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Após quatro anos no Japão, ‘Mulher-Maravilha’ das corridas volta à Integração e presta homenagem à mascote falecida

globoesporte.com - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

23/09/2023 por Redação

Eliete Malta não está em busca do pódio e corre por diversão na prova onde estreou como atleta Após quatro anos do outro lado do mundo, a Mulher-Maravilha voltou voando, só que de avião, para terras campineiras. Se nos quadrinhos a ilha de Themyscira é o lar da personagem, no mundo das corridas, Campinas (SP) é onde a corredora Eliete Malta nasceu e começou sua carreira na Integração de 2002.
Duas décadas depois, a professora de educação física está de volta às origens para participar da 38ª edição. Dona de uma disposição invejável, desta vez ela corre sem buscar o pódio, já que por conta de problemas de saúde ela não estava fazendo um treino específico para a competição.
Considerada a Mulher-Maravilha das corridas, Eliete Malta corre com os trajes da personagem da DC Comics
Reprodução/Redes sociais
Ainda sim, ela não poderia passar pelo Brasil sem passar pela Integração. Para a Mulher-Maravilha, correr 10 km é “fichinha”, diversão -- nos treinos diários, ela faz o dobro da distância facilmente -- e também uma forma de honrar a mascote Isabela, sua cachorra-Maravilha que a acompanhava nos pódios e faleceu em 2016.
- Só vou fazer um treino na corrida mesmo, eu nunca corri assim. Eu sempre falava, quando a Isabela estava viva que iria correr com ela no colo - lembra emocionada.
- Mas ela está aqui, sempre do nosso lado. A minha estrelinha.
A coleção de pódios, aliás, pode até não aumentar por enquanto, mas ela já é enorme. São quase 400 troféus em provas de diversas distâncias, tanto no Brasil quanto no Japão. Eliete foi a ganhadora da 1ª edição da prova de 5 km da Integração. A novidade, portanto, é não levar um prêmio pra casa.
— Eu estou emocionada, porque eu não sei como vai ser. Ou melhor, sei: choro total. Eu vou sair no fundo chorando, emocionada — , diz a atleta.
Eliete Malta, a Mulher-Maravilha das corridas, com a mascote, a cachorra Isabela, no colo no pódio após competição
Reprodução/Redes sociais
A largada
Além de campineira, Eliete nasceu esportista. Ela simplesmente não consegue ficar parada e desde sempre se destacou nas aulas de educação física e nas modalidades que praticou, que vão da ginástica localizada ao kung-fu. Mas a maior paixão ela descobriu aos 16 anos, na pista de atletismo da Unicamp, fazendo natação.
Não, a frase não está errada. Os professores do projeto de natação pediam que os alunos corressem na pista como aquecimento antes de entrarem na piscina da Faculdade de Educação Física. Para Eliete, logo a pista ficou pequena.
— Eu ia no bosquinho, passava pelas quadras de tênis, ia até lá frente e voltava. O povo todo ficava na pista, mas eu não, eu saía fora do padrão —, lembra a Mulher-Maravilha.
Com 16 anos, morou um tempo com a avó. E casa de vó, já viu: logo ganhou uns quilinhos a mais. Resolveu, então, pegar firme na corrida. Perdeu o pouco peso extra, mas não perdeu a paixão, e quando viu, foi convidada a integrar um clube recreativo de Sumaré.
— O bichinho da corrida que pica a gente. Se o bichinho da corrida te picou, eu te garanto: você não larga mais — , diz.
Prêmios conquistados na Corrida Integração por Eliete Malta, a Mulher Maravilha; atleta tem cerca de 400 pódios
Arquivo pessoal/Eliete Malta
Descoberta dos ‘superpoderes’
Nascida Eliete Malta, seus poderes de corredora acima da média vieram à tona em 2006. Não que antes já não tivessem rumores de sua “identidade secreta”: muitos colegas a comparavam com a Mulher-Maravilha de Lynda Carter por causa dos cabelos pretos e da faixa na cabeça que sempre usou para correr.
Mas na São Silvestre daquele ano, o apelido de super heroína se consolidou. Na época, as provas feminina e masculina aconteciam, respectivamente, às 15h e às 17h. Sem surpresa nenhuma, Eliete percorreu os 15 km e, de medalha no pescoço, voltou para encontrar um amigo que estava prestes a começar o trajeto.
