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Morre Letizia Battaglia, fotógrafa que registrou a máfia da Sicília

Artista foi pioniera no noticiário policial e dizia ter tirado mais de 600 mil fotos entre as décadas de 1970 e 1990

Rastro101
Com informações do site O Tempo

14/04/2022 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoLetizia Battaglia, icônica fotojornalista italiana que ficou conhecida por registrar a máfia siciliana por décadas, morreu nesta quarta-feira (13) aos 87 anos. A informação foi divulgada pelo prefeito de Palermo, capital da região da Sicília, Leoluca Orlando, em postagem no Twitter.

Palermo perde uma mulher extraordinária, um ponto de referência. Letizia Battaglia foi um símbolo reconhecido internacionalmente no mundo da arte, uma bandeira no caminho da libertação da cidade de Palermo do governo da máfia, escreveu.

A causa da morte não foi revelada, mas Patrizia Stagnitta, filha da fotógrafa, disse à agência Ansa que a mãe estava doente há algum tempo e usava cadeira de rodas para se locomover.

Apesar do sofrimento da doença e das dificuldades de locomoção ela continuou tendo muitos contatos, participando de reuniões até no exterior e até mesmo enfrentando longas viagens, disse. A grande vontade de viver nunca tinha passado. Conta ainda que até a manhã desta quarta estava lúcida, mas teve um mal súbito antes de morrer.

Battaglia nasceu em Palermo, em março de 1935, e fez da Sicília a personagem principal de seus cliques. Pioneira na cobertura do noticiário policial, ficou célebre pelos retratos de décadas de crime da Cosa Nostra, a máfia local, ao longo das décadas de 1970 e 1980.

Estávamos em guerra e eu era uma mulher com uma câmera no pescoço que devia e queria documentar tudo aquilo que acontecia para denunciar para o mundo inteiro, contou Battaglia à Folha em 2019, quando 90 fotografias suas formaram uma mostra no Instituto Moreira Salles.

Assassinatos, bombas, tráfico de drogas, corrupção política e social, diz Battaglia, preenchiam seus dias como fotógrafa do jornal de esquerda LOra, para o qual trabalhou entre 1974 e 1990. O periódico denunciava as atividades dos mafiosos e suas ligações com a política local.

Battaglia afirmou se orgulhar de ter sido a única mulher a trabalhar em um jornal italiano na época e disse ter tirado cerca de 600 mil fotos. Eu sofri violência física, ameaças, recebi cartas anônimas e intimidações telefônicas. Claro, eu sempre tive medo. Mas passava a porta de casa e ia fotografar, lembrou, completando que só tomou consciência da crueldade das atividades da máfia com o passar do tempo.

Já entre o final da década de 1980 e 1990, ingressou na política e tornou-se secretária de cultura pelo Partido Verde.

Ainda conquistou prêmios na área de fotografia, tais como Erich-Salomon Preis, em 2007, e o Cornell Capa Infinity Award, em 2009. Entre suas conquistas mais recentes, criou um Centro Internacional de Fotografia em Palermo em 2016, onde é abrigado o arquivo fotográfico da cidade e são promovidas exposições e oficinas. (Folhapress)

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