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Veja o que se sabe sobre a morte do congolês Moïse Kabagambe

De acordo com laudo do IML, foram as pancadas que provocaram o traumatismo no tórax, com contusão pulmonar, que causou a morte de Moïse

Rastro101
Com informações do site O Tempo

04/02/2022 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoO congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, espancado e morto aos 24 anos em um quiosque no Rio de Janeiro, foi alvo de 39 pauladas de taco de beisebol, tendo ficado imóvel a partir da 36ª, quando estava imobilizado por uma chave de perna.

De acordo com laudo do IML (Instituto Médico Legal), foram as pancadas que provocaram o traumatismo no tórax, com contusão pulmonar, que causou a morte de Moïse.

Três suspeitos foram presos após confessarem à polícia a autoria do crime. Eles afirmaram que foram intervir para proteger um colega, funcionário do quiosque Tropicália. Um deles justificou a agressividade que levou ao homicídio à raiva que estava sentido pelo fato, segundo disse, de a vítima estar incomodando clientes e trabalhadores da orla há dois dias.
Aleson Fonseca, 27, Brendon da Silva, 21, e Fábio Pirineus da Silva, 41, foram presos temporariamente por 30 dias na terça-feira (1º).

Veja o que já se sabe sobre o crime

Qual foi o motivo do início da briga?
As imagens do quiosque Tropicália mostram Moïse discutindo com um funcionário do local. O congolês, em determinado momento, abre um freezer, o que aumenta a confusão.

De acordo com esse funcionário, Moïse estava bêbado e queria pegar cerveja de graça, o que originou a discussão entre os dois. A mesma versão foi dada por Aleson Fonseca, um dos suspeitos do crime.
Os três suspeitos trabalham em quiosques e barracas da praia da Barra da Tijuca. Eles afirmaram que foram proteger o funcionário do Tropicália e iniciaram as agressões.

Familiares do congolês disseram à imprensa que ele foi cobrar uma dívida no quiosque. Contudo, esse tema não é mencionado em nenhum depoimento dado à polícia, nem mesmo nas falas dos parentes da vítima.
A polícia ainda investiga para esclarecer a motivação do crime. Não há indícios, até o momento, de um mandante do homicídio.

Desde quando Moïse estava no Brasil, por que veio e o que fazia?
Moïse aterrissou no Brasil em 2011, aos 13 anos, junto com 3 dos seus 11 irmãos. Veio como refugiado da República Democrática do Congo, onde o pai é político (hoje trabalha na diplomacia, segundo a família).
O jovem cursou até a segunda série do ensino médio e desde então fazia bicos em restaurantes, lanchonetes, quiosques e na praia.
Vivia entre Madureira, na casa da mãe, que conseguiu vir quando ele ainda era adolescente, e a casa de amigos e primos em Barros Filho e Braz de Pina (todos na zona norte do Rio).

Como Moïse morreu?
O congolês foi imobilizado por Brendon, que aparece nas imagens com uma camisa do time inglês Manchester United, e agredido com taco de beisebol por Fábio e Aleson, vestidos, respectivamente, com uma camisa preta e amarela e do Flamengo. Moïse levou no total 39 pauladas.
De acordo com laudo do IML (Instituto Médico Legal), a causa da morte foi traumatismo no tórax com contusão pulmonar provocado por uma ação contundente.

Nas imagens, é possível ver que Moïse tentou resistir à imobilização de Brendon por seis minutos, período no qual Fábio lhe desferiu 35 pauladas.

O congolês para de se mexer logo após o primeiro dos quatro golpes que Aleson lhe desfere com o taco de beisebol nas costas, enquanto Brendon lhe aplica uma chave de perna.

Moïse fica imóvel por quatro minutos. Depois desse intervalo, Brendon desfaz a imobilização e amarra a vítima, com ajuda de Fábio.
O congolês fica amarrado por dez minutos. Só cinco minutos depois de soltá-lo, Fábio nota que a vítima está morta e inicia massagem cardíaca para tentar reanimá-lo.

Quando a polícia chegou?
De acordo com o inquérito, dois policiais militares se aproximaram ao verem Moïse sendo atendido por médicos do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência).

Uma testemunha relatou à Polícia Civil ter chamado dois guardas municipais durante as agressões, mas teve o pedido ignorado.
Em nota, a corporação disse que não recebeu notificação em relação ao testemunho relatado, mas enviará um ofício à Polícia Civil solicitando mais detalhes sobre a possível citação.

Por que os agressores não foram presos em flagrante?
De acordo com testemunhas, dois dos três agressores deixaram a cena do crime antes da chegada da polícia. O único que permaneceu no local foi ​Aleson, segundo os depoimentos.

