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Uso de cânabis medicinal no Brasil aumenta quase 300%

Número de permissões concedidas pela Anvisa passou de 8.500 em 2019 para 33,7 mil em 2021

Rastro101
Com informações do site O Tempo

06/12/2021 por Redação

Divulgação/O TempoDivulgação/O TempoPor muito tempo, a dona de casa Cirlei Nunes, de 52 anos, chegou a utilizar até nove medicamentos para o tratamento do quadro de paralisia cerebral do filho, Pedro Samuel. O adolescente, hoje com 13 anos, enfrenta quadros de convulsão desde que nasceu. Além de não diminuirem a frequência ou a intensidade das crises, os fármacos ainda resultavam em inúmeros efeitos colaterais, como dificuldade de controle dos movimentos e do intestino.

Uma das soluções encontradas por Cirlei para avançar no tratamento do filho foi buscar uma prescrição médica e autorização para importar medicamentos à base de cânabis. O método, inclusive, é hoje a alternativa para quem deseja iniciar tratamento deste tipo no Brasil. Nos últimos dois anos, houve um aumento de quase 300% no número de permissões concedidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), saindo do patamar de 8.500, em 2019, para 33,7 mil autorizações até a primeira quinzena de 2021. 

“De todos os remédios, nenhum fez efeito como esse. Já faz oito anos de uso, e desde então ele não internou mais, e as crises convulsivas, que antes ele tinha 40 por dia, hoje são mais leves e raras”, conta a dona de casa, que conseguiu a permissão para uso de canabidiol (CBD), uma espécie de óleo concentrado. O resultado obtido por ela também foi alcançado pela jornalista Mariana Rosa e a filha Alice, hoje com 8 anos. 

A criança, que tem epilepsia e sofre com convulsões, também utiliza o canabidiol, após um período ingerindo cerca de 11 fármacos diferentes. “Antes chegava a ter quase 70 convulsões por dia”, contou. Além do controle das crises convulsivas, Alice ganhou qualidade de vida e eliminou o uso de oito remédios controlados. 

Médico especializado em medicina preventiva e social pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo Fleury acredita que os resultados apresentados no tratamento de Alice e Pedro Samuel são apenas mais exemplos dos benefícios dos produtos canabinoides. Fleury considera que medicamentos tradicionais utilizados em pacientes com quadros crônicos podem ser ainda mais nocivos ao organismo. 

“Todos os recursos terapêuticos têm seus riscos. Mas os canabinoides são mais seguros e podem representar reações menos intensas”, avalia. O médico destaca que, atualmente, os produtos feitos à base da cânabis podem ser utilizados também em quadros de ansiedade e depressão, distúrbios neuropsiquiátricos, autismo, Alzheimer, esquizofrenia, bipolaridade, dores crônicas, fibromialgias, câncer e dependência química.

Alto custo é barreira para o tratamento

Apesar dos benefícios, o uso de produtos canabinoides têm alto custo para as famílias, principalmente em um momento de alta do dólar. Mariana Rosa disse que, até 2019, gastava cerca de R$ 700 por mês e hoje os custos com importação chegam a R$ 1.500. “No Brasil é um tema ainda muito marginalizado, mas a regulamentação para produção precisa acontecer para que se torne acessível à população de baixa renda”, opina Mariana.

Cirlei Nunes contou que, em um ano, chega a desembolsar R$ 60 mil com a compra dos medicamentos. “Já fiz rifa e precisei pedir ajuda para familiares e amigos”, lamenta.

Um cozinheiro de BH, de 27 anos, que preferiu não se identificar, faz uso do canabidiol como terapia ao diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Só em uma consulta para conseguir a prescrição do medicamento, ele gastou R$ 800. “O óleo indicado para o meu caso tem um custo de até R$ 5,5 mil por mês. Eu tenho autorização da Anvisa, mas com o preço eu busco uma opção mais barata de R$ 650 com a mesma eficácia”. No Brasil, as regras para a importação da cânabis foram regulamentadas pela Resolução 335/2020.

Economia - Bilhões. Estudo da Kaya Mind diz que a regulamentação da cânabis no Brasil poderia gerar 117 mil empregos e movimentar R$ 26,1 bilhões em quatro anos no país.

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