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Evasão escolar cresce 128% entre as crianças de 5 a 9 anos

Crise sanitária ampliou uma situação que já vinha piorando nos últimos anos, avalia professora

Rastro101
Com informações do site O Tempo

07/02/2022 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoCom a pandemia, o Brasil voltou a ter o mesmo nível de evasão escolar de 14 anos atrás, e as crianças de 5 a 9 anos foram as que mais ficaram longe do aprendizado. De acordo com um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o abandono escolar foi maior entre os estudantes do início do ensino fundamental, que durante o isolamento social estiveram mais afastados dos estudos e retornaram menos quando as aulas presenciais foram retomadas. 

O levantamento revelou que houve um aumento da taxa de evasão escolar na faixa de 5 a 9 anos de 1,41% para 5,51% entre os últimos trimestres de 2019 e 2020. Já no terceiro trimestre de 2021, a taxa de evasão passou a ser de 4,25%, cerca de 128% mais alta que o observado no mesmo trimestre de 2019. Já para o segundo ciclo do ensino fundamental (de 10 a 14 anos), não houve mudanças nos indicadores. 

E o problema não estava apenas nas questões enfrentadas pelas famílias durante o isolamento social devido à pandemia, mas também nas metodologias assumidas pelas redes públicas de ensino para manter o vínculo entre escola e alunos, segundo o estudo. Enquanto 12% dos estudantes de 6 a 15 anos não receberam materiais dos gestores educacionais e professores, apenas 2,7% não utilizaram os materiais que receberam por alguma razão pessoal ou familiar. 

Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Analise de Jesus da Silva explica que a pandemia não criou um novo problema, mas ampliou uma situação que já vinha piorando nos últimos anos, devido aos baixos investimentos públicos no setor. 
Segundo ela, o abandono das crianças está diretamente ligado à ampliação da pobreza. Para milhões de famílias, a prioridade máxima passou a ser a comida na mesa. 

“A situação já estava ruim, mas em 2019 não tínhamos 622 mil mortos por Covid-19, não tínhamos o mesmo cenário de fome que o país tem hoje. Quem tem algum dinheiro está comprando osso e pele de frango para se alimentar. Quem não tem nada está pedindo dinheiro nos semáforos. Hoje vemos nas portas das padarias e supermercados famílias inteiras pedindo algo para comer”, afirma. 

A professora da UFMG lembra que as famílias mais pobres foram impactadas no ensino remoto e a educação pública não tem dado conta de verificar o real aprendizado desses alunos no período em que não era possível um contato presencial. 

“Se a mãe diarista saía para trabalhar, levava com ela o celular e, com isso, o filho não tinha como acompanhar as tarefas escolares. Se você for olhar a ficha dele, está escrito que tem acesso a celular, mas o aparelho não é dele”, argumenta a professora. 

Futuro. Para que esse cenário seja reversível e as famílias voltem a se sentir seguras para enviar os filhos para as escolas, Analise acredita que o país deverá fazer grandes investimentos para garantir os direitos básicos indicados pela Constituição e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 

“Não é algo que a gente ainda vai colocar no papel. Temos é que garantir que os alunos possam se alimentar, tenham onde morar, possam brincar e viver em segurança”, destaca Analise. 

Agravamento evidencia as desigualdades na educação

A análise também evidenciou as grandes diferenças entre as redes de ensino pública e privada. Enquanto os alunos de 15 a 17 anos de escolas particulares tinham, em média, 3 horas e 28 minutos de aula por dia em 2020, os adolescentes da rede pública tinham 2 horas e 28 minutos, em média. E para os alunos beneficiados pelo Bolsa Família a situação foi ainda pior: média de 2 horas e 5 minutos. 

“Há um agravamento nas desigualdades de educação no Brasil, invertendo a tendência prévia ao crescimento e à equidade na acumulação de capital humano. Os alunos das séries iniciais que tinham obtido os maiores avanços escolares nas quatro últimas décadas foram os mais penalizados durante a pandemia”, afirma o estudo.

Perdas são irrecuperáveis

As perdas de aprendizagem ao longo da pandemia do novo coronavírus são consideradas irrecuperáveis para 43% dos brasileiros, de acordo com pesquisa realizada pelo Datafolha entre novembro e dezembro de 2021, com 2.070 entrevistados em 129 diferentes municípios, em todo o Brasil. Entre as mulheres, o índice é de 47%, enquanto entre pais e mães a taxa ficou em 48%. 

Os entrevistados disseram ainda que os itens mais importantes em relação ao papel da educação na vida de uma pessoa são: ter mais conhecimento (25%), conseguir um emprego (21%) e ser respeitado na sociedade (16%). 
Mas a pesquisa indicou ainda uma visão pessimista sobre a área para boa parte dos entrevistados: para 47% deles, houve redução da importância da educação nesse período.

Taxa de evasão escolar por faixas etárias (média móvel)  

De 5 a 9 anos:  

Ano (primeiro trimestre) / Taxa de evasão (em %) 

2013 / 3,57  

2014 / 3,31  

2015 / 2,83   

2016 / 2,58  

2017 / 2,02  

2018 / 1,68  

2019 / 1,47  

2020 / 1,39  

2021 / 4,87  

 
De 10 a 14 anos:  

Ano (primeiro trimestre) / Taxa de evasão (em %)  

2013 / 1,84  

2014 / 1,80  

2015/ 1,69  

2016 / 1,36  

2017 / 1,07  

2018 / 0,96 

2019 / 0,93  

2020 / 0,81  

2021 / 0,81  

Fonte: FGV Social

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Educação

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