Foi quando viu que ele estava um pouco indisposto e resolveu acompanhá-lo para ajudá-lo caso fosse necessário.
Com a medalha escondida no top, quem via Eliete correndo junto ao amigo imaginou que ela estava atrasada, terminando o trajeto da prova feminina. Começaram as provocações. — As pessoas diziam: ‘ei, o que você está fazendo aí? A sua prova foi às 15h’, ‘Ei, sai pangaré! Você está correndo ainda?’ — , lembra.
Ela não se abalou, mas o amigo, depois de um tempo, sim. Puxou a medalha do pescoço dela e partiu em defesa de Eliete.
— Ele falou assim: ‘olha aqui, ela já competiu a corrida feminina. Ela está fazendo pela segunda vez. Conclusão: ela vai correr 30 km hoje.
A zombaria deu lugar ao espanto e em segundos ela passou de pangaré à Mulher-Maravilha entre os colegas de São Silvestre.
Eliete Malta a Mulher Maravilha das corridas, com o marido, Carlos Ikeda, transformado em Super Homem pela esposa
Reprodução/Redes sociais
Amor que veio correndo
Todo super herói tem seu traje. É assim que Clark Kent vira o Super Homem, o Bruce Wayne vira o Batman e Princesa Diana vira a Mulher-Maravilha. Portanto, Eliete também precisava se vestir à caráter para assumir seu posto. Uma pessoa muito especial a ajudou a fazer isso: Carlos Ikeda.
Ele também é corredor e trabalhava como fotógrafo esportivo. Colegas de corrida, Carlos e Eliete viraram amigos, e, depois de um tempo, namorados. Hoje, estão casados há 13 anos, e a lua de mel foi uma maratona na Disney.
Foi o marido que sugeriu que Eliete fizesse juz ao apelido de Mulher-Maravilha e subisse no pódio a caráter. Era véspera de uma prova, e ele não contribuiu apenas com a ideia. — Ele passou a noite inteira confeccionando a minha roupa — , revela a atleta.
Depois disso, não teve mais como subir no pódio sem a fantasia. Quando se casaram, ela deu o “troco” e transformou Carlos em Super Homem, e desde então ele também não abandonou mais o traje.
Eliete Malta, a Mulher Maravilha das corridas, após vencer a meia maratona de 2023 no Japão
Arquivo pessoal/Eliete Malta
Pódio do outro lado do mundo
Em 2019, o casal se mudou para o Japão, país de origem da família de Carlos. Naquele ano, Eliete participou de uma única corrida, na qual ficou em 2º lugar. Ela ainda estava se recuperando de um quadro de arritmia que, inclusive, precisou de intervenção cirúrgica, e precisou frear um pouquinho.
A medalha dourada foi para uma adolescente de 13 anos -- lá, é permitido que as crianças participem de provas desde cedo. O que Eliete e mais ninguém imaginava é que esse seria o seu último pódio por um bom tempo: prestes a recomeçar a correr na sua velocidade máxima, veio a pandemia de Covid-19.
As competições, segundo a atleta, voltaram apenas ano passado. E, neste ano, ela voltou ao pódio como campeã de meia maratona. — Trazer um pódio do outro lado do mundo foi maravilhoso para mim — , diz Eliete.
Eliete Malta, a Mulher Maravilha das corridas, presta homenagem à mascote falecida; a cachorra Isabela
Reprodução/Redes sociais
Essa não foi sua única conquista no Japão: um dos seus sonhos era conhecer a estátua do cachorro Hachiko, mais conhecido como Hachi, conhecido no mundo todo pelo filme “Sempre ao seu lado”, estrelado por Richard Gere.
O cão da raça Akita é famoso por sua lealdade já que, mesmo após a morte de seu dono, esperou por ele na estação de trem onde foi encontrado durante todos os dias da sua vida. E ele ganhou uma visita especial.
O plano de se mudar para o Japão, é claro, incluía a Isabela, o mascote e o xodó da família Malta-Ikeda. Em Campinas, tem um túmulo que “é a coisa mais linda”, segundo Eliete, no Cemitério dos Animais Parque São Francisco de Assis, que por um tempo foi onde a cachorra descansou.
Mas ela já não está mais lá. Antes da mudança de país, o casal decidiu cremá-la e suas cinzas foram junto com a família para conhecer a estátua do cão que foi tão amado quanto ela.
— Era pra ela ir em vida, mas a gente levou ela mesmo assim. A alma dela está sentada do outro lado, e as cinzas dela estão sempre com a gente.

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