Médico do DF adota nova metodologia e ajuda adultos a realizarem o sonho de andar; tratamento é oferecido pelo SUS

Nelson Lira pisou no chão pela primeira vez após 45 anos após tratamento no Hospital de Base de Brasília. Médico Davi Haje adaptou método Ponseti, criado, inicialmente, para tratar recém nascidos. Aos 45 anos, homem realiza sonho de caminhar com tratamento do SUS
A história de Nelson Lira, de 45 anos, é a prova de que nunca é tarde para realizar um sonho (veja vídeo acima). O morador de Petrolina, em Pernambuco, nasceu com os pés tortos e nunca tinha caminhado e sentido o chão com os pés.
No entanto, uma nova metodologia de um renomado tratamento, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), trouxe vida nova não só para Nelson, mas para muitos outros adultos. O responsável pela mudança é o ortopedista e traumatologista Davi Haje, médico do Hospital de Base de Brasília.
O pé torto congênito é uma deformidade que a gente observa no nascimento, em recém nascidos. É uma deformidade complexa. Alguns estudos mostram que cerca de 1% da população tem os pés tortos ao nascimento, explica o médico.
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A deformidade é tratada, em bebês, pelo método Ponseti, criado em 1963 pelo médico Ignácio Ponseti, da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. O tratamento envolve uso de gessos, uma cirurgia no tendão de Aquiles e o uso de uma órtese.
Nova metodologia
Nelson Lira nasceu com os pés tortos
TV Globo/Reprodução
O método Ponseti é exclusivo para recém-nascidos, mas o médico Davi Haje conseguiu adaptar a técnica para o tratamento de adultos. Ele já tratou 46 pés tortos congênitos, em 25 pacientes.
A primeira publicação de um paciente adulto, na literatura médica, foi feita por mim, em 2020. Foi o caso da Daiana Nascimento, de 26 anos. Ela foi um marco e disseminou essa possibilidade para outros pacientes, que começaram a procurar a gente, conta Haje
Desses 46 pés tortos congênitos tratados por Davi, 30% precisou também de uma cirurgia óssea. O tratamento de Nelson Lira foi um desses casos.
O tratamento
Nelson Lira nasceu com os pés tortos, e graças a um tratamento, realizado no Hospital de Base de Brasília pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
TV Globo/Reprodução
Nelson começou o tratamento no dia 3 de fevereiro deste ano, quando colocou o primeiro gesso.
É um sonho meu que hoje eu estou realizando. Se Deus quiser, eu vou conseguir. Vai dar tudo certo, eu vou corrigir meu pé e vou andar igual qualquer outra pessoa, disse Nelson à época.
Segundo Davi Haje, todos os pacientes conseguem suportar bem o tratamento. No entanto, tem que ter um pouco de paciência. Nesse momento do gesso, tem que suportar um pouquinho o desconforto. Fazer anestesia geral para fazer todos os gessos não vale a pena, explica o médico.
Após colocar 15 gessos em momentos distintos no é, em junho, Nelson precisou fazer a cirurgia no tendão de Aquiles. Ele também tirou uma pequena cunha óssea da lateral do pé para correção. Duas semanas depois da cirurgia, foi possível ver que Nelson teve uma boa correção da deformidade.
Emocionado, o paciente contou o que gostaria de fazer depois de todo o procedimento finalizado.
São coisas simples: pisar no chão com meu pé certo, pisar na areia, andar, calçar uma sandália, sentir a areia e a terra nos meus pés, disse Nelson.
No dia 11 de agosto, Nelson tirou o último gesso, pós cirurgia, e pisou no chão com os pés pela primeira vez. É um friozinho no pé que eu nunca tinha sentido. Pisar assim no chão, depois de 45 anos esperando por isso, afirmou o paciente.
Nelson Lira nasceu com os pés tortos, e graças a um tratamento, realizado no Hospital de Base de Brasília pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
TV Globo/Reprodução
O médico também se emocionou com a vitória de Nelson.
Parece que também o meu sonho está sendo realizado ali. Isso tudo é de uma emoção, de um agradecimento a Deus, e justifica a carreira médica, afirma Davi Haje.
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