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Saiba o que motiva os jovens a tirar o título de eleitor para votar em outubro

Inflação alta, desemprego e a necessidade de mais investimentos em educação estão entre os incentivos para que jovens de 16 a 18 anos queiram votar

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Com informações do site O Tempo

08/05/2022 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoCaio Machado Teixeira, de 17 anos, está preocupado com a carestia da vida no Brasil. Jéssica Hellen da Cruz, de 16 anos, quer mais investimentos na educação e na ciência do país. Isabel Silva Gonçalves, de 17 anos, vê na participação política dos jovens a chance de transformação. Bárbara Borges, de 18 anos, acredita na política como um meio de melhorar a vida das pessoas. Letícia Gomes, de 17 anos, aposta nas eleições para mudar o cenário político do Brasil.

Esses cinco jovens já tiraram o título de eleitor e estão decididos a votar em outubro. Eles são estudantes do 3º ano do Centro de Ensino Médio 2 do Gama (DF), cidade satélite localizada a pouco mais de 34 quilômetros de distância do centro da capital federal.

Na última segunda-feira (2), a escola deles recebeu técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que apresentaram a aproximadamente 300 estudantes, a maioria do 3º ano, o funcionamento e história da urna eletrônica, além de esclarecer dúvidas. A reportagem de O TEMPO acompanhou esse evento e conversou com os estudantes.

Ao fim da palestra, era nítida nas expressões desses jovens a empolgação para participar do processo de escolha de quem vai representá-los pelos próximos quatro anos no Palácio do Planalto e no Congresso Nacional.

Eu já tirei o título e penso em votar. Penso muito nesse negócio de que a votação é importante. Não pesquiso muito sobre política, mas vejo como a situação do país está”, relata Caio e completa: “Se continuar do jeito que tá, não vai dar pra eu viver daqui um tempo, porque bem na minha vez de ser adulto tá tudo muito caro, a gasolina daqui a pouco tá R$ 10, o arroz tá R$ 25. Então todo voto conta, todo voto é importante, porque não vai ser nenhum pouco fácil se continuar desse jeito. Vejo no voto uma forma de mudar isso.

A apreensão de Caio sobre o futuro tem respaldo em dois índices alarmantes: o da inflação e o do desemprego entre pessoas na mesma faixa etária de Caio, que está perto de concluir o ensino médio.

No primeiro caso, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) bateu 11,3% no acumulado em 12 meses até março. Isso representa sete meses seguidos com a inflação anual acima dos dois dígitos.

Além disso, o relatório divulgado na última quarta-feira (4) pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que a inflação no Brasil é a maior do G20 – o grupo dos países mais ricos –, atrás apenas da Turquia e da Argentina.

Quanto à taxa de desemprego, está em 20% para aqueles que têm entre 18 e 24 anos, o que representa dois jovens brasileiros sem trabalho a cada 10 jovens. 

As condições de trabalho e renda também são preocupações destacadas por Bárbara. Pra gente ter uma renda melhor e uma estrutura melhor, é importante a gente se esforçar, porque o voto tem impacto não só no meu futuro, mas no de todo mundo.” 

De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Economia em março deste ano, a crise do desemprego ainda é mais grave quando o jovem é mulher e tem pouca qualificação profissional.

Crítica do governo de Jair Bolsonaro (PL), Bárbara ressalta que a política não está sendo praticada como deveria. “A política é importante pra tentar ajudar a todos o máximo possível, mas nesse governo atual acho que tá precário nessa parte, não está fazendo um bom serviço.” 

Letícia, por sua vez, destaca que os estudantes do colégio do Gama estão engajados e conscientes da relevância da votação para mudar o cenário político que ela considera “degradado”. Nossa escola sabe da importância do voto, da origem e o que é necessário para votar neste ano. É muito importante que o jovem vote, porque o nosso cenário político está muito degradado. Pra mudar isso a gente tem que fazer alguma coisa e tem que votar. Falar, falar e não fazer nada para mudar não adianta, cada um tem que fazer sua parte.”

Por trás dessa conscientização dos estudantes do CEM 2 do Gama está a atitude de alunas lideradas por Isabel, que desde janeiro vão de sala em sala para informar os colegas sobre o processo eleitoral e sobre como tirar o título de eleitor. Essa iniciativa chamou a atenção do TSE, que foi até a escola para dar reforço.

O jovem traz muita transformação, e essa transformação é duradoura, de longo prazo. Então a gente tem que incentivar o engajamento do jovem na política pra que as futuras gerações transformem a realidade que a gente vive, que está precisando de mudança. Nós temos essa necessidade de mudança muito grande”, avalia Isabel.

Acompanhando essa percepção da colega, Jéssica Hellen, que participou do projeto de conscientização do voto com Isabel, acrescenta o dever dos eleitores de estudar bem cada candidato antes de escolher em quem votar. 

