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Onda de governos de esquerda na América do Sul chega ao Brasil? Entenda

Vitória de Gustavo Petro, na Colômbia, levandou o debate sobre o recrudescimento de governos ligados à esquerda no continente

Rastro101
Com informações do site O Tempo

21/06/2022 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoA Colômbia elegeu, no último final de semana, o economista e ex-combatente da guerrilha M-19, Gustavo Petro - o primeiro político de esquerda a comandar o país. A eleição teve uma diferença de pouco mais de 700 mil votos ante o segundo colocado, Rodolfo Hernández.

A opção dos colombianos segue uma série de vitórias em países da América do Sul, de candidatos ligados às pautas mais progressistas e que rechaçam propostas e discursos conservadores de representantes da chamada extrema direita. Antes de Petro, foram observadas outras vitórias no continente ligadas à esquerda.

O movimento de fortalecimento ocorreu ainda em 2019, com a vitória de Alberto Fernández, na Argentina. Posteriormente, foram eleitos Luis Arce, na Bolívia, Pedro Castillo, no Peru, e Gabriel Boric, no Chile.

O momento remete à história do início dos anos 2000, quando os países sul-americanos experimentaram a chamada ‘Onda Rosa’, com o predomínio de governos de esquerda capitaneados por triunfos de políticos como Hugo Chávez, na Venezuela, e Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil. 

Mas há margem para novo fenômeno do tipo agora? Segundo o professor de Ciência Política da UFMG Lucas Pereira Rezende, o pleito eleitoral no Brasil é que vai confirmar se a América do Sul observa, novamente, uma onda de governos alinhados à esquerda.

“Eu não tenho dúvidas de que, aparentemente, essa onda ultra conservadora está sofrendo um revés e que os governos progressistas estão novamente crescendo. Mas, se estamos vivendo uma nova onda rosa, vamos saber a partir da eleição no Brasil em outubro, uma vez que o Brasil é uma potência unipolar na América do Sul e a dinâmica aqui acaba influenciando muito outros países”, opina. 

Atualmente, Paraguai, Uruguai e Equador são as nações do continente cujos presidentes são mais ligados à direita e à centro-direita, mas com pleitos marcados para os próximos anos. “O que já temos experimentado é que o ápice da curva da extrema direita esteja diminuindo um pouco. Não quer dizer que esteja totalmente frágil, ou perdendo força, porque os movimentos que surgiram nos últimos anos continuam fortes e continuarão assim nas próximas décadas”, opina Rezende.

Na avaliação do professor de Direito da PUC Minas e da UFMG José Luiz Quadros pesa contra os governos ligados à direita a piora nos indicadores de desigualdade e o baixo crescimento econômico observado no período em que políticos desta ala governaram os países. No Brasil, por exemplo, levantamento da Rede Penssan indica 33 milhões de pessoas passando fome, número que levou o país a retroceder à década de 90. 

Na Argentina, durante o governo Macri, dados do governo portenho indicam que a pobreza cresceu quase 5% no país entre 2016 e 2019. “O que temos de resultado certo é um aumento expressivo da desigualdade, desemprego, fome. As populações de rua crescendo assustadoramente. Os governos liberais fracassaram feio na América Latina”, sustenta o docente.

Ele cita a pandemia da Covid-19 como um catalisador de problemas para governos ligados à direita, por princípios básicos de reduzir a participação do estado na vida da população. “Os países que nesse período pós pandemia estão crescendo com segurança e estabilidade são os países com estados fortes e políticas de acesso à saúde pública, educação, com uma presença muito forte do estado na economia”, observou Quadros que indica, como exemplos, a Alemanha, Noruega e Finlândia.

Para o docente, todos os candidatos progressistas que estão sendo eleitos não só na América do Sul, mas na América Central, como no México e em Honduras, têm pontos importantes em comum. “São governos que buscam a conciliação, construção do diálogo, defesa da paz, do amor. O próprio discurso do presidente eleito da Colômbia veio neste sentido, indicando uma busca por unidade”, afirmou o professor. 

E no Brasil? 

Com as eleições presidenciais batendo à porta, o Brasil pode, se confirmada as previsões das pesquisas eleitorais, seguir o caminho dos países vizinhos e voltar a ser governado por um político ligado à esquerda. Considerando só o cenário em Minas Gerais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as intenções de voto com 44,4%, ante 29,9% do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), conforme indicou pesquisa Datatempo divulgada em 9 de maio pelo Jornal O TEMPO. 

Em terceiro lugar nas preferências da população ainda aparece Ciro Gomes (PDT) que reúne 4,55% das opiniões. “O Lula sempre foi muito pragmático e, por mais que digam, os dois governos não foram de esquerda, mas de centro-esquerda, inclusive no sentido de alianças. E há forças políticas de centro-direita que sim estão dialogando com Lula novamente e para a definição do pleito presidencial em primeiro turno vai depender muito da aproximação do Lula com a centro-direita democrática que não é essa direita com traços fascistas que a gente experimenta desde a eleição de Jair Bolsonaro”, diz Lucas Rezende. 

Para o especialista, a aliança com Geraldo Alckmin e a busca de apoio em partidos como o PSD evidenciam a busca do petista em aglutinar forças fora da esquerda tradicional, além de indicar, caso eleito, um terceiro governo atento às pautas de ambos os espectros. A avaliação é a mesma de José Luiz Quadros.

“É uma grande aliança entre a direita democrática, representada pelo Alckmin. Sendo eleito, o governo vai ser centro e com alianças que vão unir interesses da centro-direita democrática à esquerda democrática e à centro-esquerda”, analisa. 

No entendimento do analista de Inteligência Qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas, Leonardo Paz, a avaliação popular sobre o governo Bolsonaro também é fator que pode influenciar o debate eleitoral em favor dos candidatos à esquerda.

O presidente atual lida com uma questão do desemprego muito forte, como lida com a própria pandemia e a situação da inflação que acomete o Brasil e todos os outros países, mas aqui de maneira muito dura”, justifica. 

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