.
A trama envolve traição, vingança, um olheiro errado, um grupo de extermínio e, depois da repercussão do caso, uma ordem da cúpula do tráfico para matar os envolvidos.
Segundo as investigações, os ortopedistas Diego Ralf Bomfim, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida foram assassinados por engano depois que um informante avisou a traficantes ter visto um miliciano jurado de morte.
Mas não era um paramilitar, era um dos médicos, todos inocentes.
O g1 vai explicar a seguir:
Quem é quem no episódio;
A disputa entre o tráfico e a milícia;
A traição;
A vingança;
O olheiro errado;
A reunião do tráfico.
Marcos de Andrade Corsato, Daniel Sonnewend Proença, Diego Ralf Bomfim e Perseu Ribeiro Almeida
Reprodução
1. Quem é quem no episódio
Os médicos
Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos: sobreviveu, foi operado e está lúcido;
Diego Ralf Bomfim, 35 anos: morreu no Hospital Lourenço Jorge após ser socorrido;
Marcos de Andrade Corsato, 62 anos: morreu na hora;
Perseu Ribeiro Almeida, 33 anos: morreu na hora. A polícia acredita que ele foi confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa.
Os traficantes
Paulo Aragão Furtado, o Vin Diesel: foi assassinado no mês passado, segundo as investigações, por Taillon — o miliciano com quem Perseu foi confundido.
Philip Motta Pereira, o Lesk: ex-miliciano que se aliou ao Comando Vermelho, morto a mando dos chefes da facção. O corpo dele foi achado em um carro abandonado na Gardênia.
Ryan Nunes de Almeida: ele integrava o grupo de extermínio liderado por Lesk e também foi encontrado morto.
Os milicianos
Dalmir Pereira Barbosa, o Barriga: pai de Taillon, é apontado como um dos chefes da milícia que controla Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio. Foi denunciado 2 vezes pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Taillon de Alcântara Pereira Barbosa: filho de Dalmir, foi preso em dezembro de 2020 pelo MPRJ e, em julho do ano passado, condenado por organização criminosa. Desde o mês passado, está em liberdade condicional.
Filho de miliciano, conhecido como Taillon (à esquerda), seria o alvo e teria sido confundido com o médico Perseu (à direita)
Reprodução
2. A disputa entre o tráfico e a milícia
A busca pelo controle de comunidades do RJ entre traficantes e milicianos sempre houve, mas se acirrou no fim do ano passado.
Em abril, o g1 explicou por que as disputas ficaram mais frequentes e mais violentas.
Em resumo, o Comando Vermelho passou a atacar rivais, principalmente milicianos, para ampliar seus domínios. Os embates não foram apenas na Zona Oeste do Rio: até hoje, há confrontos na Zona Norte (como Chapadão e Penha) e na Baixada Fluminense (Nova Iguaçu e, mais recentemente, Duque de Caxias).
Um dos estopins para tantos conflitos foi a morte, em janeiro, do miliciano Rodrigo Dias, o Pokémon, chefe do bando que dominava Muzema e Rio das Pedras.
Desde então, os bairros que compõem a Grande Barra e a Grande Jacarepaguá vivem tiroteios rotineiramente, com tomadas e retomadas sucessivas de territórios — e a população fica na linha de tiro.
Nessa região, o Comando Vermelho mantém base na Cidade de Deus, e a milícia coordena as ações em Rio das Pedras, com os dois lados se atacando e tentando o domínio total das comunidades.
Veículo blindado na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro
Reprodução/ TV Globo
3. A traição
Lesk era miliciano, mas em dezembro do ano passado trocou de lado e se aliou ao Comando Vermelho.
Essa traição, segundo as investigações, permitiu ao tráfico tomar dos paramilitares a Gardênia Azul. Ao longo de 2023, houve uma série de assassinatos, em especial na área da Rua Araticum.
Lesk, então, passou a ser alvo dos milicianos da Grande Jacarepaguá.
Philip Motta Pereira, o Lesk (E), e Ryan Nunes de Almeida, o Ryan (D), encontrados mortos e suspeitos da execução de médicos
Reprodução/TV Globo
4. A vingança
Um dos aliados de Lesk no Comando Vermelho, Paulo Aragão Furtado, o Vin Diesel, foi morto em 16 de setembro por milicianos.
A morte de Vin Diesel teve, segundo policiais, a participação de Taillon, que tinha acabado de sair da prisão.
Nas últimas semanas, então, Taillon passou a ser caçado pelo Comando Vermelho — embora tenha tomado precauções e procurado se expor ao mínimo.
Caberia à “Equipe Sombra”, grupo de extermínio do qual Lesk faria parte, executar o rival.
Traficante Luís Paulo Aragão Furtado, o Vin Diesel, morto em 13 de março pelo miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa
Reprodução
5. O olheiro errado
Na madrugada de quinta-feira, a polícia interceptou uma ligação em que um homem avisava:
“Acho que é Posto 2, velho!”
Três médicos foram mortos em um quiosque na Barra da Tijuca, na madrugada desta quinta (5)
Reprodução / TV Globo
Segundo os investigadores, a voz é do traficante Juan Breno Malta, o BMW, braço direito de Lesk, para o comparsa.
BMW teria recebido a informação de que Taillon estava no Quiosque do Naná e, na chamada, estava tentando indicar a Lesk em que altura da Avenida Lúcio Costa fica o bar — que na verdade está entre os postos 3 e 4.
Minutos depois, Lesk, Ryan e outros 2 homens foram até o Quiosque do Naná para matar Taillon.
Mas, na verdade, eram Perseu e os outros 3 ortopedistas.
INFOGRÁFICO: Ação de bandidos que executaram médicos durou 25 segundos
Editoria de arte/g1
6. A reunião do tráfico
A TV Globo apurou que a cúpula do Comando Vermelho ficou bastante incomodada com a ação no quiosque na Barra da Tijuca e convocou uma reunião na localidade conhecida como Cabaret, no Complexo da Penha.
Lá, os chefes da facção criminosa ordenaram que os 4 da Equipe Sombra pagassem com a vida pelo erro cometido horas antes.
Lesk foi morto, e seu corpo, abandonado num carro na Gardênia Azul.
Ryan e os outros 2 — que ainda não haviam sido identificados até a última atualização desta reportagem — foram deixados em outro veículo perto do Riocentro.
Veículo foi encontrado na Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio
Leslie Leitão/TV Globo

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