Muita gente vota sem estudar o candidato. A gente fez a palestra pra conscientizar as pessoas a estudar o candidato. São quatro anos governando o país, pode mudar para o bem ou para muito ruim, por isso é importante estudar antes de votar”, enfatizou a estudante, que garante votar em quem apoiar as causas que ela defende, como investimento em educação. 

“A gente viu no cenário da pandemia o tanto que a ciência foi importante, por isso é necessário investir na educação do Brasil para informar a todos e fazer a conscientização”, diz Jéssica Hellen.

“É de extrema importância a participação do jovem, porque uma hora ou outra a gente vai ter que votar obrigatoriamente, então é importante o quanto antes se informar, estudar os partidos, acompanhar a política, porque querendo ou não faz parte do nosso cotidiano”, completa a jovem.

Brasil ganhou mais de 2 milhões de eleitores de 16 a 18 anos

Esses estudantes estão entre os mais de dois milhões de eleitores com idades entre 16 e 18 anos que o Brasil ganhou entre janeiro e abril deste ano, segundo revelou o presidente do TSE, Edson Fachin, na última quinta-feira (5). 

De acordo com Fachin, esse número de novos eleitores nessa faixa etária cresceu 47,2% quando comparado com o mesmo período de 2018 e mais de 57% em relação aos quatro primeiros meses de 2014. 

Na avaliação de especialistas consultados pela reportagem de O TEMPO, esse alto índice de jovens interessados em participar do processo eleitoral foi alavancado pela campanha iniciada pelo TSE em fevereiro e amplificada por artistas, políticos e celebridades. 

“Os candidatos interessados em captar esse eleitorado mais jovem precisam convencê-los a tirar o título de eleitor e participar do pleito de outubro. Numa eleição tão polarizada, esse eleitorado pode ser importante”, nota Amanda Vitoria Lopes, cientista política e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), especialista em eleições e na relação entre Executivo e Legislativo.

A Corte Eleitoral identificou naquele mês o menor nível de participação de adolescentes das últimas três décadas. Para se ter uma ideia, em dezembro de 2021, havia 630 mil adolescentes nessa faixa etária aptos para votar.

Por isso, o TSE criou o canal “Olha o barulhinho”, com estética voltada para esse público, buscando incentivar a emissão do título de eleitor. Essa mobilização contou com publicações nas redes sociais de artistas como Anitta, Whindersson Nunes, Bruna Marquezine e a ex-BBB Juliette.

A campanha foi reforçada ainda por celebridades internacionais que fizeram publicações em português e inglês, como Mark Ruffalo, que interpreta o super-herói Hulk, da Marvel Mark Hamill, que interpreta o protagonista da saga Star Wars, Luke Skywalker e o astro Leonardo di Caprio, dos filmes Titanic, O Lobo de Wall Street, Django, A Origem e O Regresso.

“O que estamos vendo neste ano, sobretudo nos meses de março e abril, foi que a campanha do TSE foi bem-sucedida, pois conseguiu um engajamento espontâneo da classe artística. Esses artistas utilizaram sua capacidade de mobilização para estimular o voto dos jovens”, observa Lopes.

Diferença geracional é considerada pelas campanhas dos líderes das pesquisas

De acordo com a especialista, existe uma diferença geracional entre os presidenciáveis que lideram as pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro. Essa diferença é ilustrada pela pesquisa Datafolha de fins de março, que apontou a preferência de 51% dos jovens entre 15 e 24 anos pelo ex-presidente petista.

Bolsonaro aparece com 22% da preferência nessa faixa etária. Em contraste, 29% de quem tem mais de 45 anos prefere o atual presidente da República. Ciro Gomes (PDT), por sua vez, é apoiado por 6% dos jovens.

Outro exemplo dessa diferença geracional foi a campanha mobilizada por bolsonaristas, com destaque para a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), chamada de “Voto Veterano”, que convocava as pessoas com mais de 60 anos para ir às urnas em outubro (veja a publicação da deputada na galeria de fotos).

Como mostraram os números do TSE, a campanha pelo voto dos “60+”, no entanto, não alcançou o mesmo nível de engajamento da população quando comparada ao voto de quem tem entre 16 e 18 anos. 

Buscando conquistar esses novos eleitores, os presidenciáveis reformularam a linguagem, formato e estética da campanha nas redes sociais, usando principalmente memes, interação com opositores e meios atrativos para esse público, como reacts e jogos de videogame. 

Apesar dessa mudança de abordagem, na avaliação de João Villaverde, cientista político, professor e pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da FGV-SP, Bolsonaro ainda está em desvantagem entre os adolescentes.

De modo geral, o eleitorado mais jovem é menos conservador e menos suscetível à pauta extremamente conservadora que Bolsonaro representa. Por ser conservador, Bolsonaro, de modo geral, sensibiliza homens e mulheres mais velhos”, observa o cientista político.

Para Bolsonaro, engajar o voto dos jovens é a última alternativa. Visto que há uma mobilização pelo voto dos jovens de 16 e 17 anos, o que resta é tentar fazer com que uma parcela desse grupo vote em Bolsonaro”, conclui o especialista.

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