À polícia, Aleson disse ter ido embora pouco depois da chegada da Polícia Civil. Uma outra testemunha confirmou o relato e declarou ter ouvido do suspeito: Fiz merda. Vou embora.

Além disso, o funcionário do quiosque Tropicália que discutiu com Moïse mentiu em seu primeiro depoimento. Ele disse que não conhecia nem a vítima nem os agressores, o que dificultou a identificação imediata dos envolvidos.

Ele retificou o depoimento uma semana depois, após o caso ganhar repercussão, e confirmou a identidade dos suspeitos.

Por que o funcionário do quiosque Tropicália mentiu em seu primeiro depoimento? Ele foi punido por isso?
Ele disse à polícia em seu segundo depoimento que estava em estado de choque com o que havia ocorrido e temia represálias. Mentir à polícia pode levar ao indiciamento por falso testemunho, caso o depoente não seja investigado ou envolvido no fato.

Essa pessoa ainda não foi indiciada pelo crime. O inquérito segue em curso e será avaliado se houve ou não crime nesse ponto.

Por que a polícia demorou três dias para notificar o dono do quiosque onde Moïse foi morto?
Não está clara a razão da demora. A Polícia Civil afirmou que as informações serão esclarecidas durante a investigação, que está em andamento e segue sob sigilo.

Quando a polícia teve acesso às imagens do quiosque?
Não há informações no inquérito sobre quando elas foram obtidas. Não há qualquer auto de apreensão do material no processo que autorizou as prisões.​

O depoimento do dono do quiosque indica que ele só foi procurado no dia 28, quando foi intimado a depor.

Ele disse à polícia que foi abordado por parentes de Moïse no dia seguinte ao crime. Relatou ainda, à polícia, ter explicado a eles que já tinha solicitado o técnico responsável pelas câmeras, para que pudesse pegar as imagens, bem como informou que aguardava ser solicitado pela polícia.
Na mesma semana, policiais civis se apresentaram no quiosque solicitando as imagens, o que foi atendido prontamente pelo declarante, disse o documento da polícia.

Como os agressores foram identificados?
Aleson se apresentou numa delegacia quando o caso ganhou repercussão. Ele e o funcionário do Tropicália que testemunhou as agressões indicaram o nome dos outros dois suspeitos, que foram conduzidos à polícia.

O que dizem os agressores?
Os agressores afirmam que conheciam Moïse, que trabalhava em quiosques e barracas na praia. Eles disseram à polícia que, nos últimos dois dias, o congolês vinha tendo um comportamento agressivo, sempre embriagado e incomodando clientes e colegas de trabalho na praia.

A confusão que antecedeu o crime, portanto, seria mais um episódio de uma sequência deles, afirmam os suspeitos.

Brendon afirmou na polícia que apenas segurou Moïse, sem tê-lo estrangulado. Portanto, tem a consciência tranquila, afirmou ele, segundo o termo de depoimento do inquérito.

Aleson afirmou aos agentes que resolveu extravasar a raiva que estava sentindo de Moïse ao iniciar as agressões contra o congolês e desferir as pauladas contra as suas costas.

Ele disse também que procurou a Defensoria Pública no dia seguinte ao crime, antes da repercussão do caso, para se apresentar à polícia. O suspeito alegou ter sido orientado a retornar para casa porque não havia nada em seu desfavor.

O órgão declarou que nenhum defensor foi procurado por Aleson e não têm conhecimento de que ele tenha sido atendido por qualquer servidor.
Fábio disse na delegacia que se arrepende de ter batido em Moïse.
A reportagem não localizou seus advogados para comentar o caso.

Houve intimidação da família por PMs?
A família do congolês diz que se sentiu intimidada pela atitude de dois policiais militares que, segundo os parentes, compareceram ao estabelecimento três vezes desde o crime.

De acordo com os familiares, a primeira vez foi na própria noite das agressões, em 24 de janeiro. A segunda, no dia seguinte ao crime, quando parentes de Moïse foram ao quiosque tentar esclarecer o que havia acontecido.

Conforme a família da vítima, os policiais pediram documentos do grupo e fizeram perguntas sobre o que havia acontecido, mesmo supostamente já tendo estado no local no dia anterior.

Quatro dias depois, no sábado (29), a mesma dupla apareceu durante um protesto em frente ao quiosque, embora já houvesse policiais do programa Segurança Presente acompanhando o ato. Até então, o caso não havia ganhado tanta repercussão.

Nesse dia, de acordo com os relatos, os agentes voltaram a pedir documentos e a fazer perguntas sobre o que havia acontecido e o que o grupo fazia ali.

Procurada na tarde de quarta (2) para comentar a situação, a Polícia Militar afirmou que todas as questões pertinentes ao caso estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital.

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