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Amigo do tempo, idoso restaura relógios seculares no interior de SP: ‘Vontade de preservar a história’

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

01/05/2023 por Redação

De maneira voluntária, Jaime Prado, de 70 anos, já revitalizou três relógios de torre instalados em prédios antigos, dois deles considerados patrimônios tombados, em Bauru (SP). Amigo do tempo, idoso restaura relógios seculares em Bauru (SP)
Arquivo pessoal
O relógio é um dos artefatos mais longevos em uso pela humanidade: a origem da versão mecânica do aparelho data dos anos 700. Centenas de anos depois, ainda há quem dedique tempo a preservar a história do utensílio. Uma dessas pessoas é um idoso de 70 anos que vive em Bauru, no interior de São Paulo.
Ao g1, Jaime Prado, que trabalha como repórter cinematográfico há mais de 40 anos, contou que, assim como na videografia, encontrou na atividade de relojoeiro uma maneira de manter viva a história. Na cidade, ele já restaurou três relógios de torre instalados em prédios antigos, dois deles patrimônios tombados, de maneira voluntária.
Natural de Junqueirópolis (SP), Jaime se mudou com a família para Bauru em 1974. De início, trabalhou como frentista em um posto de combustíveis. Mais tarde, foi aceito para trabalhar na antiga Colônia Aimorés, hoje Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL), referência mundial em pesquisa e tratamento de hanseníase.
Relógio que ficou parado por mais de 40 anos em Bauru (SP) foi restaurado por Jaime em 2007
Arquivo pessoal
Foi na instituição que Jaime descobriu o interesse pelos relógios. Em 1977, ele reparou que o dispositivo da Igreja Nossa Senhora das Dores, dentro da Colônia, estava parado. Intrigado, resolveu investigar.
“Na época, tentei consertar e o diretor me disse: ‘Não, isso é coisa velha, não funciona mais’. Aquilo estava parado há 36 anos. Em 2007, decidi retornar à torre da igreja e finalmente reparei o relógio”, relembra.
Com ajuda de um interno, Jaime desmontou a máquina, limpou as peças e engrenagens, repletas de ferrugem, e restaurou o “trambolhão”, como ele conta.
Nunca fui relojoeiro. Conheço relógios pelos que uso no pulso. Mas a curiosidade de fazer aquela máquina do tempo voltar a funcionar foi um dom de Deus”, diz Jaime.
Antes (esq.) e depois (dir.) de relógio da antiga Colônia Aimorés restaurado por Jaime, em Bauru (SP)
Arquivo pessoal
O relógio da Colônia restaurado por Jaime é um Michelini. Segundo ele, apenas 1.200 peças do artefato foram fabricadas no Brasil entre 1908 e 1969, período em que a fábrica esteve em atividade no país.
Três delas foram instaladas em Bauru ainda no século passado. Além do ILSL, há máquinas da marca na Casa Lusitana, construção tombada em 2011 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural da cidade (Codepac), e na Paróquia Santa Terezinha, onde Jaime também já fez reparos.
Matéria sobre o trabalho de restauração feito por Jaime na Paróquia Santa Terezinha, em Bauru (SP)
Arquivo pessoal
O idoso restaurou ainda o relógio e a campainha da antiga Estação Central Noroeste do Brasil, inaugurada no final da década de 40 e considerada uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da região à época. O prédio é considerado patrimônio pelo Codepac desde 1999.
Meus trabalhos em Bauru foram todos voluntários. É a vontade de preservar a história e mantê-la viva na memória das pessoas”, diz.
Até relógio estrangeiro
Relógio francês Japy Freres de 1855 restaurado por Jaime em Bauru (SP)
Reprodução/Arquivo pessoal
Mas as atividades de Jaime não se restringem ao centro-oeste paulista. Hoje, o idoso está baseado no pequeno município de Alvorada do Sul (PR), onde trabalha na restauração de uma máquina de 1935.
“Hoje em dia, esta profissão está quase em extinção. Eu me sinto honrado em preservar e manter a história dos relógios antigos, porque a história não tem dono, ela tem seguidores”, diz.
Entre os relógios que Jaime recebe para consertar, que datam desde o século XIX à década de 40, há alguns vindos até de fora do país. Até hoje, o que mais chamou a atenção dele foi um Japy Freres, relógio de mesa francês com mármore carrara fabricado em 1855.
Ele chegou na minha mão sem o pêndulo e a chave e com as engrenagens travadas. Uma joia rara. Simplesmente maravilhoso, comenta.
Na Paróquia São Sebastião, em Avaí (SP), Jaime também consertou e revitalizou um relógio da famosa fábrica holandesa Eijsbouts. De acordo com ele, a máquina estava parada há mais de 40 anos. Só existe um desse na nossa região, diz.
Jaime também restaurou um relógio da Eijsbouts, famosa fabrica holandesa de relógios de torre
Arquivo pessoal
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