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Como o tráfico de drogas do Equador cresceu por influência dos cartéis mexicanos

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

12/08/2023 por Redação

Aumento da violência no país tem relação com crescimento de grupos vinculados a grandes cartéis de drogas, especialmente vindos do México. Narcotráfico e influência internacional fazem com que a política local sofra e tenha dificuldades em conter o avanço do crime organizado. O assassinato de Fernando Villavicencio no meio de uma rua em plena luz do dia é o auge das demonstrações de violência que crescem no Equador nos últimos anos.
O país, que era considerado pacífico e um oásis em meio à violência de Colômbia e Peru, tem sido cada vez mais afetado pelo crescimento de grupos vinculados a grandes cartéis de drogas, especialmente vindos do México, principalmente o Cartel de Sinaloa e o Cartel de Jalisco Nueva Generación.
O Cartel de Sinaloa é considerado pela ONU como uma das maiores organizações criminosas do mundo. O grupo nasceu na cidade de Culiacán, que era o polo do contrabando mexicano no início dos anos 90 e domina boa parte das operações no país.
Sua atividade no Equador e na Colômbia deu origem à gangue Los Choneros, um dos maiores e mais violentos grupos da região.
Já o Cartel de Jalisco Nueva Generación foi criado por ex-membro de Sinaloa que reuniu homens mais violentos na intenção de dominar outras regiões. Foi desse grupo que surgiu a gangue Los Lobos, que teve um vídeo veiculado digitalmente assumindo a autoria do ataque contra Villavicencio.
Ambos os cartéis estão envolvidos com o tráfico internacional de drogas, especialmente da cocaína, e encontraram no Equador um terreno fértil para fazer negócios.
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Crise financeira facilitou o recrutamento de jovens
O Equador vive uma crise econômica gerada pela queda nas vendas do petróleo (principal produto de exportação). Com início em 2017, a crise obrigou o à época presidente Lenín Moreno a criar políticas públicas que tentassem resolver o problema.
Moreno fez o paquetazo’, em que eliminou subsídios a combustíveis. Isso gerou uma crise e protestos sociais que foram agravados pela pandemia.
O aumento do desemprego e a piora nas condições de vida também facilitaram o recrutamento de jovens pelo crime organizado, disse ao g1 o doutor em Relações Internacionais pela USP Italo Beltrão Sposito.
Desde então, tanto o governo Moreno como o atual governo de Guillermo Lasso aumentaram a rigidez no combate ao crime. Essa medida casou um aumento carcerário significativo e fez dos presídios berços de algumas facções.
Em uma reportagem recente, o jornal norte-americano The New York Times disse que em alguns locais presos coagiam outros presos a pagar por suas camas, serviços e até mesmo pela sua própria segurança.
Agora localizadas nas cidades e dentro dos presídios, as células desses cartéis foram crescendo a nível municipal até dominarem algumas regiões, especialmente aquelas que têm acesso livre ao mar, mostra um relatório sobre a cocaína divulgado pelo Escritório de Drogas e Crimes da ONU (UNODC).
Homem ferido após ataque contra candidato à presidência do Equador, Fernando Villavicencio, é atendido no chão em Quito
Juan Diego Montenegro/AP
Localização privilegiada
A localização geográfica do Equador também é um ponto importante do processo:
Vizinho do Peru e da Colômbia (dois dos maiores produtores da folha de coca do mundo);
Grande acesso ao mar (mais de 2 mil km de costa ligada ao Oceano Pacífico);
Proximidade com os países norte-americanos (grandes compradores desses produtos);
Acesso fácil ao Canal do Panamá (utilizado para enviar drogas para a Europa).
Mapa mostra rotas de comércio de drogas saídas do Equador
arte/ g1
A folha de coca é um dos principais ingredientes para a cocaína. Elas possuem uma concentração altíssima de cocaína e uma alta eficiência na conversão para um produto facilmente exportável, o cloridrato de cocaína que é utilizado na fórmula do crack, por exemplo.
O produto, já processado e embalado, é escoado ilegalmente pelos portos equatorianos em contêineres com frutas, principalmente bananas, revela o relatório da UNODC.
Devido à presença desses grupos nas cidades portuárias e litorâneas a criminalidade e a violência se multiplicam.
Participação do mercado europeu
O mesmo documento da UNODC diz também que o Equador conta hoje com agentes do tráfico de diversos países, desde o próprio México e a Colômbia, até enviados da Itália e da Rússia, por exemplo.
O Equador serve de corredor por dispor de portos e estradas com pouca vigilância, já que o Estado está encontrando dificuldades para controlar o aumento da violência, principalmente em níveis locais, protegendo as municipalidades, que estão sendo dominadas pelos grupos do narcotráfico, explica Italo.
Em março deste ano, em uma tentativa desesperada de conter a violência em três regiões importantes do país, o presidente Guillermo Lasso declarou estado de emergência e permitiu que civis tivessem acesso e porte de armas.
Fernando Villavicencio durante comício na quarta-feira (9), poucas horas antes de ser assassinado, em Quito, no Equador.
Karen Toro/Reuters
Aumento da violência
De acordo com o Humans Right Watch, nos últimos cinco anos a taxa de homicídios no país quase triplicou. Em 2017, o número era de 5,81 para cada 100 mil habitantes. Atualmente esse índice chega a 16 por cada 100 mil.
No fim do último ano, a violência eclodiu também dentro dos presídios. Em um dos episódios mais sangrentos, 43 pessoas morreram no centro de detenção de Bellavista, na cidade de Santo Domingo.
Até agora, em 2023, foram registradas cerca de 3,6 mil mortes violentas, enquanto 2022 fechou com o maior número da história do Equador, com 4,6 mil.
Presidenciável assassinado
Nesta quarta-feira, o candidato à presidência Fernando Villavicencio foi assassinado enquanto saia de um comício político na capital do país, Quito.
Apesar de as eleições estarem previstas para 2025, o atual presidente do Equador, Guillermo Lasso, recorreu, em maio, a um mecanismo previsto na constituição equatoriana chamado de Morte Cruzada.
O mecanismo prevê que o presidente possa dissolver a Assembleia Nacional se ele considerar que ela está prejudicando sua capacidade de governar.
Em consequência, ele é obrigado a estipular novas eleições presidenciais e para os cargos na Assembleia Nacional.
O assassinato de Villavicencio aconteceu dez dias antes das eleições, mantidas para o dia 20 de agosto.
Durante o governo de Guillermo Lasso, o país esteve em estado de emergência 17 vezes. Todas elas para combater episódios de violência.

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