Geral

FEBRE MACULOSA: Contaminação rápida, maior gravidade em crianças e eficácia dos repelentes; tire dúvidas sobre transmissã

G1 - com informações do G1

Rastro101
Com informações do G1

16/06/2023 por Redação

Especialistas esclarecem as dúvidas que mais têm assustado as pessoas. O carrapato-estrela é um dos principais transmissores da febre maculosa
Getty Images via BBC
A morte de quatro pessoas picadas por carrapatos infectados com a bactéria da febre maculosa durante uma festa na Fazenda Santa Margarida, em Joaquim Egídio, despertou preocupações e levantou uma série de questionamentos.
Nesse momento delicado, a equipe do Terra da Gente reuniu as principais dúvidas dos nossos seguidores na internet e telespectadores do programa, buscando respostas com especialistas no assunto.
Afinal, quanto tempo uma pessoa leva pra ser contaminada após a picada do carrapato? Crianças que pegam a doença correm mais risco? Repelentes são realmente eficazes nesses casos?
Os biólogos Heloísa Malavasi, da Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ), em Campinas e Almir Pepato, professor de zoologia da UFMG esclareceram algumas dessas dúvidas. Acompanhe agora as respostas para lidar com esse cenário preocupante.
Confira alerta sobre febre maculosa
Simben/INaturalist
Carrapatos que se alimentam do sangue de hospedeiros com a bactéria da febre maculosa se contaminam imediatamente após o contato?
“Não. A transmissão da doença ocorre após um período de infecção e replicação da bactéria dentro do carrapato, seguido pela injeção da saliva infectada no hospedeiro durante a alimentação. Quando um carrapato se alimenta do sangue de um hospedeiro infectado, ele ingere a bactéria Rickettsia rickettsii presente no sangue desse hospedeiro. A bactéria então se multiplica no interior do carrapato, infectando suas células. Após um período de tempo, geralmente algumas horas ou até mesmo dias, a bactéria se torna presente nas glândulas salivares do carrapato. Quando o carrapato se alimenta novamente, injeta saliva no hospedeiro para facilitar a alimentação. É nesse momento que a bactéria da febre maculosa pode ser transmitida através da saliva do carrapato”, afirma a especialista.
Carrapato-estrela pode carregar a bactéria que causa a febre-maculosa
Vinícius Rodrigues de Souza
Apenas as capivaras são hospedeiras de carrapatos infectados pela bactéria da febre maculosa?
“Não, além das capivaras, outros animais como roedores, cervos e cães também podem servir como hospedeiros de carrapatos infectados, contribuindo para a disseminação da doença”, reforça Malavazi.
Usar repelentes podem ajudar
Reprodução

