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Quem é Hipólita Jacinta, a primeira mulher a fazer parte do Panteão da Inconfidência em Ouro Preto

G1 - com informações do G1

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Com informações do G1

29/04/2023 por Redação

Homenagem à inconfidente será realizada neste sábado (29), no Museu da Inconfidência. Panteão da Inconfidência
Museu da Inconfidência / Divulgação
Reconhecimento, ainda que tardio.
Cerca de 230 anos depois da Inconfidência Mineira, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo terá finalmente o reconhecimento merecido e negligenciado por livros, registros e documentos - não despropositadamente - que ignoraram a decisiva participação da destemida fazendeira mineira no movimento que queria libertar Minas Gerais da Coroa Portuguesa.
Hipólita será a primeira mulher a ter uma lápide no Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais.
Uma cerimônia de homenagem acontece neste sábado (29) no Museu da Inconfidência. O papel desempenhado por Hipólita na Conjuração Mineira, outro nome do movimento, também será debatido.
Para o diretor do museu, Alex Malheiros, o machismo estrutural está naturalizado nas concepções de mundo.
A gente não sabe como foi a Hipólita, a gente só tem uma pintura feita em 1965 pela Selma Weismann, uma mulher. Em 1997, a então procuradora de Minas, a Cármem Lúcia, pediu ao governador Itamar Franco para fazer uma homenagem com um Medalha da inconfidência póstuma. Depois disso, com a descoberta de documentos pela Cármem, a professora Heloisa Starling começou a pesquisar a história dela. Mais recententente, a Zélia Duncan fez músicas, entre elas uma que será apresentada pela primeira vez, no Panteão. Essa homenagem foi um trabalho que durou décadas e foi basicamente feito por mulheres, afirma o diretor do museu, Alex Malheiros.
Na cerimônia, estão previstas as participações da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia Antunes Rocha, da historiadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Heloísa Starling e das cantoras e compositoras Zélia Duncan e Ana Costa, que falarão sobre o tema Hipólita estava lá.
Os gregos falam que o esquecimento é pior que a morte. Ela sofreu talvez a repressão mais violenta, o protagonismo dela foi apagado. A luta mais difícil das mulheres é a luta política, até hoje, e ela fez isso no século 18. É claro que isso não aconteceu por acaso, pontua Heloisa.
No Panteão, será instalada uma lápide com o nome dela, mas não serão colocados os restos mortais de Hipólita, ninguém sabe onde foram sepultados - até isso lhe foi negligenciado. Mas os detalhes do que estará no lugar deles, a gente conta mais abaixo.
Durante a homenagem, também será colocado no espaço um estandarte concebido pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga e bordado por rendeiras mineiras.
Estandarte criado por Ronaldo Fraga
TV Globo
O museu está fazendo uma justa homenagem, mas também está inovando ao admitir o caráter machista que as estruturas, inclusive culturais, têm, mesmo tendo provas robustas da participação de uma mulher em um momento histórico importante, afirma Alex.
Quem foi Hipólita Jacinta Teixeira de Melo
Não existe descrição de sua fisionomia, nada que possa dar uma pista de como ela realmente era. O que existe são alguns estudos, como os da historiadora Heloisa Starling, que dão luz a quem foi colocada na sombra da história.
Hipólita imaginada por Selma Weismann, em ilustração do livro Independência do Brasil - as mulheres que estavam lá
Selma Weissmann
Nascida em Prados, no Campo das Vertentes, em 1748, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo foi a única mulher a participar de forma efetiva da conjuração mineira, o primeiro movimento anticolonial do Brasil.
Segundo levantamentos feitos pela historiadora, ela tinha personalidade forte, era destemida e intelectual. Ousou sair da vida doméstica e reivindicou seu lugar de fala no meio político, algo raro para mulheres na época.
Hipólita foi personagem de grande importância na Conjuração Mineira, ao colaborar para a comunicação entre os inconfidentes, além de financiar algumas das ações do movimento, já que detinha grande riqueza, e disponibilizar sua residência, a Fazenda Ponta do Morro, para encontros e reuniões dos mesmos, aponta a historiadora.
Hipólita foi quem escreveu e enviou a carta dando a notícia da prisão de Tiradentes, o mais conhecido dos inconfidentes. O texto também dava orientações para que os conjurados começassem o levante militar.
Quem foi Tiradentes? Dentista, comerciante, minerador, alferes e traído
A fazendeira também escreveu diversos avisos sigilosos, em que alertava os companheiros sobre o fracasso do movimento, e aconselhava o coronel Francisco de Paula Freire de Andrade a montar uma reação, lá a partir do Serro”. A mensagem terminava enfática:
“Quem não é capaz para as coisas, não se mete nelas, disse Hipólita na mensagem.
Apesar do esforço e disposição para resistir, dela e dos companheiros inconfidentes, a separação de Portugal não foi alcançada naquele momento.
A rebelião foi debelada e todos os líderes da conjuração foram presos, inclusive seu marido. Hipólita não foi presa, mas o governo das minas da época mandou apreender todos os seus bens. Esse fato mostra que o governo reconhecia a presença dela na Inconfidência, só não era dito em público. Afinal, uma mulher coordenar uma revolta desse porte, era inadmissível, humilhante, afirma Heloísa.
Vida de posses
Hipólita fazia parte da elite de Vila Rica, antiga Ouro Preto. Segundo os levantamentos de Heloísa, ela era filha de Clara Maria de Melo e de Pedro Teixeira de Carvalho, um grande fazendeiro da época.
Diferentemente da maioria das mulheres do século 18, não se casou nova. A união com Francisco Antônio de Oliveira Lopes aconteceu quando tinha 33 anos. O marido, que era oficial no Regimento de Cavalaria de Minas, deixou o posto para casar-se com Hipólita e virar fazendeiro.
As más línguas da época dizem que ele era tolo, mas, na verdade, acredita-se que essa característica lhe foi atribuída justamente por sua esposa ser quem foi, diz a professora.
De acordo com Heloísa, Hipólita não teve filhos, mas adotou o bebê recém-nascido da irmã mais nova da poetisa Bárbara Eliodora, chamada Maria Inácia. Bárbara e Hipólita eram amigas e teriam combinado a adoção para evitar um escândalo, já que a mãe era muito nova.
Ponta do Morro
A inconfidente possuía uma fazenda em Prados, a Ponta do Morro, onde tinha plantações, cultivava plantas que encontrava na mata e andava a cavalo.
Fazenda Ponta do Morro, onde Hipólita viveu
Arquivo pessoal
Como não foram encontrados seus restos mortais, a terra da fazenda que acolheu os inconfidentes, de onde decisões que definiram a história de Minas Gerais na luta pela Liberdade foram tomadas, será colocada embaixo da lápide de Hipólita, no Panteão dos Inconfidentes.
Equipe faz a retirada da terra que ficara em uma caixa sobre a lápide
Arquivo pessoal
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