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Rentrée política em França marcada por migrações e sucessão de Macron

O regresso à Assembleia Nacional em França faz-se na segunda-feira e na agenda política está a lei d...

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Com informações do Notícias ao Minuto

24/09/2023 por Redação

Divulgação/Notícias ao MinutoDivulgação/Notícias ao MinutoQuanto às prioridades dos franceses, o poder de compra continua à frente nas sondagens, seguido depois pela segurança, especialmente após os motins do verão, com a imigração a posicionar-se só na sexta posição, segundo uma sondagem divulgada pela BFMTV no final de agosto.

Longe dos holofotes estão as eleições europeias, que decorrem em junho de 2024, com dúvidas ainda sobre uma possível candidatura conjunta da esquerda, que se uniu nas legislativas, mas também os candidatos de direita e da maioria presidencial. Na extrema-direita alinham-se como cabeças de lista o jovem sucessor de Marine Le Pen, Jordan Bardella, e a própria sobrinha de Le Pen, Marion Marechal, mas pelo partido de Eric Zemmour (Reconquista).
Eis os principais temas que vão dominar a agenda política em França:
Lei da imigração
A lei da imigração, congelada após a reforma do sistema de pensões ter sido aprovada sem voto na Assembleia, volta neste outono à discussão. Esta legislação, já pré-aprovada pelos deputados, contém dois capítulos principais: um que visa punir mais severamente a imigração ilegal e outro que quer apostar na integração, passando a exigir, por exemplo, um nível mínimo de francês para viver no país. 
"A rentrée política vai ser animada pela lei da imigração. Mas vai ser uma lei frustrante porque podemos fazer tudo o que quisermos, uma legislação mais restritiva, mas não vamos parar este fluxo sozinhos, porque é uma questão europeia. Para além disso, independentemente das medidas, haverá sempre pessoas que vão tentar fugir de África devido aos conflitos, miséria e, claro, o sonho de vir para a Europa", afirmou Jean-Yves Camus, co-diretor do Observatório dos Radicalismos Políticos, em declarações à aAgência Lusa.
A maioria presidencial procura agora apoios para esta lei. À direita, os Republicanos pedem que se suprima uma das propostas do Governo que visa legalizar trabalhadores em profissões onde há grandes necessidades, como a restauração ou a hotelaria, até, pelo menos 2026. Caso este ponto permaneça, a direita ameaça com uma moção de censura que, no limite, pode derrubar o Governo. Perante a possibilidade que esta alínea desapareça do texto, vários deputados da maioria e até membros do executivo defenderam a sua manutenção publicamente num artigo de opinião no jornal "Libération".
Este é um tema que mobiliza a extrema-direita, com Marine Le Pen a defender um referendo sobre as bases da imigração em França.
Menos mobilização nas ruas
Após meses de mobilização nas ruas, os franceses parecem hoje mais preocupados com o custo de vida crescente e a lenta atualização dos salários. Este é um sentimento contraditório, já que o descontentamento é "crescente", mas menos franceses estão interessados em reivindicar os seus direitos.
"Os protestos contra a reforma do sistema de pensões deixaram marcas profundas na população, porque ninguém digeriu ainda o facto de ter de trabalhar mais dois anos, e a relação entre os sindicatos e o poder político degradou-se. Ao mesmo tempo, a economia francesa entra num período complicado e isso faz com que as pessoas estejam descontentes, ou seja, mais frustração contra o Governo, mas as pessoas acabam por estar mais preocupadas com as dificuldades do seu quotidiano", indicou Jean-Marie Pernot, investigador do Instituto de Pesquisas Económicas e Sociais (IRES).
Para Jean-Yves Camus, esta "frustração" precisa agora de encontrar um veículo político de forma a ter expressão eleitoral e voltar a ganhar uma nova força. Caso contrário, considera, os cidadãos frustrados acabarão por se desinteressar da política, e, "portanto a mudança não virá através do voto".
No último mês, Emmanuel Macron e a primeira-ministra, Elisabeth Borne, têm-se encontrado com líderes partidários e sindicais, mostrando que as manifestações terão causado mudanças "na forma" de governar, mas não na ideologia.
"Acho que o Governo está mais atento à forma como comunica, mas não muda as medidas que quer implementar por causa da opinião pública ou da reação dos franceses. Os ministros são autoritários e não têm qualquer consideração pelos sindicatos, acham que não servem para nada e que o teste democrático se faz só nas eleições", explicou Jean-Marie Pernot.
Maioria presidencial prepara 2027
Mesmo com eleições europeias já para o ano, os franceses estão mais interessados nas eleições presidenciais de 2027, já que Macron não poderá voltar a candidatar-se e a maioria terá de encontrar um herdeiro que possa fazer frente à extrema-direita. O candidato mais bem posicionado é o ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, a figura política mais apreciada pelos franceses segundo uma sondagem mensal levada a cabo jornal "Les Echos".
Édouard Philippe, atual presidente da Câmara de Havre, ressurgiu este mês com o livro "Os lugares que falam", tendo feito uma ronda de entrevistas com os principais meios de comunicação gauleses. Segundo uma sondagem do gabinete Elabe para a BFMTV, Philippe será mesmo o único a conseguir ganhar num embate contra Marine Le Pen, com votos de 58% dos inquiridos. No entanto, Jean-Yves Camus considera que os franceses não esquecem a sua proximidade com Macron entre 2017 e 2020.
"Édouard Philippe está a preparar-se, parece-me claro, e vamos ter um combate entre Gerald Darmanin e Édouard Philippe na maioria presidencial, e eles não são exatamente da mesma linha política. Mas quem é que pode acreditar que Philippe, tendo sido primeiro-ministro de Emmanuel Macron, encarna opções fundamentalmente diferentes da linha que temos atualmente?", questionou.
Ao mesmo tempo, coube a Gerald Darmanin, ministro do Interior, organizar um comício de retoma da vida política governamental no final de agosto, contando mesmo com a primeira-ministra no seu reduto em Tourcoing, no norte de França.
"O problema é que neste debate da imigração, será Gerald Darmanin que vai jogar o papel mais duro e firme, ou seja, aquele que tenta piscar o olho aos eleitores da extrema-direita. Tenho muitas dúvidas que isto seja útil para a sua trajetória presidencial. E, em Roma ou até em Paris, podemos ser firmes em relação à imigração, mas concretamente, como é que isso se faz? A incerteza vai continuar", disse o investigador.
Quanto à esquerda, Jean-Marie Pernot diz que falta "dinâmica eleitoral" e Jean-Yves Camus classifica mesmo este período como de "paralisia política". Na direita tradicional, Camus aposta mesmo numa extinção do partido Republicanos até 2027.
Leia Também: "Imigração" e "moção de censura" marcam 'rentrée' política em França

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