Repelentes contra carrapatos que transmitem febre maculosa funcionam?
Sim, o repelente pode diminuir as chances de você pegar carrapato e, consequentemente, contrair a febre-amarela. Porém, não são todos os repelentes que funcionam contra esses parasitas.
De acordo com Almir Pepato, professor de zoologia da UFMG, os mais indicados e que possuem maior eficácia são os que tem o princípio ativo icaridina na formula, apesar dos chamados repelentes DEET também funcionaram contra carrapatos. “Vale lembrar que eles precisam ser repassados constantemente. É importante notar que não são todos os repelentes encontrados nas prateleiras dos supermercados que afastam carrapatos e que mesmo aqueles que funcionam para esses animais devem ser reaplicados com frequência.”
Já Malavazi afirma que: Existem alguns produtos com substâncias ativas, como DEET (N,N-Dietil-meta-toluamida), icaridina (também conhecida como picaridina) e permetrina, que são comumente utilizados para proteção contra carrapatos. Eles podem ajudar a manter os carrapatos afastados. Porém, é importante seguir as instruções de uso do produto”, disse ela ao reforçar: “Vale destacar que nenhum repelente é 100% eficaz contra todas as picadas de carrapatos. Portanto, é essencial atrelar o uso de repelentes com outras medidas de prevenção, como vestir roupas protetoras de cores claras, cobrir a pele exposta, evitar áreas infectadas de carrapatos e realizar verificações regulares do corpo após atividades ao ar livre”.
Carrapato-estrela é o hospedeiro da bactéria que causa a febre maculosa
Ministério da Saúde/Reprodução
A bactéria que causa febre maculosa pode ser encontrada em diferentes regiões do Brasil?
“Sim, as regiões mais afetadas são aquelas com clima tropical e subtropical, como o Sudeste (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo), o Sul (Paraná e Santa Catarina) e algumas áreas do Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul e Goiás), onde há maior presença de carrapatos vetores e da bactéria”, destaca.
A especialista ainda destaca que a febre maculosa brasileira, causada pela Rickettsia rickettsii é a doença transmitida por carrapatos de maior importância no país, sendo endêmica na Região Sudeste, onde as taxas de letalidade passam de 50%. Os vetores incriminados na transmissão da enfermidade são o Amblyomma aureolatum na Regiâo Metropolitana de São Paulo e o Amblyomma sculptum no restante da Região Sudeste. A Rickettsia parkeri cepa Mata Atlântica, por sua vez, é transmitida principalmente pelo carrapato Amblyomma ovale e causa uma enfermidade com manifestações clínicas mais brandas, sem nenhum relato de óbito até o momento, com casos relatados no litoral de São Paulo, em Santa Catarina e na Bahia, completa.
Quais regiões têm menos casos de febre maculosa e por quê?
“As áreas onde ocorre menos quantidade de carrapatos infectados com a bactéria da febre maculosa são geralmente aquelas com clima mais árido e seco. Regiões como o Nordeste brasileiro tendem a apresentar uma menor prevalência de carrapatos transmissores da doença, devido às condições climáticas menos favoráveis para a sobrevivência e reprodução desses parasitas. O clima árido e as temperaturas mais elevadas dificultam a manutenção da população de carrapatos, limitando sua disseminação e, consequentemente, a transmissão da febre maculosa. No entanto, embora sejam menos comuns, ainda é possível encontrar casos esporádicos da doença em algumas áreas do Nordeste, especialmente em locais com maior umidade, como beiras de rios e regiões com vegetação mais densa”, detalha a especialista.
Pedestres enfrentam dia de frio e garoa na região da Avenida Paulista, em São Paulo, nesta manhã de sexta-feira, 16 de junho de 2023. Termômetros registram 13°C na região. A temperatura na capital paulista deve variar de 11 a 18ºC hoje.
RONALDO SILVA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Casos de febre maculosa são mais comuns no inverno?
“Os carrapatos transmissores de febre maculosa, como o carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), têm preferência por ambientes úmidos e temperaturas mais amenas. Eles têm maior atividade e reprodução em ambientes com alta umidade e temperaturas entre 20°C e 30°C”, conta a especialista.
Ela ainda destaca que o Amblyomma sculptum se expandiu para áreas degradadas da Mata Atlântica e sobrevive bem também em capoeiras, matas ciliares e pastos sujos, desde que tenha hospedeiros adequados para os adultos (cavalo, anta, capivara, suideos, tamanduá-bandeira).
Sua distribuição é desigual no território nacional, com as populações diminuindo do sul do estado de São Paulo em direção à Região Sul até não mais ser encontrado (ausente no Rio Grande do Sul). O ciclo de vida dessa espécie é caracterizado por uma geração anual de carrapatos regulada por uma diapausa comportamental com larvas predominando no outono, ninfas no inverno-primavera e adultos no verão. Larvas e principalmente ninfas são os estágios mais agressivos ao ser humano, razão pela qual se intensificam a partir do outono e persistem em frequência elevada até a primavera, conta.
Doença é mais grave em crianças e idosos
Getty Images via BBC
A febre maculosa é mais perigosa em crianças e idosos?
“Sim, a febre maculosa pode apresentar uma maior gravidade em crianças e idosos, sendo mais comum ocorrer complicações sérias nessas faixas etárias. Isso ocorre devido à fragilidade do sistema imunológico desses grupos, que torna mais difícil combater a infecção causada pela bactéria da febre maculosa (Rickettsia rickettsii). Crianças e idosos têm maior chance a desenvolver complicações graves, como insuficiência renal, problemas respiratórios, alterações neurológicas e até mesmo óbito, caso a doença não seja diagnosticada e tratada rapidamente”, diz Malavazi.
Trilhas ou áreas urbanas, onde aparecem mais casos?
Agência Brasil/Reprodução
Carrapatos infectados estão mais em áreas urbanas ou matas fechadas?
“Os carrapatos infectados podem ser encontrados tanto em áreas urbanas quanto em matas fechadas, mas a sua presença e distribuição podem variar dependendo do ambiente. Em áreas urbanas, os carrapatos tendem a ser mais comuns em parques, jardins e áreas verdes onde há presença de animais selvagens, como capivaras e roedores, que podem servir como hospedeiros dos carrapatos. Esses espaços podem proporcionar condições favoráveis para a sobrevivência e reprodução dos carrapatos. Por outro lado, em matas fechadas e áreas rurais, onde a vegetação é mais densa e o contato com animais silvestres é mais frequente, a presença de carrapatos infectados também pode ser comum. Nessas regiões, a interação entre carrapatos, animais selvagens e o ciclo da doença pode ser mais intensa”, comenta.
A doença infecciosa é transmitida através do carrapato-estrela infectado e para a qual não há vacina
G1
Quanto tempo após a picada levo para me contaminar?
“Caso um carrapato esteja infectado com a bactéria da febre maculosa, a transmissão da doença ocorre geralmente após algumas horas de fixação, uma vez que a bactéria precisa ser liberada na corrente sanguínea para causar infecção. Portanto, remover o carrapato o mais rápido possível reduz o risco de transmissão de doenças”, finaliza.

Link curto:

TÓPICOS:
G1

COMPARTILHAR

PUBLICIDADE

MAIS NOTÍCIAS DO RASTRO101
menu